Capítulo 44

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Lia Marques

Eu me sentia cada vez mais deprimida dentro daquela casa, mas não me deixava abater. Estava sempre atenta nos passos de Heitor dentro de casa e procurava me manter o mais longe possível dele. Seus olhares agora, já não eram só de raiva, mas de cobiça. Tinha medo de que reivindicasse seus direitos de marido.

A minha sorte é que ele parecia muito preocupado ultimamente com sua vida pública. Agora, estávamos sempre aparecendo juntos em algum evento ou em algum restaurante da cidade, para simplesmente sermos vistos e virarmos notícia. E eu esperava uma oportunidade de sumir dali, levando Júlia comigo, é claro.

Naquele sábado, Heitor me levou a uma festa na casa de políticos amigos seus. Era sempre a mesma rotina: os homens conversavam sobre política, bebiam e fumavam e as mulheres conversavam coisas fúteis na grande maioria das vezes. Eu me sentia péssima naquele meio, mas não tinha escolha. Minha cabeça estava sempre voltada para Edu, na saudade que sentia dele e o que faria para estar junto dele. Não conseguia mandar nenhuma notícia para ele. A casa continuava sem telefone e sem conexão com internet. Até os funcionários não podiam utilizar aparelhos móveis. Eu era uma prisioneira naquela casa apesar de não ficar mais trancada dentro daquele quarto.

- Vamos, querida? - Heitor se dirigiu a mim sendo acompanhado pelo anfitrião da casa.

- É claro. – Respondi amavelmente, mantendo o papel que Heitor me impôs: o de esposa amorosa e obediente.

Entramos no carro e o motorista tomou seu lugar ao volante, colocando o veículo em movimento.

- Você está belíssima essa noite. – Ele disse virando sua cabeça em minha direção.

Continuei olhando para frente em silêncio, sequer agradeci o elogio.

- Eu vi como os homens olhavam para você.

- Me olhavam como uma convidada. – Disse tentando encurtar aquela conversa.

- Não... eles te olhavam com desejo. Com certeza era a mulher mais bonita da noite.

- Não diga bobagem! - Continuei olhando pelo vidro do carro.

- E eu vi você conversando com alguns deles. O que disseram para você? - Heitor parecia desconfiado.

- Nada demais! Só me cumprimentavam e eu retribui a gentileza.

- Só isso? Tem certeza? - Pude sentir seu hálito de bebida alcóolica, quando se aproximou um pouco mais de mim no banco de trás do carro que estávamos compartilhando.

- Só isso! O que está tentando insinuar? - Olhei em seus olhos me sentindo ofendida. Ele me tratava como se eu fosse... uma prostituta. Acho que para ele, eu sempre seria vista assim.

- Estou dizendo que vi seus olhares e sorrisos para meus amigos e não gostei. – Heitor me segurou pelos cabelos, mantendo-me bem perto dele. – Não admito que você dê confiança a nenhum outro homem, entendeu? - Disse quase encostando a boca na minha.

- Não estava dando confiança a ninguém, só fui educada com a pessoas. – Tentei me soltar dele.

Heitor largou meu cabelo e ajeitou seu blazer, mas continuou me olhando. Esticou sua mão e começou acariciar minha perna. Olhei para o motorista que parecia compenetrado no trânsito. Heitor percebeu meu desconforto e retirou sua mão de minha coxa.

Quando chegamos em casa, fui direto ao quarto de Júlia verificar se estava bem. Fiquei algum tempo ali admirando minha menina que dormia como um anjo. Conversei com a babá que me relatou que Júlia havia jantado tudo. Dei um beijo em sua cabecinha e fui direto para meu quarto, sem querer encontrar com Heitor mais uma vez naquela noite.

Não era para ser assimOnde histórias criam vida. Descubra agora