Já era noite, minhas mãos estavam ficando doloridas por causa do frio, mas por falta do que fazer e sem vontade de dormir e encarar o dia de aula que viria amanhã eu continuei desenhando.
O som seco de batida chamou minha atenção. Na minha janela, Will estava acenando. Larguei o lápis na mesa e abri a janela com mais curiosidade do que cuidado.
– Como você... – ele estava numa escada.
– Vamos, eu vou te levar num lugar.
– Agora? – eu não tinha certeza que horas eram, mas sabia que era tarde.
– Pegue seu casaco horroroso e vamos! – peguei meu casaco e vesti minhas botas. Will me ajudou a descer a escada. Passamos cautelosos pelo portão, evitando fazer barulho.
Quando alcançamos a rua, corremos como que para nos certificar de não sermos descobertos e a sensação foi incrível. A noite estava fria, e conforme corríamos o vento penetrava através das mangas da blusa, mas a sensação era refrescante. Ainda que parecesse contraditório, quanto mais corríamos, mais vento, mas também mais aquecida eu me sentia. Will segurou minha mão me fazendo correr mais rápido para acompanha-lo.
– Poderíamos voar desse jeito! – Falei sem pensar, mas Will pareceu entender as palavras de uma forma diferente e desacelerou a corrida até parar. Eu não queria soltar sua mão, mas não havia mais um motivo para ficar segurando então eu soltei.
– Eu falei alguma coisa... – desejei não ter dito o que disse, desejei não ter estragado tudo.
– Esquece Amber! – não dava para esquecer, ele parecia ter recebido um banho de água fria.
– Me desculpa eu falei sem pensar! – eu queria me desculpar, mas isso parecia só deixar tudo pior.
– Está tudo bem, só que ninguém vai voar aqui, ok! – ele falou aborrecido.
– Ok! – aceitei a resposta dele e torci para que ele não me odiasse.
– Vamos logo, ou vamos morrer congelados. – ele sorriu como se dissesse "esquece isso" e eu sorri de volta mostrando que estava tudo bem.
– Onde vamos? – perguntei sem a mínima ideia de onde estávamos indo, ele parecia todo cheio de si, quando apareceu na janela do meu quarto o que me fez aceitar fácil demais o seu convite.
– Surpresa, você vai ter que esperar. – havia tanta confiança em sua voz que eu esperaria mesmo para o que quer que fosse.
Caminhamos pelas ruas vazias e mal iluminadas, com casas adormecidas, éramos o contraste, tinha algo de suspeito na gente, vagando àquela hora da noite, como se estivéssemos indo fazer algo de errado e eu gostei disso, estar perto do Will me dava essa sensação de sair da rotina certinha.
Will ia me falando sobre as ruas que passávamos, seus nomes e alguns de seus moradores mais peculiares e eu percebi que para viver em Lopez eu precisava de Will, alguém que sempre viveu aqui, alguém que conhecia todos os detalhes da cidade e observava seus moradores. E talvez ele precisasse de mim também, alguém vazio que ele pudesse encher com suas histórias, alguém que ele poderia contar tudo e qualquer coisa e não iria julga-lo, alguém sem parâmetro para dizer o que é certo ou errado.
As ruas começaram a ganhar significado para mim, eu reconhecia algumas casas e cercas.
– Estamos indo para onde eu acho que estamos? – perguntei, não acreditando que eu estava certa.
– Sim, estamos indo para a escola! – ele respondeu como se estivesse contando uma piada.
– Qual é a graça? – eu não podia acreditar que estava indo pro lugar que eu mais detestava estar.
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Clepsidra
FantasyAssim como as ampulhetas antigamente e os ponteiros de hoje em dia, Clepsidra marca a era de uma antiga rixa, as previas de uma guerra. O tempo está escorrendo. Will é um adolescente aparentemente comum, que vive com o pai, o Reverendo Cicero nu...