Novembro
— Três semanas já se passaram e ainda não me acostumei com este cachorro — contara Abigail, os olhos azuis presos nos de Sassenach, que também a encarava.
Nathaniel riu, sentando-se na cadeira da cozinha e fazendo carinho no husky de pêlos bonitos. Sassenach latiu, virando-se de barriga para cima ao abanar o rabo com fervor. Os olhos azuis da família, como o médico brincava, estavam semi-abertos devido à extensa felicidade com apenas alguns segundos de carinho.
Apesar de desconfiado, assim como seu dono, o husky não levou mais do que apenas algumas horas para que Nathan conquistasse sua confiança. Três semanas depois, já recebia lambidas e sacudidas de rabo por toda a casa. O médico indagou como seria se o dono de Sassenach fosse tão facilmente entregado como ele.
— Eu me acostumei no primeiro dia — revelou Nathan, rindo da sobrancelha arqueada da mãe. — Ora, ele é a família de Lucca também. Parece-se com ele, não acha? — indagou, encarando os olhos estreitos do cachorro, devido à mão que parara de acariciá-lo. — Um pouco mais desregrado que o dono, é claro, mas que cachorro não é?
Riu alto quando Sassenach latiu em resposta, como se concordasse veemente com suas palavras. A mãe, que lavava a louça com calma, girou o rosto mais uma vez para sorrir.
Passou-se menos de um segundo para que Sassenach sentasse em um pulo, a língua voltando para dentro da boca ao passo que mexia as orelhas. Nathan arqueou a sobrancelha, já reconhecendo a atitude do husky, antes de girar o rosto para a porta da cozinha. O mesmo pôs-se a latir enquanto corria para a porta e sumia de vista. Nathan desviou os olhos para a mãe, que balançava a cabeça como se também já entendesse a comunicação silenciosa entre os dois.
Em seguida, Lucca apareceu na cozinha com os cabelos molhados, Sassenach pulando e latindo à sua volta com alegria. Gloria apareceu logo após, um sorriso tranquilo no rosto.
Nathan apontou para o caderno na mesa de jantar, no qual estivera trabalhando durante a tarde, assim que Lucca aproximou-se o suficiente. Uma ruga formou-se entre suas sobrancelhas quando ele percebeu de que se tratava, seguido de uma careta desgostosa. O médico deu de ombros, sorrindo.
— Você precisa treinar, sabe disso — alertou, indicando a cadeira para que se sentasse, mas foi ignorado. — Fiz exercícios simples, como o da Sra. Jones, para você fazer. Tenho certeza que consegue — confirmou, sorrindo para lhe dar um pouco de incentivo.
A Sra. Jones fora contratada especialmente para lidar com os estudos de Lucca. Começara com uma análise parcial do nível de conhecimento do mesmo. Assim soube por onde começaria: as letras. O aprendizado de ler e escrever geralmente dá-se junto, aos poucos, em uma combinação dos dois. Os exercícios eram muito simples: imitar as letras do alfabeto e repeti-las verbalmente. Diversas vezes. A primeira tarefa não era muito complicada para Lucca, já que aos poucos aprimorou sua caligrafia de acordo com as demais (todo mundo ajudava com suas tarefas). A segunda tarefa, no entanto, gerava um conflito de interesse. Era notável que Lucca não gostasse muito de usar sua voz, ainda mais quando se eram requeridas palavras específicas dele, lê-se: teimosia. No entanto, a complicação deu-se por conta de que não era possível saber se ele houvera entendido qual a pronúncia de cada letra ou se o fato de poupar sua voz o poupava também de aprender.
Nathan houvera dirigido para a cidade natal todo fim de semana, nas poucas horas que tinha livre, o que nem sempre continha um fim de semana inteiro. Havia chegado na residência dos pais na parte da manhã e voltaria de madrugada, indo direto para o hospital. Aproveitou o momento em que Lucca tomou para banhar-se, para fazer um rascunho dos exercícios de repetição. Se o garoto estava se recusando a colaborar na segunda parte dos exercícios, ao menos o médico poderia certificar-se de que a primeira parte, a da escrita, fosse completada perfeitamente.
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Lucca
Romance#Longlist do Wattys 2018. Lucca fora encontrado em estado deplorável, envolto por uma peculiaridade gritante, na casa onde Nathan crescera. Incapazes de sacar-lhe as informações necessárias para descobrir o porquê do garoto não possuir sequer uma...