Maio
Nathan sentia a cabeça pesar, e não mais tinha a certeza de que o motivo fosse o cansaço. As pessoas que passavam em seu entorno não eram mais do que vultos e as vozes se assemelhavam a um emaranhado de notas musicais. Os movimentos do moreno eram calculados: observava o paciente, anotava os sintomas e as prescrições, respondia as perguntas e então caminhava em direção à próxima maca. Não cometia erro algum, visto que usava das informações contidas em seu subconsciente. Porém, se alguém perguntasse no fim do dia quais foram os casos de que Nathan houvera assumido, ele certamente não saberia responder.
Seus pensamentos, durante horas, estavam em Cherub Field. Variavam entre as recordações do que passou e as suposições do que iria passar mais em frente. Sua cabeça se assemelhava a um disco arranhado. De novo, de novo e de novo, podia ver o rosto de Lucca em sua mente. E os olhos, tão escuros quanto a noite, estavam grudados em sua cabeça como chiclete.
Uma semana se passara e Nathan permanecia com dor de cabeça, ansioso e com a mente bem longe de onde estava seu corpo. Não obteve muita notícia a respeito de Lucca, além do que havia sido contado por sua mãe, a partir de informações fornecidas por Gerard: se recusava a falar mais do que poucas palavras, não entendia outras e o comportamento anormal permaneceu por cada segundo. A polícia da pequena cidade, assim como a Assistência Social não tinham recursos necessários para progredir com Lucca. No entanto, ficara bastante claro que toda a estranheza que envolvia o garoto era puramenta genuína.
— Walker!
A voz grave atingiu seus ouvidos de forma esmagadora. Virou o rosto, desnorteado pela mudança em seu ritmo robotizado. Seu chefe, Russell, se aproximava a passos largos. Assim que chegou ao seu lado, ergueu as sobrancelhas grossas ao descer os olhos pela vestimenta de Nathan. O mais velho mal podia acreditar que seu residente, anteriormente seu estudante interno, tinha a capacidade de andar tão desleixado pelo hospital.
— Senhor? — Perguntou Nathan, dirigindo-se ao mais velho.
— Você precisa de uma folga? Está parecendo um morto-vivo — reclamou ele, os olhos atentos em Nathan. Este limitou-se a negar com a cabeça, mas antes que respondesse, fora interrompido pelo chefe. — O garoto foi encontrado em sua cidade natal, não foi? — Perguntou, surpreendendo a Nathan.
— Sim, foi lá — afirmou, confuso. Sabia que toda a história de Lucca estava repassando na televisão várias vezes, já que houvera visto algumas destas. Mas não tinha ideia de que seu chefe relacionaria à si o garoto perdido.
— Suponho que não exista muitos Walker's em Cherub Field — continuou o homem mais velho, como se lesse seus pensamentos, erguendo uma das sobrancelhas sugestivamente. Nathan fechou os olhos.
— Claro que apareceria o nome da família que o socorreu — murmurou.
— Claro — afirmou Russell, sorrindo. — Precisa da folga ou não?
— Não, obrigado — disse Nathan, ainda confuso. — Estou bem.
— Lembra de Emily Gilbert, ano passado? Ela havia sido espancada, se lembra? — Nathan assentiu. — Beatrice houvera passado por algo parecido e eu tive que tirá-la do caso, visto que estava afetando seu trabalho. Como cuidador de vocês, tenho o dever de fazer o melhor para os mesmos, de forma que não afete o hospital. O caso do garoto não ocorrera aqui, mas certamente está lhe afetando, Walker. Me entende, não é?
Nathan suspirou, deixando os ombros caírem.
— Sim, senhor — falou, olhando-o nos olhos. — Mas não está afetando meu trabalho, como o senhor deve ter percebido.
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Lucca
Romance#Longlist do Wattys 2018. Lucca fora encontrado em estado deplorável, envolto por uma peculiaridade gritante, na casa onde Nathan crescera. Incapazes de sacar-lhe as informações necessárias para descobrir o porquê do garoto não possuir sequer uma...