Capítulo 4

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Lia Marques

Minha vida virou de cabeça para baixo, desde que resolvi colocar um ponto final naquele casamento doentio. Para ser sincera, minha vida perdeu o brilho, quando Edu foi embora e tive certeza que não voltaria. Perdi todos os meus sonhos quando percebi que não tinha ninguém, pois Edu, o amor da minha vida, me deixou pela sua carreira, e meu pai, aquele que devia cuidar de mim, me entregou a sorte de um casamento por interesse, já fadado ao fracasso.

Enquanto todos esses pensamentos povoavam a minha mente, abri a caixa de mensagens para verificar meus e-mails e de repente, sem nem ao mesmo planejar, estava diante de uma mensagem antiga que há muito não relia. Era a mensagem de Edu... a única que recebi, depois que foi para a Inglaterra.


Lia,

Me desculpe a falta de contato durante esses meses, mas tenho trabalhado DEMAIS. São muitos os testes nos times daqui e DIVERSAS oportunidades bacanas tem surgido. Pedi ao meu agente que fizesse contato telefônico avisando que está tudo bem por aqui.

Não sei quando poderei voltar, pois o trabalho tem exigido demais de mim. Preciso que compreenda que esse é meu sonho e que vou me dedicar a ele, de corpo e alma. Não quero prejudicá-la, pois gosto muito de você., por isso, quero que siga com sua vida e viva da melhor maneira possível.

Estou morando em um hotel, por enquanto, portanto, se quiser fazer contato, ligue para meu agente, ok? Você já tem o TELEFONE dele.

Um beijo.

Seja feliz!

Eduardo


Eu havia lido tantas vezes aquele email, que já conhecia cada palavra daquela mensagem. E todas as vezes que relia, eu não o reconhecia. Aquelas palavras não pareciam de Edu. Não do rapaz que tanto amei e que era louco por mim, daquele que me fazia juras de amor, que me fazia sonhar com um futuro ao seu lado.

Com meu coração cheio de mágoa, mas também de saudades, fiz o que sempre lutava para não fazer: Busquei notícias sobre ele na internet. Quando digitei seu nome, uma enxurrada de notícias e imagens apareceram na página principal de pesquisa. Notícias sobre sua carreira, imagens dele em campo e eventos sociais, além de várias fotos com as beldades do mundo da fama. Uma gama de emoções invadiram meu peito naquele momento, mas era a mágoa e a raiva que me deixavam entorpecida. Eu não queria sentir saudades, mas olhar para as fotos dele no computador, ver como estava cada vez mais bonito, mexia demais com meu coração, me fazia lembrar como nossas bocas eram perfeitas juntas, como seu sabor era o que eu já tinha provado de mais gostoso na minha vida.

Uma raiva sem tamanho, invadiu meu coração, ao me lembrar do seu abandono, das suas falsas promessas e juras de amor. Como eu tinha sido boba e inocente em acreditar que ele voltaria por mim, de que ele me incluiria no seu sonho. Senti raiva de mim mesma por tê-lo incentivado tanto. Eu sabia que Edu só seria completo se fosse em busca de seus sonhos, por isso, por amor incondicional a ele, eu o incentivei a ir para o exterior. Convenci meu pai a dar-lhe o dinheiro cobrado pelo seu agente. Lembro-me na época, de meu pai pegando empréstimo no banco para ajudar Edu, tudo a meu pedido, porque eu o amava demais e tinha certeza de que ele venceria e que teríamos uma vida muito feliz, até que descobri que contos de fadas não existiam e de que eu era uma grande idiota por ter confiado tanto nele.

Quando recebi aquele email de Edu, era como se o chão estivesse abrindo debaixo de meus pés. Fiquei arrasada durante vários dias. Eu não conseguia, comer, conversar, nada... só conseguia chorar de tristeza e decepção. Lembro-me de meu pai me consolando, dizendo que eu deveria esquecê-lo, de que só havia provado ser um cafajeste e de que tinha nos dado um golpe.

