Capítulo 22

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Lia Marques

- Ah mamãe, vamos brincar mais um pouquinho, só mais um minutinho, por favorzinho!

- Só mais um pouquinho, meu amor. Mamãe tem que se arrumar para trabalhar. Você sabe que precisamos de dinheiro para comprar sua comidinha, pagar a casa, essas coisas. Mas amanhã é sábado, não tem escolinha e podemos brincar no parquinho, o que acha?

- Siiiiimmm! - Júlia gritou muito animada.

- Então, está combinado: depois do almoço, vamos brincar no parquinho, mas agora mamãe tem que sair para trabalhar. Dona Antônia vem ficar com você. Vou pedir para ela fazer pipoca para vocês assistirem um filme.

- Oba! Pipoquinha! - Fiquei admirando minha filha toda animada pulando pela casa. Ela era um doce de menina. Qualquer coisa já a deixava feliz da vida.

Enquanto me arrumava, dona Antônia chegou simpática como sempre.

- Obrigada, Dona Antônia, por ficar com Júlia mais uma vez.

- Por nada, Lia. Fico feliz por ser útil ainda e você sabe que Julinha enche minha vida de alegria. Só me preocupo um pouco com você. – Ela disse com olhos sinceramente preocupados. – Não estou perguntando nada, querida, mas me preocupo. Você tem essa menininha que precisa de você, nunca se esqueça disso.

- Eu sei que a senhora se preocupa. Eu... não tive outra alternativa e... se pudesse não estava ...

- Não precisa falar nada, minha filha. Eu sei como você tentou outro trabalho, vi como estava desesperada. Só quero que tome muito cuidado.

- Eu tomo sim e quero sair disso assim que puder. Não estou feliz, Dona Antônia. Mas estou fazendo o que é preciso. Não posso correr o risco de ir para a rua com Júlia. Ela não merece pagar pelas minhas atitudes.

- Eu te entendo, minha filha. E não estou aqui para te julgar, mas para te ajudar. Eu sei o que é ser sozinha na vida. – Ela disse com olhos tristonhos.

- A senhora não tem ninguém? Nenhum familiar?

- Sou viúva e não tive filhos. Queria, mas não pude. Mas vamos deixar essas histórias no passado e vamos cuidar do presente. Se bem que eu gostaria muito de saber mais da sua história.

- Um dia, eu conto sim, Dona Antônia, mas agora preciso acabar de me arrumar.

Quinze minutos depois, o carro da agência chegou e me levou ao escritório. Eu ainda não sabia com quem era meu compromisso, só havia sido informada de que seria um jantar social, de negócios. Eu já estava ficando acostumada com aqueles eventos. Na verdade, não me exigia muito, somente estar bem vestida, arrumada, ser simpática, educada e só. A parte mais difícil acontecia depois dos eventos. Muitas vezes me sentia constrangida, pois algumas pessoas nesses momentos, sabiam que eu era uma acompanhante. Muitas vezes, eu ouvia comentários, insinuações, propostas, olhares de desprezo de mulheres e de cobiça, dos homens. Eu estava aprendendo a ignorar tudo aquilo e simplesmente fazer o que tinha que ser feito.

Cheguei a agência, um pouco antes do meu compromisso e fui informada que o cliente era Pietro Toscani. Não me surpreendi, pois parecia ter se interessado muito por mim, mas me preocupei. A última vez que estivemos juntos, foi complicado. Eu estava um pouco bêbada e acabei fazendo o que não queria: sexo com ele e seu amigo. Não me lembro muito do que aconteceu, mas mesmo assim, me senti promíscua, imoral, mais do que já me sentia normalmente. Fiquei preocupada. Não queria que acontecesse novamente, mesmo Pietro me pagando dobrado.

- Olá, Lia! Não nos vimos essa semana! Está tudo bem? Está de serviço hoje? - Andrea disse já me abraçando. – Está linda! Vai arrasar!

Não era para ser assimOnde histórias criam vida. Descubra agora