Capítulo 36

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Heitor Muniz

Maldita! Mil vezes maldita! Lia chorou durante toda a viagem. Com certeza, por ter que deixar para trás aquele filho da puta! Ela ia aprender uma boa lição. Não ia mais ser tratada como uma rainha. A vida dela seria um inferno dali em diante. Eu queria que sofresse como sofri quando fugiu de mim. Fui durante toda a viagem repassando na minha cabeça, o que me fez passar.

- Pare de chorar. – Falei rispidamente, já perdendo a paciência.

- Vai querer controlar até mesmo as minhas lágrimas? - Falou petulante como sempre.

- Isso mesmo, Lia. A partir de agora, vou controlar até mesmo o ar que respira. – Falei olhando em seus olhos.

- E por que isso, Heitor? Por que manter um casamento assim? - Ela disse com a voz insegura. Eu podia sentir o seu medo vindo em ondas até mim, mesmo quando tentava se manter firme.

- Porque você é minha, Lia. Sou eu quem digo quando isso acaba e não você.

- Me deixe, pelo menos avisar...

- Não acredito que quer minha autorização para avisar ao seu amante que está voltando com seu marido para casa! Não seja petulante, Lia. – Alterei minha voz, quase acordando Júlia.

- Fale baixo, vai acordá-la. A única coisa que não vou admitir é que maltrate minha filha. – Falou em tom de desafio.

- Não se esqueça que é minha filha também. E eu jamais a trataria mal.

- Você nunca ligou para ela, Heitor. Nunca foi um pai atencioso!

- Isso não é verdade, e além do mais, não está sob seu julgamento se amo ou não minha filha. Você não tinha o direito de afastá-la de mim.

- E você não tem o direito de me forçar a ficar casada com você contra a minha vontade usando nossa filha. Isso é cruel, Heitor!

- Cale a boca, Lia, vamos deixar de conversa fiada. Você já me fez perder tempo demais. Quando chegarmos ao Brasil, teremos uma conversa definitiva, sobre como será nossa vida daqui por diante.

Ficamos calados o resto da viagem. Lia parou de chorar, mas não voltou seus olhos para mim nenhuma vez mais e aquilo me incomodava muito. Queria toda sua atenção para mim, essa era a verdade. Me enlouquecia vê-la ali diante de mim com os pensamentos em outro homem, em outra história se não a nossa. Fiquei remoendo as informações que soube dela enquanto estava na Itália, mas o que mais me tirava do sério era seu relacionamento com aquele jogador de futebol infeliz. Ela parecia mais linda que nunca. Seus cabelos estavam mais longos e seu corpo parecia mais torneado. Devia estar se exercitando enquanto eu a procurava desesperadamente. Desgraçada! Eu queria odiá-la neste momento, mas eu sentia um misto de raiva, alívio por tê-la encontrado e saudade. Estava lutando contra a vontade de pegá-la em meus braços e fazê-la esquecer de tudo, e de como éramos bons juntos, de como seu corpo estremecia sob o meu. Quando nos casamos, eu sabia que não me amava, mas imaginei que com o tempo me amaria, principalmente, quando fiz um filho nela. Imaginei que esse seria o elo fundamental que selaria nossa união, mas sua rebeldia e desobediência sempre me tiravam do sério e reconheço que nossa convivência sempre fora difícil.

Eu a olhava com um aperto no peito. Eu não abriria mão dela em nenhuma hipótese, mesmo que tivesse que mantê-la sob vigilância constante. Ela era minha e isso não ia mudar. Seu ponto fraco, era Júlia e eu usaria isso contra ela se fosse preciso. Lia estava com tudo contra si e se ousasse insistir em se divorciar de mim, eu a colocaria na cadeia se fosse preciso, sem muito esforço, por subtração de incapaz. Ela não ousaria perder Júlia. Era rebelde, inconsequente, mas aquela menina era sua vida, eu sabia disso.

Não era para ser assimOnde histórias criam vida. Descubra agora