XXXI. Waves

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Setembro

A manhã daquele início de setembro, que tinha tudo para ser comum, começou de forma conturbada.

Lucca acordara primeiro, esfregara os olhos, sentando em sua cama, antes de relancear um médico que, como de costume, estava pregado no sono. Foi apenas quando se movimentou na cama que percebeu o que havia de estranho. Arregalou os olhos, encarando o próprio corpo antes de correr para o banheiro, batendo a porta na pressa.

Nathan despertou com o barulho, erguendo-se com preguiça, mas com sono demais para estranhar o ocorrido. Levantou-se com lentidão depois de checar o horário, dobrando as roupas de cama e erguendo o colchão de Gabe já fino pelo uso constante. Caminhou até o corredor, relanceou a porta cerrada do banheiro e o ruído do chuveiro antes de decidir ajeitar a cama do garoto.

Lucca, apesar de todas as circunstâncias relativas a ele, sempre foi disciplinado com relação a casa. Sempre arrumava a cama assim que despertava, e Nathan raciocinava a respeito enquanto puxava os lençóis para dobrá-los. Ao mesmo tempo em que o cérebro sonolento se dava conta da estranheza da situação - já que Lucca levantou com pressa, não arrumou a cama e agora estava tomando banho -, pôde discernir uma mancha na roupa de cama que arrumava.

Franziu o cenho, puxando o lençol para ver de perto, por um segundo imaginando se Lucca não houvera tido um pesadelo a ponto de molhar a cama. Estava enganado. Engoliu em seco, sabendo imediatamente do que se tratava.

— Nathan, você é médico.

Nathaniel, na cozinha após contar o ocorrido para a família, negava com a cabeça feito uma criança. Era médico formado, sim, e em menos de um ano estaria realizando a primeira etapa como cirurgião aprendiz*, mas não queria ser médico naquele dia.

— Mas, mãe... — pediu ele, nervoso. — Eu não vou ter essa conversa com o Lucca. É o Lucca! — explicou, precariamente, ao gesticular.

Gus, sentado na mesa ao mastigar um pão, riu com a boca cheia, mas disfarçadamente pra não chamar a atenção dos dois. O pai, que estava sentado de frente para o caçula, balançou a cabeça, como se concordasse com o divertimento de Gus, antes de tornar a beber seu café.

— Nathan, pelo amor de deus, menino! — reclamou Abigail, com a mão na cintura, como se Nathaniel fosse uma criança levando bronca.

— Pai? — chamou ele, como em um último recurso, assumindo de vez o papel de criança.

Nigel ergueu o olhar de sua caneca, como se certificasse-se de que era mesmo com ele, antes de erguer os ombros.

— Não, eu não sirvo pra essas coisas — disse com calma, antes de retornar ao seu café. Gus reprimiu um riso.

— Nathan, é você quem tem que fazer isto. Você sempre sabe o que dizer, com tato, para o garoto, sempre soube como lidar com ele — argumentou ela, com carinho.

O médico ficou estático por um instante, como se considerasse a respeito. Mas, ao imaginar o constrangimento de ter que repetir as explicações – e certamente teria, pelo raciocínio diferenciado do Lucca -, e ao imaginar as espécies de perguntas que ele inocentemente faria, desanimou mais uma vez.

— Bom, agora eu não sei! — exclamou, abrindo ao braços de forma exagerada. — É o Lucca! — repetiu, como se fosse um argumento.

A mãe revirou os olhos, o pai limitou-se a rir e Gus, terminando de tomar seu café, empurrou a cadeira para trás para se levantar.

— Quer saber? — questionou, impaciente. — Eu converso com o garoto!

Nathan alargou os olhos, pensando no tipo de conversa que Gus teria com Lucca. Abriu a boca para retrucar, assim que Gus deu as costas para subir as escadas, mas o olhar repreendedor da mãe o calou.

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