Eduardo Crusciani
- Eu fiz uma vistoria na praça, Dudu. Já está quase tudo montado: As barracas, o palanque e os banheiros químicos. Tudo está organizado em frente à Igreja. – Marcus me explicava enquanto seu filho brincava no tapete de sua sala de estar e Deise trazia uma bandeja com xícaras de café.
- Eu vi. Passei por lá e fiquei observando para conhecer melhor como vai estar disposto o espaço. – Peguei uma xícara e coloquei uma colher de açúcar. – Obrigado, Deise.
- Então, Dudu, acho que o lance é a Igreja. Se Lia estiver com segurança na cola dela, como imaginamos que estará, temos que dar um jeito dela ir à Igreja, seria mais fácil, pois vocês poderiam sair pelos fundos. – Marcus concluía seriamente. Me emocionava como ele estava dedicado aquela missão de me ajudar. Era bom saber que tinha um amigo de verdade, apesar da distância que nossas vidas tomaram.
- É uma boa ideia, amor. – Deise passou a mão carinhosamente no braço do marido.
- Mas será que a Igreja estará aberta na hora do evento? - Perguntei tentando pensar em todas as possibilidades. Nada podia dar errado. Aquela era a oportunidade perfeita e talvez não tivéssemos outra.
- Vai sim, eu me informei quando estive lá. A Igreja vai estar aberta durante todo o evento, inclusive por causa da lojinha que estará vendendo lembrancinhas. A saída dos fundos costuma sempre ficar aberta, até como medida de segurança em caso de incêndio. Estive conversando com seu Sebastião, que cuida da limpeza e me garantiu que não há possibilidade da saída dos fundos ficar fechada, é uma orientação do corpo de bombeiros da cidade, que está sempre de olho fiscalizando. – Ele deixou sua xícara de café sobre a bandeja e pegou seu filho colocando-o no colo. Eu acariciei a cabeça do menino que me deu um sorriso. Era simpático como o pai.
- E a saída dos fundos quase não é usada, Eduardo. A rua é muito tranquila, o que vai facilitar a fuga de vocês. – Deise suspirou com cara de apaixonada. – Ai, como isso é romântico!
- Se quiser, posso te roubar também, minha gostosa. – Marcus riu da cara da esposa.
- Ah, seu palhaço! Não estrague o momento! - Ela respondeu fazendo uma careta.
- Mas como faremos para leva-la lá na Igreja... sem o Heitor na sua cola? - Eu me sentia bastante apreensivo com o planejamento daquela missão. Nunca tinha vivido uma situação como aquela.
- Tem que ser num momento em que Heitor estiver muito ocupado e não possa acompanha-la. Não sei... - Deise estava com semblante de alguém que planeja algo muito terrível. – Já sei: vou dar um jeito de ficar junto dela com a desculpa que as crianças estão brincando juntas e combino com Lia de que temos que leva-los ao banheiro.
- Mas haverão banheiros químicos, Deise. Como Lia vai conseguir despistar os seguranças que provavelmente ficarão na porta aguardando-a? - Marcus questionou tentando entender a linha de raciocínio da mulher.
- Pensa, Marcus. Lia não vai levar sua filha num banheiro químico, vai leva-la no banheiro da Igreja, que estará mais limpinho. Coisa de mãe, ninguém vai desconfiar!
- Boa, mulher! - Marcus e Deise bateram as mãos no ar como se tivessem trabalhando em equipe. Enquanto isso, Dudu, você deixa seu carro nos fundos da Igreja para sumirem da festa. Quando os seguranças derem conta, vocês já estarão a caminho do aeroporto. Já está tudo certo com o avião particular, não é?
- Sim, já fiz contato com Enrico, meu amigo que está na Itália me dando suporte.
- Ele é de confiança, né? - Deise perguntou passando um lencinho na boca do filho que estava babando por causa dos dentinhos que estavam nascendo.
- Totalmente. Ele também já contratou novos seguranças para quando chegarmos por lá. Acho que vamos precisar, Heitor, com certeza, vai vir com tudo para cima de mim.
- Com certeza, cara. Se prepare que vai vir chumbo grosso. Heitor Muniz não é de deixar barato, não. – Marcus ponderou preocupado comigo.
- Mas não se preocupe, Marquinho, estou com boa munição para o combate.
- Tem duas coisas que estamos esquecendo, que pode gerar problema para o que estamos planejando: A babá da Júlia e em que momento vamos a Igreja. – Deise lembrou que as vezes a babá acompanha a família.
- Bem, soube com a organização do evento que haverá discurso do prefeito e algumas figuras ilustres da cidade. – Todos nos olhamos cheios de esperança. O momento era ideal.
- Será que Heitor vai discursar? - Questionei.
- Cara, eu sou demais, confessa? Eu me informei de tudo! Ele será chamado sim. O momento é perfeito. Não poderá sair do palanque nesse momento.
- Você é foda, Marquinho! - Deise me olhou de cara feia, por causa do palavrão. – Opa, desculpa, Deise! Me empolguei, é que não conseguiria sem a ajuda de vocês.
- Você sempre vai poder contar conosco, Dudu. Bom, agora só falta pensarmos na babá. E se ela estiver acompanhando eles? O mais lógico é que quando Heitor for discursar, ele não queira que Lia se afaste e mande a babá levar a menina ao banheiro. – Eram tantos detalhes para se pensar, mas Marcus estava atento a tudo.
- Bem, como pretendo estar com Lia a maior parte do tempo, combino com ela de dar um jeito de afastar a babá no momento em que forem chamados ao palanque. Sei lá, ela pode pedir para a babá buscar alguma coisa para a filha. O que acham? - Deise se levantou para pegar o filho que engatinhava em direção ao corredor da sala.
- Está ótimo, meu bem. Só não se esqueça de combinar tudo discretamente com Lia assim que se encontrarem na festa.
Olhei para meus amigos e me senti muito agradecido pela ajuda que me davam. Aqueles eram amigos verdadeiros e para a vida toda. Pensei que precisava dali para frente, estar mais próximo deles.
- Obrigado por tudo que estão fazendo por mim e por Lia, nunca vou conseguir agradecer o suficiente. – Coloquei a mão no ombro de meu amigo.
- Que isso, cara, você para mim é como um irmão.
- Hum... sim mas eu ia adorar te visitar na Itália! Já pensou, amor! Veneza, Milão... – Deise era bem maluquinha desde os tempos de escola.
- Pois já estão convidados! Eu teria muito prazer em recebe-los para uma temporada na Europa.
- Ai, meu Deus que sonho! - Deise quase pulou com o menino no colo.
- Sossega, mulher! Sabe como é difícil deixar a mercearia.
- Fala sério que eu vou deixar de passear na Itália, por causa da mercearia?
- Calma, Deise, vê se sossega, depois vemos isso. Agora temos que nos concentrar no nosso plano. Primeiro, Edu precisa conseguir fugir com Lia daqui e se livrar do todo poderoso Heitor Muniz. Ainda temos muito chão pela frente!
Marcus tinha toda razão. Ainda tinha muito pela frente, mas estava esperançoso de que ia conseguir tirar Lia dali. Eu não voltaria sozinho, mas sim com o amor da minha vida.
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Não era para ser assim
RomansaHistória registrada na Biblioteca Nacional. Plágio é crime! Denuncie. Eduardo Crusciani é um jovem lutador que sonha em se tornar um craque no futebol e poder se casar com sua bela namorada da juventude, Lia Marques. Eles se conhecem desde adolescên...