Capítulo 38

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Lia Marques

Eu estava trancada naquele quarto sem saber o que seria da minha vida dali em diante. Estava preocupada com Júlia, que estava sendo cuidada por uma das empregadas da casa. Estava preocupada com dona Antônia, com Andréa, elas ficariam loucas com meu sumiço. E com Edu. O que ele pensaria? Sai sem deixar nenhum bilhete ou telefonema. Ele saberia que havia algo errado. Tenho certeza que me procuraria. Mas eu temia por ele. Heitor não aceitaria que ele viesse atrás de mim.

Resolvi me acalmar, tomar um banho e aguardar a chegada de Heitor ao meu quarto. De nada adiantaria me desesperar. Precisava manter o controle e as ideias claras. Ele disse que conversaríamos depois do jantar. Eu tinha que tentar mudar de tática com ele. De nada adiantaria enfrentá-lo. Precisava convencê-lo de que nosso casamento não era mais possível. Eu também precisava entender algumas coisas. Na hora da raiva, ele havia declarado que tinha despachado Edu. Teria sido planejado a saída dele do país? Heitor estaria por trás disso? Me lembro que na época, apareceu um homem que era chamado de olheiro. Ele estava em busca de talentos no futebol. Roberto era o nome do sujeito, jamais esqueci. Ele foi atrás de Edu e fez a proposta. Seus pais na época, não tinham dinheiro para arcar com a despesa e meu pai deu o dinheiro. Agora, analisando friamente, foi realmente estranho, logo depois da saída de Edu, meu pai declarou que estava quase falido e que perderia a fazenda se não me casasse com Heitor. Como teve dinheiro para arcar com a quantia pedida pelo tal olheiro? Eu precisava saber da verdade. Minha cabeça estava muito confusa, mas agora eu sabia que havia muita coisa errada naquela história.

Um tempo depois, Heitor destrancou a porta do quarto e me pediu para acompanha-lo no jantar. Ele estava de banho tomado e muito sério, frio, seu rosto não esboçava nenhum sentimento, e isso me assustava. Pedi que me permitisse ver Júlia primeiro. Ele me levou até seu quarto. Ela estava bem, já tinha se alimentado e estava brincando com a empregada que era bem atenciosa.

- Amanhã virá a babá que cuidava dela. Ela ficará bem. – Ele afirmou.

- Não é necessário, eu posso cuidar da minha filha.

- Não. A babá virá. – Heitor disse secamente. Resolvi não contestar. Provocá-lo talvez não fosse a melhor tática no momento.

Deixei Júlia em seu quarto e acompanhei Heitor até a sala de jantar, onde a mesa já estava posta. Nos servimos e jantamos em silêncio. Fiz um esforço muito grande para me alimentar, pois não tinha apetite nenhum, na verdade eu sentia que havia um buraco dentro de mim: De medo, de ansiedade, aflição, incerteza. Todos os sentimentos juntos, misturados. Me alimentei para me manter forte por Júlia, por Edu, que tenho certeza, lutaria por mim.

Acabamos a refeição e fomos ao seu escritório. Eu quase não entrava lá. Aquele era o espaço dele e não gostava de dividi-lo com ninguém, mas foi lá que resolveu me levar para conversarmos. Me sentei a sua frente como se fôssemos ter uma reunião de negócios. Eu estava nervosa pois percebi que ele estava frio, talvez até um pouco indiferente a situação. Quando chegamos de viagem, ele estava com raiva de mim, agora não. Como poderia interpretar essa mudança? Fiquei diante dele, esperando que desse a primeira palavra.

- Descansou? - Ele perguntou. Estava preocupado comigo? Acho que não. Eu tentava ler os sinais nele para saber a melhor maneira de lidar com aquela situação, mas estava muito difícil.

- Um pouco.

Ele assentiu com a cabeça e permaneceu em silêncio me observando com cautela. Estava muito pensativo, concentrado e não aguentei.

- Heitor, quero ter uma conversa franca com você como nunca tivemos antes. Quero ser honesta com você e quero que seja comigo. – Falei reunindo toda minha coragem e autocontrole.

Não era para ser assimOnde histórias criam vida. Descubra agora