Lia Marques
- Mamãe, quero iogurte. – Diz Júlia saindo da cama ao acordar, puxando seu ursinho de pelúcia preferido.
Aquele pedido inocente de minha filha, fez meu coração gelar. Ainda tinha iogurte na geladeira, mas só para aquela semana. O que eu faria para nos manter? Eu estava ficando assustada! Já faziam quinze dias que havia sido demitida e não tinha conseguido nenhuma outra oportunidade. O dinheiro da rescisão era pouco, pois havia trabalhado apenas alguns meses. Só deu para fazer as compras e pagar o aluguel atrasado. Já estava ficando aflita pois o dia de pagar o próximo mês de aluguel já estava chegando e eu não tinha o dinheiro. Já tinha ido em duas agências de emprego, mas não tinha conseguido nenhuma oportunidade concreta como uma entrevista. A angustia começava a corroer meu coração.
- Bom dia, meu amor! Mamãe vai pegar seu iogurte. - Disse pegando Júlia no colo, sentido um frio na barriga, ocasionado pelo medo que sentia de não ter dinheiro suficiente para cuidar da minha filha.
Coloquei-a no sofá da sala, liguei a televisão, coloquei no seu desenho favorito, peguei seu iogurte e fiquei admirando minha pequena tomando seu café da manhã favorito. Minha cabeça, dava voltas e mais voltas, pensando o que eu faria para cuidar dela, para que não lhe faltasse nada. E se eu não conseguisse trabalho rápido? Eu não tinha ninguém que pudesse me ajudar financeiramente. Minhas únicas opções eram meu pai e Heitor. Se fizesse contato com papai, certamente Heitor saberia do meu paradeiro. Podia pedir ajuda a ele, mas com certeza, me faria voltar para aquela prisão que era minha vida, mas por Júlia, eu voltaria. Não podia permitir que passasse necessidade, no entanto, imaginei não ser tão simples assim: Se bem conhecia Heitor, ele devia estar furioso. Havia a possibilidade de já estar até com outra mulher e não querer mais saber de mim, afinal já haviam se passado quase um ano. Talvez pedisse ajuda e me ignorasse ou me fizesse voltar para o Brasil para me punir: me manter trancada para sempre ou pior, tirar Júlia de mim. Ele era bem capaz disso! E eu não suportaria viver sem minha filha! Eu não sabia o que fazer!
Pedi que dona Antônia ficasse com Júlia para que eu pudesse sair para procurar emprego, assim como estava fazendo durante todos aqueles dias desde que tinha perdido meu trabalho. Rodei muito naquele dia. Fui a mais uma agência de emprego. Haviam poucas oportunidades. O país enfrentava uma crise econômica séria, com altas taxas de desemprego, assim como em outros lugares do mundo, mas tinha conseguido uma entrevista para cuidadora de uma idosa. Eu não tinha ideia de como se cuidava de uma pessoa idosa, mas não me faltava boa vontade e paciência, por isso fui.
No dia seguinte, no horário agendado, fui à casa da família da senhora que precisava de cuidados. Ela tinha noventa anos, e de fato, necessitava inclusive de cuidados médicos. Sua filha me recebeu, e por sua expressão de surpresa ao me olhar dos pés à cabeça, pude perceber que não tinha agradado muito.
- Buongiorno! Me chamo Marieta. – Disse estendendo a mão para me cumprimentar.
- Bom dia! - Respondi na minha língua. Era automático para mim. – Sou Lia Marques.
- Brasileira? - Marieta questionou.
- Sim, brasileira. – Respondi, imaginando se o fato seria problema para ela.
- Você é tão jovem! Tem alguma experiência como cuidadora?
- Bem, na verdade não, mas tenho boa vontade para aprender. – Respondi sendo sincera.
- Nós realmente precisamos de alguém que tenha alguma experiência, Lia. Eu sinto muito! É que minha mãe precisa de muitos cuidados, inclusive cuidados médicos. Avisei a agência que precisava de alguém com conhecimentos na área de enfermagem e experiência no cuidado de idosos.
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Não era para ser assim
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