Tia Miriam me acordou no pronto socorro quando chegou, era impossível ter sido diferente. Ela falava histericamente pelo corredor. Ela estava com Agata, que parecia um grão de feijão, encolhida ao seu lado.
Minha tia me abraçou tão forte que achei que algo iria quebrar dentro de mim. – O que eu disse, sobre fazer essa trilha, eu avisei, avisei sim! – Ela parecia feliz me dando bronca, então começou a rir e ficar vermelha, então o riso virou choro e ela estava em lagrimas, segurando minhas mãos ela repetia: – Estava tão preocupada. – e nesse momento eu jurei que nunca mais a deixaria preocupada novamente.
Ela me trouxe uma muda de roupa e numa cadeira de rodas logo estávamos indo para o estacionamento onde eu procurei por um fusca azul. – Deixei ele em casa... – Ela me disse adivinhando que perguntaria.
– La Kombi!!! – falei mais afetado do que pretendia. Não achei que voltaria a estar naquele carro tão cedo.
– Oi Nena! – falou Estuardo recostado na La Kombi.
– Oi. – não era culpa dele meu acidente, não totalmente. Ele me levantou da cadeira e me sentou no assento do carro com tanta facilidade que me senti constrangida.
Quando estávamos acomodados e o motor começou a zunir tia Mirian começou a me perguntar porque eu havia resolvido saltar da cachoeira.
– E eu saltei? – tia Mirian parecia a ponto de começar a chorar novamente, olhou para o retrovisor onde o olhar duro de Estuardo falou: – Acho melhor deixar ela descansar Sra. Mirian. – ela balançou a cabeça rápido concordando, já estava vermelha feito um pimentão. Olhei para o espelho retrovisor e Estuardo estava me olhando, seus olhos eram como um muro azul mas havia medo. Agata permanecia quieta, como se tivesse em outro lugar, pensativa. Havia algo no ar, uma tensão e eu sentia que meu acidente era a chave disso.
– Estou cansada. – foi o que disse. Não queria fazer minha tia chorar mais. E acho que Estuardo temia o que eu podia dizer e ficar mal com a minha tia. Mas não tinha tanta certeza nisso.
Me deixei ser levada a recostar a cabeça no colo da minha tia fechar os olhos e pensar, pensar o que eu não percebi, o que deixou Estuardo com medo?
Quando chegamos em casa, ele prontamente se ofereceu a me levar ate meu quarto no andar de cima. Diferente da praticidade de me erguer da cadeira para o assento, agora ele iria me levar ate em casa, e subir as escadas comigo. – Coloque o braço envolta do meu pescoço. – ele pediu. Ele estava usando uma regata azul e um jeans surrado, seus braços nus me seguravam com firmeza e ele não parecia estar carregando nada mais que um cesto vazio. Assim que passamos pela porta ele perguntou: – O que aconteceu Amber? – eu não precisava perguntar do que ele estava falando, seu tom de voz era indiscutível, ele queria a verdade.
– Por que você disse que saltei? – perguntei de volta.
– Não foi eu que disse... – ele não continuou a frase e começou a subir a escada.
– Foi o Andres? – perguntei de volta e havia tanta raiva na minha voz que não me reconheci.
– Amber, me diga o que aconteceu. – já estávamos no fim da escada.
– Talvez devêssemos esperar a minha tia pra contar...– vi o terror em seu olhar. Eu não sabia o que podia deixar ele tão amedrontado, mas mantive o olhar. Será que ele temia ser processado por pratica de guia turístico fajuto? Mas eu não estava perto de saber.
Chegamos no meu quarto, Lui estava na minha cama, como sempre. Estuardo parou na porta, quando Lui nos viu ele abaixou as orelhas e com o rabo entre as patas deixou o quarto choramingando. Nunca o vi tão submisso.
Gentilmente ele me colocou na cama, se ajoelhou ao meu lado e pegou minha mão carinhosamente. – Eu preciso saber o que houve Amber. – ele estava com seus olhos de muro, azuis como o céu olhando pra mim.
– Estávamos indo para a cachoeira e... – ele parecia querer tirar as palavras da minha boca se pudesse.
– Andrés sumiu e apareceu um lobo, eu corri dele, então cai, depois que escorreguei da ribanceira, tudo aconteceu muito rápido, senti que estava escorregando, minhas mãos não alcançavam nada que pudesse me segurar, então senti um tranco na minha perna e antes que eu pudesse deduzir o que houve minha cabaça bateu, tudo ficou escuro e quando eu vi a luz novamente era como se não houvesse chão, eu não sentia o peso do meu corpo, era como se...
– Se estivesse voando? – ele completou. – Sim, acho que sim, mas foi rápido, porque eu só lembro de acordar no hospital depois. – ele levou a mão a boca e pareceu pensar, então disse:
– Não há lobos em Lopez, você deve ter se assustado com um cachorro grande, e caiu no chão, bateu a cabeça, achou ser de uma altura alta. Eu que peguei você no chão, nem havia chego a cachoeira ainda. – ele se levantou como se tivesse acabado seu trabalho por hoje.
– Você sabe que estou falando a verdade! – falei furiosa, ele deu de ombros.
– E mais ninguém sabe, sua tia acha que você tentou se matar e nada que diga vai faze-la mudar de ideia, ela sempre vai achar que é uma tentativa sua de evitar a verdade.
– Seucretino! – atirei o travesseiro nele, que o segurou com as duas mãos. – Vai ter que fazer melhor do que isso nena, se cuida! – ele saiu descontraído do quarto com as mãos no bolso do jeans. Já estava farta dos irmãos Galegos.
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Clepsidra
FantasyAssim como as ampulhetas antigamente e os ponteiros de hoje em dia, Clepsidra marca a era de uma antiga rixa, as previas de uma guerra. O tempo está escorrendo. Will é um adolescente aparentemente comum, que vive com o pai, o Reverendo Cicero nu...