V. Em paz

145 30 2
                                    

Maio

O cheiro de café que inundava o local adentrou nas narinas do médico assim que ele pôs os pés dentro da pequena delegacia. Olhou ao redor, passando os olhos pelos poucos policiais que trabalhavam com afinco, correndo de um lado ao outro, cheios de papelada. Era notável que a chegada da I.E.C havia virado o local de pernas pro ar. Nathan inspirou fundo antes de caminhar a passos largos em direção à mulher negra que, aparentemente, estava encarregada de atender os cidadãos que ali chegavam.

O médico passara horas dando voltas em sua mente até criar coragem e pedir o dia de folga a Russell, sabendo que obteria seu apoio. Em seguida, seu corpo já havia criado vida própria quando dirigira até a cidade natal, sem ao menos chegar em casa para trocar de roupa.

— Estou aqui por Lucca — disse Nathan de forma direta à mulher bonita. Esta ergueu as sobrancelhas antes de assentir, girando o rosto ao gritar pelo nome do xerife.

— Nathan — exclamou Gerard assim que saiu de seu escritório, com um sorriso no rosto cansado. As olheiras eram bastante visíveis e o homem parecia mais magro desde a última vez em que o vira. — Que bom que você apareceu. Sua mãe disse que você o faria, mas eu não estava tão certo.

Claro que ela diria, pensou Nathan.

O flash característico de câmeras fez com que o médico fechasse a boca mais uma vez antes de responder. Girou o rosto e pôde vislumbrar, pela janela, um jovem adolescente do lado de fora segurando a câmera que, segundos antes, havia disparado. Antes que pudesse terminar o raciocínio de que o jovem loiro estava ali devido ao caso mais misterioso do momento, uma movimentação ao lado deste se fez presente de forma rápida.

O fotógrafo de aproximadamente vinte anos de idade deu um pulo entre os arbustos e se pôs a correr. Ou melhor, tentou pôr-se a correr. Antes que o fizesse, no entanto, fora agarrado pelo braço por um policial musculoso e muito irritado. Não demorou dez segundos para que mais dois policiais também rodeassem o jovem, tomando a câmera de suas mãos ao passo que este visivelmente reclamava. Nathan não pôde ouvir o que ele dizia, indignado, devido à distância que os separava.

— Não é o primeiro e certamente não será o último.

A voz do xerife chamou a atenção do médico, que voltou os olhos ao rosto cansado. Gerard balançava a cabeça com indignação antes de soltar um suspiro. Nathan voltou os olhos ao lado de fora da delegacia, mas a policial que lhe atendera um minuto antes fechara com convicção a cortina em frente à janela de vidro. Nathan olhou novamente para o xerife, que apontou com a cabeça antes de explicar.

— Os fotógrafos de plantão — explicou, o cenho franzido. — Têm deixado meu pessoal de mau humor. Muitos vieram desde que o caso de Lucca saiu na televisão, assim como os jornalistas. Ou os projetos de jornalistas. — Ergueu uma das sobrancelhas e Nathan entendeu que ele falava dos estudantes do curso. — Venha — disse, balançando a cabeça e virando em direção à um dos corredores do local. — Vou levá-lo até o garoto. Foi para isso que veio, não?

Nathan hesitou por um segundo antes de concordar com a cabeça.

Sim, foi para isso que pedira o dia de folga, atrasando seu trabalho e seus estudos, e dirigiu até a cidade natal mais uma vez dentro do mês. Foi para ver o garoto, falar com o garoto ou sabe-se lá o que exatamente sua mãe tinha em mente ao dizer que o médico seria de ajuda ao menor. Nem ao menos sabia, percebeu Nathan, o que exatamente fora fazer ali.

— Certamente — murmurou de forma tardia ao seguir o xerife pelo corredor cheio de portas. O mesmo tagarelou um pouco sobre o caso e sobre a equipe de investigação que chegaria dentro de uma hora. Nada que Nathan já não houvera sabido a partir da mãe.

LuccaOnde histórias criam vida. Descubra agora