Lia Marques
Quatro meses já haviam se passado desde que comecei na agência. Não estava feliz com a vida que estava levando, no entanto, me sentia mais aliviada por ter conseguido colocar o aluguel e todas as contas em dia. Andrea havia me sugerido alugar um apartamento mais confortável em outro bairro, mas achei melhor tentar guardar o máximo de dinheiro que conseguisse para poder largar a agência o quanto antes. Não era isso que queria para minha vida, tinha colocado como propósito, que esse trabalho seria passageiro.
Dona Antônia continuava me ajudando com Júlia sem questionar nada. Cheguei a falar com ela que havia conseguido um trabalho, mas ela não perguntou nada, então resolvi deixar como estava. Minha vida começou a entrar nos eixos novamente, agora que não me sentia ameaçada de ir para rua com minha filha. Eu
pensava muito em meu pai, na preocupação que ele devia sentir. Depois que me casei com Heitor, ficamos distantes um do outro. Eu, ressentida por ele ter permitido
que me casasse com um homem que não amava, para salvar seus negócios, e ele, envergonhado de ter permitido essa situação. Pelo menos, era nisso que eu acreditava. Ele deve ter imaginado que não havia acontecido nada grave comigo, mas que simplesmente, resolvi fazer o que disse muitas vezes que tinha vontade: sumir, abandonar tudo. Todas as vezes que eu dizia que queria sumir, ele tentava me acalmar dizendo que tudo ficaria bem, que eu ainda amaria Heitor como ele me amava. Mas eu não consegui. Eu sabia do amor de Heitor, mas não era suficiente para mim. Ele me sufocava, me infernizava com seu ciúme, sua possessividade e eu precisava respirar. Fui embora para poder viver.
Passei a ser muito requisitada na agência. Eu não podia dizer que estava feliz, mas estava aproveitando a oportunidade. Estava aceitando todos os clientes que a agência programava e guardando todo o dinheiro possível. Eu não sabia o que fazer ainda com relação ao meu futuro com Julia. Tinha medo de Heitor me encontrar e se isso acontecesse, eu precisaria de um excelente advogado. Por isso, ganhar e guardar todo o dinheiro possível, passou a ser para mim, mais que importante, passou a ser imprescindível. Nesse último mês, resolvi me matricular numa faculdade, aceitando a ajuda da agência, que financiava os estudos das meninas. Resolvi cursar direito, talvez pelo medo que sentia do que Heitor pudesse fazer comigo. Eu sabia da gravidade das minhas atitudes, não era uma mulher alienada. Além do que, poderia ser uma boa profissão. Quem sabe, eu pudesse me tornar uma advogada, ter meu próprio escritório, dar uma boa vida para minha filha, sem ter que me deitar com nenhum outro homem por dinheiro! Precisava ter planos para o futuro, precisava pensar em Júlia, por isso não podia perder tempo. Estudava pela manhã, ficava com Júlia à tarde e em algumas noites, saia para trabalhar. Nesses poucos meses trabalhando para a agência, conheci alguns homens importantes. Alguns me procuraram mais de uma vez: foi o caso de Pietro Toscani. Era um empresário conhecido na Itália. Solteirão, gostava de desfilar com mulheres bonitas. Nas vezes que saímos juntos, ele me levava a eventos de negócios e eu ficava apavorada quando via fotógrafos vindo em nossa direção. Enquanto a maioria das mulheres nesses eventos, faziam posses para serem fotografadas, eu sempre dava um jeito de não aparecer. Não podia correr o risco de ter uma foto minha em alguma revista, jornal, nas redes sociais. Heitor me encontraria rapidamente. Enzo era um homem na casa dos cinquenta anos, era vaidoso, charmoso e muito bem cuidado. Era uma companhia agradável, educado e me tratava com amabilidade. Na cama, não era tão gentil assim, fazia questão de me lembrar que eu era paga para fazer o que ele quisesse. Nessas horas me sentia humilhada, tinha vontade desistir daquela vida, mas me lembrava da minha situação e aguentava firme, afinal, ele era o meu cliente mais generoso. Pagava a agência e sempre deixava bastante dinheiro na minha mão. Não sei se por generosidade, por que gostava da minha companhia, ou simplesmente para ostentar e mostrar de onde vinha todo seu poder. Enfim, eu precisava do dinheiro, por isso me submetia. Numa das vezes que saímos para um evento social, percebi que ele era importante também no mundo do futebol. Era um tipo de evento com vários times importantes. Naquela noite, foi impossível não pensar em Edu. Eu sabia que tinha sido eleito o melhor jogador do ano e era muito importante, a minha sorte é que eu sabia que jogava num time inglês, assim não corria o risco de encontrá-lo.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Não era para ser assim
RomanceHistória registrada na Biblioteca Nacional. Plágio é crime! Denuncie. Eduardo Crusciani é um jovem lutador que sonha em se tornar um craque no futebol e poder se casar com sua bela namorada da juventude, Lia Marques. Eles se conhecem desde adolescên...