XXVI. Children

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Junho

Algumas semanas se passaram até que o psicólogo atual de Lucca autorizasse a visita à uma instituição infanto-juvenil. Especificadamente, a visita à instituição acolhedora Humanitarian Hope, sugerida por Lisa e indicada por Gloria. Tratava-se de uma instituição residencial de acolhimento, com crianças de até dezoito anos, e embora tomasse conta de mais de trinta crianças e adolescentes, a instituição já não mais era considerada um orfanato, embora abrigasse um número alto de crianças. Haviam poucos destes restantes no país, visto que este tipo de sistema estava sendo derrubado aos poucos, em direção à um melhor e mais eficiente para as crianças acolhidas. E a HH já havia evoluído muito neste aspecto, desde o momento em que fora fundada quase sessenta anos antes.

Nigel sugeriu que Abigail ficasse em casa desta vez, porque a mulher estava tão preocupada com a reação de Lucca que acabaria deixando-o nervoso por si só. Com isto, foram apenas os dois no veículo já mais antigo do que o Walker gostaria de admitir, em direção à cidade vizinha, Geneviel. Nigel, apesar de apreensivo com a viagem, pôde observar que Lucca não parecia estar querendo sair pela janela, embora tivesse o corpo inteiro tenso pelo movimento do carro. Já houvera começado a acostumar-se com tal.

A fachada principal era um tanto simples, assemelhava-se à uma comum residência, embora fosse enorme e bem conservada com o tempo. O portão era simplório, e não havia qualquer tipo de segurança antes que o grande caminho esverdeado acabasse na entrada da residência. Os dois permaneceram ali, no porche de entrada, após tocarem o interfone e anunciarem seus nomes, antes de passarem para o hall de entrada, onde havia um grande e sério segurança e uma secretária.

Tão logo ajeitaram suas identificações, uma das professoras com tempo livre apareceu para acompanhá-los na visita, a Srta. Julia.

— Não estamos muito acostumados com visitas, para falar a verdade — disse ela, com um sorriso de canto, ao indicar-lhes as duas grandes portas em direção à instituição. — Geralmente, temos três, quatro escolas que trazem os estudantes para conhecer um pouco desta realidade e para contribuir. Este ano recebemos apenas uma e um jornalista que estava pesquisando esta área.

Nigel assentiu, enquanto Lucca se perdia nos detalhes da sala principal. Os quadros, os retratos, os móveis lustrados, o lustre antigo, um segurança - que de segurança nada exalava, devido aos traços simpáticos e a idade - até pararem em um grupo de crianças muito pequenas. Eram cerca de seis, entre quatro e nove anos, e estavam sentados em forma de índio no tapete, de frente para uma professora, que lia uma história com bastante desenvoltura.

— Estamos muito contentes em recebê-los, na verdade — continuou ela, relanceando Lucca. — Sabemos da história de Lucca, é claro, por conta da televisão e por ter ocorrido logo aqui ao lado. — Nigel assentiu, mas Lucca sequer prestava atenção, com os olhos fixos nas crianças. — Apesar de haver sido uma honra recebê-lo sob nossos cuidados, ficamos muito felizes que ele tenha encontrado uma família sem acabar no sistema.

Nigel sequer conseguia pensar a respeito, sobre ter Lucca longe deles no momento, já que o garoto havia iluminado aquela casa.

— Obrigado, nós também. — Sorriu, passando uma das mãos sobre os cabelos desgrenhados de Lucca, que despertou do transe e ergueu os olhos negros para o Walker. — Quantos vocês abrigam? — perguntou ele, interessado, ao voltar a atenção à Julia.

— No momento, temos trinta e oito crianças e adolescentes — respondeu ela, não deixando passar desapercebido a surpresa do mais velho. — Eu sei, são muitas. Este é um dos principais motivos que levam à instituições como a nossa fecharem.

— Oh, eu não quis dizer...

— Não se preocupe — interrompeu ela, sorrindo. — Temos assistentes sociais, professores, orientadores, enfermeiros, uma médica, pedagogos, guardas, estagiários. Somos uma grande equipe, que compensa o número de abrigados, e estamos totalmente dentro da lei. — Era possível ver, antes que chegassem nas grande portas pelas quais passariam em seguida, a quantidade de portas que desencadeavam em salas adaptadas para estudos, lazer e brincadeiras. — Venham, estamos quase lá.

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