-4- Will

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Era domingo, depois de voltar do petshop eu me arrumei para o culto. Meu pai como reverendo, sempre chegava muito mais cedo.

Enquanto me vestia pensava que não devia estar escondendo as coisas ao meu pai, mas eu sentia que era melhor guardar segredo. Algo me dizia, ou melhor, gritava para que eu evitasse até o último momento para contar sobre o que estava acontecendo nas minhas costas. O problema era que com o tempo eu parei de esperar que as coisas fossem se normalizar naturalmente e comecei a remediar. Com o avanço dos dias, a dor só fez aumentar e a quantidade de remédios por mim ingeridos também.

A Sra. Mirian não foi vista na Confeitaria La Dulce, Ágata passou a semana sozinha atrás do balcão, as vezes um de seus netos ficava para ajudar. Nenhum movimento na janela ao lado, nenhum sinal de Amber, verifiquei mais vezes do que gostaria de assumir, mas a janela ficou fechada a semana toda. Foi meu pai que me avisou, que ela havia voltado pra casa só na quinta-feira me fazendo se sentir um idiota por ter vigiado a janela por todos aqueles dias.

A campainha tocou, terminei de vestir minha jaqueta verde enquanto descia a escada e quando parei em frente a porta terminei de jogar o cabelo molhado pra trás com os dedos. Abri a porta antes que ela tocasse a campainha novamente e se irritasse. Vanessa estava parada na porta, usando um vestido azul claro e luvas curtas, segurando uma minúscula bolsa branca, seus cabelos estavam soltos em caracóis que pulavam ao menor movimento da sua cabeça, seus olhos claros sorriram pra mim em baixo de uma maquiagem dourada que combinava com o marrom da sua pele.

–Podemos ir. ­– Ela pegou no meu braço e fomos em direção ao Sr. Forbes pai de Vanessa, que nos esperava em sua caminhonete.

–Pronto para a grande estreia de amanhã? – Ela perguntou, batendo de leve seu joelho descoberto no meu. Me encolhi o máximo que pude perto da porta para ter alguma distancia dela. –Mal posso esperar... – Respondi. O pai dela gargalhou e eu tomei um susto. – Eu joguei nesse time, bons tempo. Conheci a mãe da Vanessa no ensino médio, já contei pra vocês? –Vanessa revirou os olhos impaciente. Seguimos a viajem até a igreja com a narrativa de como o Sr. Forbes começou a namorar a Sra. Forbes e como a Vanessa é um exemplo do que acontece quando não se presta atenção as aulas de prevenção de gravidez na adolescência. Uma vez dentro da igreja de Lopez, que fica no centro da cidade, nos sentamos ao lado esquerdo, no fundo, onde tínhamos uma visão menos privilegiada do púbito, mas Vanessa podia usar o celular sem os olhares de censura das senhoras do Coral, que ficavam categoricamente enfileiradas do lado direito da igreja e só ficavam de pé para cantar os louvores.

–Você não reparou? – Vanessa falou sorrindo muito, isso fazia suas bochechas comprimirem seus olhos. Foi então que notei que ela não estava mais de aparelho. – Você tirou o aparelho!!! – Segurei seu queixo para faze-la parar de mexer a cabeça. – O que achou? – Ela perguntou entre os dentes, mantendo o sorriso. – Sim, sim, ficou muito bonito. Você tem um sorriso bonito Nessa! – ela me pegou de surpresa, quando deu um beijo no meu rosto. Vanessa era minha melhor amiga desde, sempre...praticamente uma irmã.

–Eu vou estar torcendo por você amanhã no jogo... ­­– mas eu não respondi, eu nem a estava olhando, minha voz sumiu quando a Sra. Mirian e Amber entraram pela igreja e se sentaram alguns bancos a minha frente. Eu as acompanhei com o olhar e Vanessa fez o mesmo. –Uui, o que é aquilo, um acidente da moda ou da natureza!? – falou Vanessa só para eu escutar. Me mantive em silencio.

–Ela parece bem... – pensei em voz alta.

– Bem? Se aquilo é bem...Você a conhece?

– Minha vizinha, sobrinha da Sra. Mirian... – Vanessa juntou os dedos pensativas.

ClepsidraOnde histórias criam vida. Descubra agora