Eu sofria ainda mais por não entender o que estava acontecendo. Aquele não era o Edu que eu conhecia: o rapaz correto e cheio de princípios, que me defendia na escola, que enfrentava meu pai garantindo a ele que se casaria comigo.

- Deixa de ser uma boba sonhadora, Lia! - Meu pai dizia, quando me via chorando pelos cantos da casa. – Ele foi embora, não vai voltar! Você não vê?

- Não é possível, papai. Edu não faria isso! Nós nos amamos muito! Ele deve estar confuso, é muita pressão em cima dele e está longe da família.

- Encare a realidade, menina! Ele está conquistando o espaço dele, vai ganhar fama, fortuna... vai ter todas as mulheres que quiser! Você acha que vai querer trocar tudo isso? Vai querer se amarrar? - Papai dizia de forma cruel. – Esqueça esse rapaz, de uma vez por todas!

- Eu não posso ter me enganado tanto... não posso.

Com o tempo, fui vendo que eu realmente tinha caído nas profundezas do esquecimento de Edu. Mas ainda fiz algumas tentativas, tanto por email, quanto por telefone, e em nenhuma delas obtive resposta. Foi quando, uma última vez, liguei e consegui contato com seu agente.

- Alô! - Pude ouvir uma voz masculina bem distante.

- Alô? Sr. Roberto? O senhor está me escutando? - Eu dizia com meu coração aos pulos.

- Estou ouvindo, mas quem fala? - Ele respondeu meu ríspido.

- É Lia Marques, aqui do Brasil, a namorada de Edu... de Eduardo Crusciani. O senhor se lembra de mim?

- Ah... lembro... claro. Em que posso te ajudar, menina?

- Eu queria muito falar com Edu, saber notícias dele. Poderia falar com ele?

- Bem, é que ele não está aqui. Está viajando com o time. Mas ele não te mandou um email explicando tudo?

- Mandou, mas... é que eu precisava muito falar com ele! - Respondi aflita.

- Eu não vou poder te ajudar agora, Lia. Os times aqui são muito rígidos e quando jogadores estão em concentração, ficam quase incomunicáveis, mas quando acabar o torneio, posso pedir para que ele ligue para você. – Falou com a voz mais suave.

- Ele está mesmo num time? Qual o nome?

- É um time pequeno, do interior. Não se preocupe. É assim mesmo, ele vai ter que batalhar muito ainda, mas é um craque e vai vencer, logo vai ter uma grande oportunidade.

- Mas será que não teve tempo, nenhuma vez, para me ligar? Me fale a verdade, Sr. Roberto. Estou aqui, tão longe dele! Só queria conversar, entender o que está acontecendo, e...

- Menina, escute bem o que vou te falar: Ele está seguindo com a vida. Não foi isso que ele disse para você também? - Ele falava como se estivesse perdendo a paciência.

- Como o senhor sabe? - Senti que as lágrimas desciam dos meus olhos. Lágrimas de decepção.

- Ele me mostrou o email. Me perguntou o que eu achava. Ele estava se sentindo culpado por deixa-la aí e por saber que não ia voltar e que agora a vida dele é no exterior, batalhando pela carreira e aproveitando o que a vida tem a lhe oferecer.

- Ele... ele disse isso? Que não vai voltar? - Meu coração parecia estar sendo esmigalhado, tamanha a dor que eu sentia naquele momento.

- Palavras dele! Mas eu peço para ele te ligar, assim que o campeonato terminar.

- Não! Não precisa. Não quero que perca o tempo dele com bobagens. – Falei ressentida. - Por favor, nem comente que eu liguei, tudo bem?

- Tudo bem, menina. Siga com sua vida e seja feliz!

Aquelas tinham sido realmente, as mesmas palavras do email de Edu e não saíam da minha cabeça. E foi ali, naquele momento, depois do telefonema, que eu tomei uma decisão: não ficaria chorando pelos cantos, sofrendo por ele. Eu seguiria com a minha vida, como ele mesmo havia me aconselhado.


Não era para ser assimOnde histórias criam vida. Descubra agora