-17- Will

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Não sei que horas eram quando acordei, ainda estava escuro lá fora, mas minha visão estava tão turva que não podia identificar os números no relógio. Meu corpo parecia pesar uma tonelada, preferi continuar deitado. O meu peito parecia apertado e eu não estava conseguindo respirar. Minhas mãos e meus pés estavam gelados. E eu tinha sede, muita sede. A última coisa que lembro foi de rir tanto que fiquei sem ar e cair em cima do cesto de roupa suja. Isso explica porque acordei com a cabeça enfiada na minha calça jeans.

Tive um sonho particularmente bom. Sonhei que podia voar, sobrevoava por cima de Lopez em um voo raso, e por onde eu olhava não havia mais ninguém, só eu. E acho que por isso eu estava nu. Mas me sentia tão leve e livre, diferente de como eu estava me sentindo agora.

Tentei me levantar, mas meus pés pareciam patinar no assoalho. Foi quando percebi que não havia dor. Nenhuma dor. Me arrastei até o espelho, me apoiei nos braços pra erguer o tronco, depois com as mãos, fiquei de joelhos de frente ao espelho, pensando que havia dado certo. Tirei a camisa para examinar minhas costas e então eu vi, entendi. Era tão obvio que eu nunca poderia ter sido prepotente para assumir a mim mesmo. Mas no fundo eu sempre soube que era algo incompreensível e resisti contar a alguém.

Compreendi duas coisas naquele momento, a primeira era que eu estava mudando, querendo ou não. E a segunda era que isso iria me matar ou eu me mataria tentando evitar.

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