Maio
— Querido, pode nos dizer seu nome? — perguntou a Sra. Abigail, apoiada na mesa.
Debaixo da luz provinda da lâmpada na cozinha, Nathan pôde perceber que o garoto não era tão novo quanto imaginara. Provavelmente teria mais do que doze anos, ao contrário do que anteriormente pensara, devido aos detalhes que agora podia enxergar com mais nitidez. O formato do rosto, os poucos pêlos que tinha pelo corpo e a estrutura óssea de suas mãos indicavam que era mais velho do que sua altura indicara.
O garoto, com as pernas curvadas de forma com que ficasse de cócoras, se encontrava em um dos cantos da cozinha, ao lado da mesa de jantar. Os olhos escuros, que Nathan descobriu serem negros, disparavam pela cozinha e alargavam-se ao som de qualquer ruído proeminente. A pele morena estava não só coberta por sujeira e sangue, como que por cicatrizes também. Nenhuma era tão profunda a ponto de chamar atenção ao passar os olhos, porém Nathan fora analítico o suficiente para vê-las. Aprendera em sua residência no hospital que, tratando-se de pacientes, toda atenção é pouca, especialmente quando se trata de vítimas de eventos traumáticos.
— Mãe, já perguntei isso. Não acho que ele vá responder — afirmou Nathan, dando um passo em sua direção apenas para vê-lo quase unir-se à parede novamente. Suspirou, recuando o passo que dera.
— Nathaniel, não acha que devemos ligar para um hospital ou para a polícia?
— Mãe, eu sou médico — lembrou-a ao encarar o rosto preocupado da mãe. Aproximou-se o suficiente para falar baixinho com ela. — Ele está assustado, não acho que devemos chamar ninguém até que se acalme. Mas sim — imendou, encarando os olhos azuis da mãe —, devemos chamar a polícia. Vou tentar tratar os ferimentos visíveis, como o do joelho. Assim que eu me certificar de que ele está bem ou que, pelo menos, me diga seu nome, eu chamo quem tiver que chamar. Está bem? — Perguntou, vendo a mãe suspirar antes de encarar o menino mais uma vez.
— Está bem, querido — confirmou. — Eu vou subir e colocar uma roupa decente — contou, apontando para o robe que usava. — Aviso o seu pai para não descer e não assustá-lo ainda mais.
— Obrigado. — Nathan deixou um beijo em sua testa antes que ela se retirasse.
Voltou os olhos para o garoto, nem um pouco surpreso ao encontrá-lo o observando também. Caminhou em direção à sala, pegou um kit de primeiros socorros que arrumara para os pais e voltou à cozinha, encontrando-o no mesmo lugar em que o deixara. Aproximou-se mais uma vez, ficando de cócoras também, em frente à ele. Uma distância de pelo menos um metro os separava, mas era visível que o menor não estava à vontade com a aproximação, apesar de tudo.
— Meu nome é Nathan — disse a ele com um sorriso amigável. — Eu sou médico — contou. — E sou dos bons. Será que não posso me aproximar mais um pouco e cuidar do seu joelho machucado? Prometo que não vai doer — afirmou. Olhando para as escoriações no garoto, no entanto, se perguntou se ele realmente era capaz de sentir dor, visto a quantidade de machucados antigos que havia em sua pele.
Nathan pegou um pequeno vidro de soro fisiológico e um pedaço de gaze para a limpeza, um em cada mão. Ergueu-as para mostrar a ele que não segurava nada além disso e sorriu novamente. Aproximou-se pouco a pouco, vendo que o cenho franzido do menor aprofundava a cada centímetro que Nathan chegava mais perto. Porém, não se mexeu. Tampouco recuou para trás, para a parede. Apenas o observou ao passo que avançava em sua direção.
Assim que Nathan chegara perto o suficiente para sentir o cheiro de sangue e suor provenientes do garoto, molhou a gaze com o soro e encarou as órbitas escuras do garoto.
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Lucca
Romance#Longlist do Wattys 2018. Lucca fora encontrado em estado deplorável, envolto por uma peculiaridade gritante, na casa onde Nathan crescera. Incapazes de sacar-lhe as informações necessárias para descobrir o porquê do garoto não possuir sequer uma...