Capítulo 40

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Lia Marques

Os dias passavam-se lentamente naquele lugar. Minha única alegria, era minha filha. Agora eu já podia ficar com ela o tempo que desejasse, o que era um alívio para mim. Eu estava ali por ela. Por minha filha, eu era capaz de aguentar tudo.

Júlia parecia estar bem. Perguntava muito sobre os coleguinhas da escola e de Dona Antônia. Ela devia estar muito preocupada conosco. Como eu queria falar com ela, explicar o que estava acontecendo? Queria falar também com Andrea, contar tudo, desabafar! Eu não tinha ninguém ali, nem meu pai eu sabia se podia confiar.

Heitor quase não falava comigo e pouco o via em casa. Ele dormia no quarto de hóspedes e parecia me ignorar, o que era um grande alívio. Eu não conseguia compreendê-lo. Por que fazia questão de me ter naquela casa, me manter como esposa? Quais seriam as suas razões?

De qualquer forma, a casa ainda era mantida sob vigilância constante e continuava sem aparelhos telefônicos para que eu pudesse fazer contato. Meu pai havia tentado passar com um aparelho, mas foi interceptado quando revistado antes de entrar na casa. Um absurdo, mas era o que tinha acontecido. Ele ainda me contou do telefonema de Eduardo, e apesar dele não dizer se faria alguma coisa para me ajudar, eu estava mais aliviada por ter certeza de que ele sabia do que estava acontecendo comigo. Ele sabia de toda a minha história, dos meus medos, etc. Eu tinha certeza que ele pensaria em alguma coisa, só não imaginava o que poderia ser.

Heitor continuou distante de Júlia, deixando claro que seu problema não era a ausência da filha. Todas as vezes que dirigia a palavra a mim, era com ofensas horríveis e ameaças com relação a guarda da minha filha. Aquilo me deixava paralisada, sem saber como reagir. Se não fosse por ela, eu o teria enfrentado sem nenhuma dúvida, mas ele tinha direitos sobre ela e estava usando isso direitinho.

Na terça-feira daquela semana, Heitor chegou em casa um pouco diferente do que o habitual: levemente alcoolizado, pude perceber quando veio falar comigo depois do jantar. Eu já estava colocando Júlia para dormir em seu quarto, quando ele disse que queria falar comigo e que estaria me esperando no escritório. Depois de um tempo, tomei coragem e parti ao seu encontro.

- Com licença. – Disse depois de bater na porta. – Posso entrar?

- Entre. – Ele respondeu friamente, mas pude sentir seus olhos percorrerem meu corpo. Aquilo me deixou nervosa.

- Você queria falar comigo?

- Sim. Tenho um jantar amanhã muito importante, onde serei homenageado por um partido político do qual tenho alguns interesses. Preciso que me acompanhe. Não ficaria bem aparecer desacompanhado. Durante esse último ano, foi difícil manter as fofocas sob controle sobre a sua ausência.

- E se perguntarem alguma coisa, o que devo responder?

- Que estava fora do país por causa de Júlia que estava fazendo um tratamento de saúde. Diga que foi um problema respiratório, caso alguém se atreva a querer saber, mas procure falar pouco. Não queremos curiosos investigando a sua vida, não é mesmo?

- É realmente necessária à minha presença? - Eu torcia para que não fosse.

- Já disse que sim. Quero você impecável amanhã. – Heitor me olhava com olhos predadores. Eu conhecia muito bem aquele olhar.

- Sim. É só isso? - Perguntei já me levantando e indo em direção a porta.

Heitor levantou-se rapidamente caminhando em minha direção com um olhar semicerrado. Me segurou pelo braço e me virou em sua direção, passando os olhos por todo o meu rosto.

Não era para ser assimOnde histórias criam vida. Descubra agora