XIX. Indecifrabile

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Fevereiro

— Muito bem — dizia Nathan, sorrindo. — Agora me alcance o alicate — pediu, vendo os olhos de Lucca desviarem para a caixa de ferramentas e voltarem para si, confusos. — Aquela ferramenta que parece com uma tesoura.

Lucca assentiu e entregou a ferramenta nas mãos de Nathan, que estava praticamente pendurado na escada prática.

Abigail afastava-se das panelas do almoço, vez ou outra, para relancear os três homens da casa em função da construção de madeira, a partir da janela da cozinha. Achava curioso os diferentes estágios de vida em que os três se encontravam.

O marido, em seus repletos cabelos brancos e a expressão cansada depois de duas horas em função da mesma coisa. O filho, no auge da juventude, em seus vinte e oito anos, flexionando os braços com estusiasmo ao enroscar um dos parafusos com força na base de madeira. E o filho adotivo, o garoto perdido, na flor da idade, dando assistência com o rosto relaxado e os olhos curiosos. Abigail sorriu, pensando que devia lembrar-se de tirar uma foto mais tarde.

A reconstrução da casa da árvore havia começado cerca de um mês e meio antes, com Nigel no comando. Nathaniel ajudava quando aparecia na cidade e as coisas andavam de forma duplamente mais rápida quando ele estava por perto. Lucca, apesar de não parecer, era de muita ajuda, ainda mais quando Nathan estava por perto. Abigail sentia que o garoto se esforçava mais, talvez para se mostrar capaz, quando o médico estava ao seu lado.

Nigel se encontrava em cima da base da casinha, pregando as paredes da mesma, enquanto Nathan ficava encarregado da porta da casa, postado em cima da escada. Lucca havia ficado em solo seguro, no meio daquele monte de madeira e ferramentas, e entregava tudo que lhe era pedido. Vez ou outra subia na escada com Nathan, segurando algo que ele lhe pedia para facilitar o trabalho.

— Olha só — dizia Nathan, limpando a testa com o braço —, estou começando a ficar com um pouco de inveja de você — falou, olhando para baixo. Sorriu. — Nem mesmo a minha casa da árvore era tão sofisticada!

O riso de Nigel se fez presente, enquanto seu rosto aparecia próximo ao do filho, balançando a cabeça.

— Devia mesmo — disse ele, espiando também o garoto na grama. — A casinha de Nathan era menor do que esta vai ser, Lucca. Você vai poder colecionar muito mais besouros — falou, rindo quando Nathan revirou os olhos.

— Insetos são divertidos — resmungou ele, tentando convencê-lo.

— Insetos picam — disse Lucca, lá embaixo. Nathan, perplexo, desviou os olhos para o garoto, que dava de ombros. Estreitou os olhos.

— Nem mesmo você... — reclamou, mas o sorriso teimava em aparecer em seu rosto.

Lucca permitiu-se sorrir também, entendendo a frustração do mais velho. Gostava de entender o que acontecia à sua volta. E gostava de entender Nathaniel, para variar um pouco.

— Meninos, o almoço está quase pronto — avisou Abigail, aparecendo na porta da cozinha com um arquear de sobrancelhas. — Vão se lavar logo!

Já cansados do trabalho duro, sequer se incomodaram em retrucar, os mais velhos descendo da árvore enquanto que Lucca os aguardava na grama. A casinha da árvore já tomava forma, e era certo que em pouco tempo já estaria pronta para o uso pessoal de Lucca.

Como haviam apenas dois banheiros na casa, cada um enfiou-se em um, e Nathaniel esperou no quarto até que Lucca terminasse o seu. Retrucando que não queria e fazendo cara feia, Lucca desistiu ao ver que Nathan não cederia e encaminhou-se para o chuveiro.

A verdade era que Lucca adorava os banhos. Adorava ficar desprovido das roupas, livre e solto, e sentir a água morna na pele. O que não gostava era de ter que entrar embaixo do chuveiro, pelo costume de só tomar banho em dias de chuva, sem sabão ou shampoo. Uma vez que entrava, no entanto, não queria sair. Exatamente como qualquer garoto na infância.

LuccaOnde histórias criam vida. Descubra agora