Capítulo 32

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Eduardo Crusciani

Comprei os dois imóveis que tinha gostado. Enrico, meu empresário e amigo pessoal, cuidou de tudo, como sempre. Não sei o que seria de mim sem ele. Estava morando numa cobertura muito confortável numa área nobre da cidade e coloquei Lia no outro imóvel. O apartamento era bastante amplo e num bairro próximo ao meu. Lá, ela tinha muito conforto: escola perto, parquinho, hospital, e essas coisas importantes quando se tem uma criança em casa. Eu ainda não a conhecia, só por foto; e confesso que estava ansioso por esse momento.

Minha vida entrou na rotina normal: treinos, jogos, academia e Lia. Era quase tudo perfeito, tirando o fato de não poder assumir nosso relacionamento. Eu nem sequer podia ir ao seu apartamento, nem ela ao meu. Era arriscado demais, eu tinha sempre jornalistas e fotógrafos atrás de mim. Nós tínhamos elegido o chalé como nosso refúgio. Parecia, até o momento, um lugar seguro, e era lá que estávamos mantendo nosso contato, o problema é que não dava para nos encontrar todos os dias e isso estava me matando. Mas eu estava feliz, finalmente eu a tinha para mim e logo poderíamos ter uma vida normal.

Eu ainda tinha minha situação com Anne que estava em suspenso. Depois que foi a Paris, teve diversos outros compromissos e não nos vimos mais. Mesmo que eu quisesse manter um relacionamento com ela, seria impossível, já faziam quinze dias que não a via. Ela me ligou várias vezes, pedindo que eu a encontrasse em países diferentes, devido aos seus compromissos e me acusou de não fazer nenhuma concessão a nossa relação. O que ela não entendia, é que eu não queria mais estar com ela. Não tive coragem de terminar tudo pelo telefone, apesar de ter tido a oportunidade, já que da última vez que nos falamos, brigamos feio, mas achei melhor estar frente a frente com ela. Era o mínimo que podia fazer.

Naquela tarde, depois do treino, estava aborrecido, pois Lia havia me ligado avisando que não poderia me encontrar pois a filha estava adoentada, e não queria deixa-la sozinha. É claro que eu entendia, ela era uma mãe dedicada e zelosa, como toda mãe deveria ser, mas eu não estava aguentando de saudade, estava enlouquecendo. Nós estávamos conseguindo nos encontrar duas vezes na semana e isso era muito pouco para mim. Tinha muitos compromissos que precisava cumprir. Eu sofria todos os dias com a sua ausência. Estava ainda mais preocupado, pois dali há duas semanas precisaria viajar com o time, para os primeiros jogos do campeonato mundial. Isso significaria vários dias sem vê-la. De qualquer forma, eu estava feliz, pois estava conseguindo ao menos, mantê-la segura e confortável. Ela estudava pela manhã e cuidava da filha. Eu fazia questão de manter o seu sustento. Lia era minha mulher e não queria que lhe faltasse nada. Ela tinha o sonho de se formar, se tornar uma advogada e montar seu escritório, e é claro que eu a ajudaria em tudo o que fosse necessário, mas o que estava me tirando um pouco o sono era o problema com o marido. Estava chegando o dia em que Lia teria que voltar ao Brasil para resolver sua situação.

Dr. Fassoni estava trabalhando numa linha de defesa na qual argumentava que ela era coagida a manter o relacionamento contra a sua vontade sob ameaça de perder guarda da menina; que o marido usava de coação psicológica, uma vez que Lia contou que ele por vezes a proibia de sair, ir a faculdade, tirando-lhe o dinheiro, o carro, e chegando ao ponto até mesmo de mantê-la trancada por dias dentro do quarto. Segundo o advogado, o ataque seria a melhor defesa, mas ela precisaria retornar ao Brasil para resolver judicialmente sua situação. Eu queria muito estar ao lado dela, mas estava sendo uma desavença com Enrico, que achava que eu precisaria me manter afastado durante aquele período. Até mesmo o advogado tinha feito essa orientação, pois Heitor poderia usar o fato de eu e Lia estarmos nos relacionando há mais tempo. O maior medo de Lia era ele descobrir que ela tinha se envolvido numa agência que prestava serviço de acompanhante de luxo, fato este que até eu, fazia questão de tentar esquecer. Isso com certeza, a prejudicaria muito.

Não era para ser assimOnde histórias criam vida. Descubra agora