XI. Ik heb jou gemist

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— Lucca! — O grito escapou da garganta de Nathan antes que pudesse controlar.

Em segundos, o médico pôs-se a correr atrás do garoto que, com passos rápidos, disparou em direção ao muro dos fundos da casa. Nem sequer tivera a chance de raciocinar a respeito das pernas ligeiras do garoto, que corria estranha e perfeitamente bem. Tampouco tivera tempo de chegar à conclusão de que devia ir atrás dele, seguindo seu instinto e seu corpo que pôs-se a movimentar de forma semelhante à de Lucca, pulando o muro e seguindo o menor.

O que acontecera, de forma tão rápida que apenas os instintos, tanto de Lucca quanto de Nathan, puderam reagir, estava ainda a se ponderar.

Nathaniel passara o início da manhã envolvido com toda a peculiaridade do garoto de olhos escuros, divertido e focado demais para se importar com qualquer outra coisa. Ou qualquer outra pessoa. Os mesmos olhos selvagens invadiram a visão do médico assim que o mesmo acordou pela manhã.

Lucca estava de cócoras, como sempre, ao lado do colchão velho de Gabriel. Tinha a cabeça levemente inclinada e o cenho franzido de forma curiosa, toda a atenção voltada ao médico adormecido. Os cabelos castanho-claros, devido ao sol, faziam sombra em seu rosto. Mais compridos e emaranhados do que seria adequado, os mesmos cobriam boa parte do rosto magro. Nathan, assim que acordou, não soube dizer a quanto tempo estava sendo observado pelo menor. Imaginou que tampouco Lucca soubesse responder, restringindo-se de perguntá-lo.

O médico não quis investigar seu passado como da última vez, limitando-se a observar o quanto Lucca evoluíra durantes os meses que passara longe de casa. Deixou um sorriso espalhar por seu rosto ao se dar conta que, embora talvez não fosse o mesmo para Lucca, já considerava sua casa como o lar do garoto. Tratou de testar os limites do mesmo, tentando aproximar-se, usando palavras difíceis, fazendo perguntas mais elaboradas. Com exceção da aproximação, todos os resultados observados pelo médico foram positivos.

Já passava das dez horas da manhã quando levou Lucca até a parte traseira da casa, onde o encontrara meses antes. Mostrou-lhe a árvore formosa, de tronco largo e raízes longas e profundas. Ainda podia ser visto o esqueleto do que um dia fora sua casinha da árvore no alto da mesma. Apontou e discursou mais um pouco, como estava acostumado a fazer.

— O que acha? — Nathan indicou a árvore mais uma vez, sorrindo. — Gostaria que fosse sua?

Lucca, pensou Nathan, parecia um índio na exposição à luz do sol.

A pele escura e os cabelos castanho-claros, ambos devido ao sol, os olhos negros e a selvageria em cada pedaço dele, as cicatrizes pequenas espalhadas pelo corpo devido às aventuras na floresta. Estava vestido em roupas largas e usando apenas meias, já que não gostava de calçados. Tudo nele lembrava a Nathan de índios, o que o fez sorrir ao vê-lo se movimentar como um íman em direção àquele pedaço de natureza bela.

O garoto aproximou-se aos poucos da monstruosa árvore. Espalmou a mão magra no tronco da mesma, o rosto tão pacífico e cativado que Nathan segurou-se para nada mais dizer. Aproximou o rosto cada vez mais perto da árvore, como se para sentir o aroma da mesma, e fechou os olhos brevemente. Tão breve que Nathan ponderou se houvera imaginado.

— Gostaria — repetiu Lucca, voltando os olhos para Nathan.

— Então agora é — respondeu prontamente, sentando-se em uma das grossas raízes.

Lucca, em movimentos cuidadosamente calculados, dobrou os joelhos devagar até que estivesse sentado também em uma das raízes da árvore. Como sempre, parecia preparado para pular em qualquer momento, caso houvesse alerta de perigo. Nathan apenas sorriu ao observar o rosto, clareado pelo sol, do menor.

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