-29- Amber

6 1 0
                                    

Já era noite, minhas mãos estavam ficando doloridas por causa do frio, mas por falta do que fazer e sem vontade de dormir e encarar o dia de aula que viria amanhã eu continuei desenhando.

O som seco de batida chamou minha atenção. Na minha janela, Will estava acenando. Larguei o lápis na mesa e abri a janela com mais curiosidade do que cuidado.

– Como você... – ele estava numa escada.

– Vamos, eu vou te levar num lugar.

– Agora? – eu não tinha certeza que horas eram, mas sabia que era tarde.

– Pegue seu casaco horroroso e vamos! – peguei meu casaco e vesti minhas botas. Will me ajudou a descer a escada. Passamos cautelosos pelo portão, evitando fazer barulho.

Quando alcançamos a rua, corremos como que para nos certificar de não sermos descobertos e a sensação foi incrível. A noite estava fria, e conforme corríamos o vento penetrava através das mangas da blusa, mas a sensação era refrescante. Ainda que parecesse contraditório, quanto mais corríamos, mais vento, mas também mais aquecida eu me sentia. Will segurou minha mão me fazendo correr mais rápido para acompanha-lo.

– Poderíamos voar desse jeito! – Falei sem pensar, mas Will pareceu entender as palavras de uma forma diferente e desacelerou a corrida até parar. Eu não queria soltar sua mão, mas não havia mais um motivo para ficar segurando então eu soltei.

– Eu falei alguma coisa... – desejei não ter dito o que disse, desejei não ter estragado tudo.

– Esquece Amber! – não dava para esquecer, ele parecia ter recebido um banho de água fria.

– Me desculpa eu falei sem pensar! – eu queria me desculpar, mas isso parecia só deixar tudo pior.

– Está tudo bem, só que ninguém vai voar aqui, ok! – ele falou aborrecido.

– Ok! – aceitei a resposta dele e torci para que ele não me odiasse.

– Vamos logo, ou vamos morrer congelados. – ele sorriu como se dissesse "esquece isso" e eu sorri de volta mostrando que estava tudo bem.

– Onde vamos? – perguntei sem a mínima ideia de onde estávamos indo, ele parecia todo cheio de si, quando apareceu na janela do meu quarto o que me fez aceitar fácil demais o seu convite.

– Surpresa, você vai ter que esperar. – havia tanta confiança em sua voz que eu esperaria mesmo para o que quer que fosse.

Caminhamos pelas ruas vazias e mal iluminadas, com casas adormecidas, éramos o contraste, tinha algo de suspeito na gente, vagando àquela hora da noite, como se estivéssemos indo fazer algo de errado e eu gostei disso, estar perto do Will me dava essa sensação de sair da rotina certinha.

Will ia me falando sobre as ruas que passávamos, seus nomes e alguns de seus moradores mais peculiares e eu percebi que para viver em Lopez eu precisava de Will, alguém que sempre viveu aqui, alguém que conhecia todos os detalhes da cidade e observava seus moradores. E talvez ele precisasse de mim também, alguém vazio que ele pudesse encher com suas histórias, alguém que ele poderia contar tudo e qualquer coisa e não iria julga-lo, alguém sem parâmetro para dizer o que é certo ou errado.

As ruas começaram a ganhar significado para mim, eu reconhecia algumas casas e cercas.

– Estamos indo para onde eu acho que estamos? – perguntei, não acreditando que eu estava certa.

– Sim, estamos indo para a escola! – ele respondeu como se estivesse contando uma piada.

– Qual é a graça? – eu não podia acreditar que estava indo pro lugar que eu mais detestava estar.

ClepsidraOnde histórias criam vida. Descubra agora