Sonhos perturbadores.

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Depois disso Louis  se sentiu subitamente cansado e seus olhos mal se mantinham abertos, podia ter sido pela torta maravilhosa ou pelo suco divino ou pela sensação de segurança que sentia ali, mas o fato é que acabou se recostando no sofá e dormindo.

-Coitadinho, tão jovem e tão sofrido, mal posso acreditar que alguém queira machucar um garoto tão doce desses, você precisa fazer algo por ele meu filho.

-Eu sei mãe...O problema é que é ele.

Anne limpou as mãos no avental nervosa e olhou a figura que dormia ali na frente deles, os cabelos castanhos numa mistura adorável de chocolate e avelã, a pele muito clara e mãos pequenas soltas no colo, roupas largas e velhas e nenhum pingo de maldade no semblante.

-O rapaz dos seus sonhos? Aqueles sonhos cheios de sangue e dor? É ele!

-Sim, é ele, mas...Eu ainda não te contei tudo mãe...Nesses dois anos eu sonhei com ele sim, no meio de todo aquele sangue e com uma faca na mão,mas também sonhei com ele de modo diferente.

Anne se ajeitou melhor no sofá, a conversa estava ficando nervosamente interessante.

-Como assim de modo diferente? Um outro lugar? Porque você sabe que o futuro está em movimento e podemos sonhar com algo e então as coisas mudam por algum arranjo e vemos a mesma coisa mas em um outro lugar ou até mais adiante.

-Sim, eu sei, mas o sonho do sangue é o mesmo, o mesmo lugar escuro e tudo, mas eu sonhei com ele na minha cama, não tem jeito melhor de dizer isso e é meio constrangedor mãe...Mas eu estava fazendo bem mais do beija-lo nesses sonhos e estava explodindo de felicidade.

-Oh! Entendo...E embora Anne estivesse chocada com a franqueza de seu filho um mínimo sorriso se abriu em seus lábios rosados e não conteve a risada que veio a seguir, e que deixou Harry corado pela primeira vez em anos.

-Mãe! Porque está rindo, é sério!

-Desculpe filho, eu te vejo como um homem adulto e tudo, mas sabe...Pra mim no fundo você sempre será meu menino e embora eu tenha te visto namorar nesses anos todos, nunca antes me disse algo assim tão diretamente e eu estou achando divertido, desculpe por isso, mas devo admitir que o rapaz ali é lindo, você tem bom gosto.

Harry riu também, é claro que você não planeja contar para a mãe que sonhou com um cara na sua cama, mas quando sua família leva os sonhos tão a sério quanto a dele, isso é bem necessário, eles são sonhadores, sonham com o futuro com uma clareza espantosa, já ajudaram a cidade mais de uma vez e na verdade muito recentemente Harry ajudou seu país, assim como seus pais já fizeram antes com seus dons de premonição fascinantes e incontestáveis, e muito provavelmente o farão de novo se forem solicitados, o respeito que o governo tem com sua família remonta gerações, mas até hoje Harry nunca soube de outra família ou mesmo algum indivíduo capaz de ter o mesmo dom, até encontrar Louis.

-Mãe, acredito que Louis seja como nós, ele sonha e seus sonhos são como os nossos, acho que foi assim que eu me conectei a ele, e é assim que ele está fugindo desse tal Observador, seja ele quem for.

-Nunca soubemos de outros meu filho, pelo menos não fora de nossa família, mas claro que é possível, mas agora acho que deve levar ele para o quarto de hospedes e deixa-lo dormir, ele está muito cansado, parece que não dorme bem a dias, assim como não deve estar comendo bem, pretende leva-lo depois para a sua casa ou um abrigo?

-Minha casa, é claro...

Anne riu, ela tinha certeza disso, mas o sonho da faca e do sangue ainda a preocupava um pouco.

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