-5- Amber

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Está frio. Sempre está frio. Desde que cheguei não lembro de fazer um dia ensolarado.

Tia Mirian me deixou próxima do lago e acompanhou Ágata para estufa.

O lago do sitio de Agata era consideravelmente grande. Havia casas de madeira vermelha com janelas de bordas brancas, que me pareciam familiar, não sei se de algum filme ou se já vi algo parecido. Essa de estar reconhecendo algo tem sido tão frequente, que me irrita, não tenho certeza do que vejo, se estou reconhecendo algo que lembro ou não. Minha mente não parece nem um pouco interessada em colaborar. Aparentemente eu não sei mais ler por exemplo. O médico disse que era normal e que com o tempo eu voltaria a me lembrar de como juntar as palavras e fazer sentido.

O chão estava úmido e o barro escorregadio, não me atrevi a se aproximar mais do lago por precaução mesmo. Aparentemente eu sou desastrada, e estou considerando que se eu não prestar atenção onde piso, posso facilmente escorregar direto para a agua fria.

Percebo que há um considerável número de arvores por aqui, como se formasse uma parede verde em volta do Sitio.

Do outro lado nadando no lago, estava os netos de Agata. Nesse frio, a agua devia estar congelando, como conseguem?

Tento ignora-los, mas o grupo do outro lado do lago parece se divertir muito. Tia Mirian disse que Ágata tem 5 netos. 4 garotos e uma menina. Caminhei para onde o cascalho dava mais firmeza aos meus pés atrapalhados. Será que quem volta do coma tem que explicar o tempo todo aos pés que precisa deles novamente?

Finalmente parece que fui vista, as risadas cessaram e eles parecem conversar sem tirar os olhos de mim. Como que para me proteger aperto meu casaco contra meu corpo. Melhor eu ir me juntar a tia Mirian.

A algazarra na água, do outro lado retorna e parecem fazer festa a um dos garotos que decidido parece querer atravessar o lago a nado. Quando puxa folego, parece que naquele segundo quando inspira, olhar para mim. Motivado pela torcida, ele parece determinado, dando braçada atrás de braçada na minha direção. Um nervosismo tomou conta de mim. Ele está vindo pra cá.

Me mexo como se estivesse presenciando um tiro vindo na minha direção. Certa que ele estava vindo falar comigo. O que digo quando ele chegar? Oi?

Me pego procurando para segurar um cabelo que não existe. Devia ser algum cacoete que eu tinha; pegar no cabelo quando estava nervosa, mas o cabelo não existe mais.

Quando o garoto já estava bem mais próximo de mim do que seu grupo, ele para. As risadas param. Há algo de errado.

Ele não está nadando. Ele está se afogando.

– Câimbra! – Consigo ouvi-lo dizer, enquanto cospe a água e tenta se manter na superfície. Olhei para o outro lado do lago esperando que eles, do outro lado tivessem visto o irmão se afogando.

Eles pareciam não entender o que viam, talvez estivessem longe para entender o que eu estava vendo. Eu devia chamar tia Mirian, mas talvez seja tarde demais até lá. Droga por que ainda ninguém pulou na água para ajudá-lo?

Arranquei o casaco e tirei meus tênis, fui pulando na direção do lago enquanto retirava minhas meias. Eu sabia, sem saber como sabia, que eu precisava tirar todo o peso extra que ganharia quando a roupa molhasse.

Me lancei na água. Todo meu corpo reclamou com a temperatura, minhas mãos perderam a sensibilidade e eu só sentia dor, e o frio subindo pela minha espinha, causando tremores tão fortes que achei sofrer um ataque a cada calafrio. Quando estava com água até o pescoço, comecei a dar braçadas, não me preocupei se estava fazendo direito, apenas estava fazendo. A cada braçada mais perto dele eu chegava. A cada puxada de ar eu mirava sua localização e sua condição. Ele já devia estar se cansando.

Braço, braço, ar, braço, braço, ar, braço, braço, ar...

Quando me aproximei o suficiente para estender o braço, ele afundou. Mergulhei.

Contornei seu corpo com o braço e o puxei. –Peguei você! – Levantei o rosto dele, parecia desacordado. Nadei com ele até aborda e o arrastei o suficiente para fora. Ele pesava muito.    

ClepsidraOnde histórias criam vida. Descubra agora