XIII. Sem saída

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Novembro

— Não sei do que você está falando — disse o homem de cabelos grisalhos, um sorriso de canto em sua boca. Usava uma roupa social, e tinha uma aliança em sua mão esquerda.

Lisa Clark e Grace Collins se entreolharam em uma comunicação silenciosa antes de voltarem os olhos para a sala interior de interrogatório. A psicóloga e a agente federal estavam observando em silêncio o interrogatório que se desenvolvia atrás do vidro, Luke Hemming no comando.

— Não sabe? — perguntou o agente, as sobrancelhas claras erguendo-se em uma falsa surpresa antes que se sentasse novamente em frente ao sujeito. — Engraçado. Um de seus subordinados, o... — Tomou uma pausa para juntar sua planilha na mesa e checar o nome. — O doutor Kress afirmou que nunca havia posto os olhos no "garoto selvagem".

— Kress está falando a verdade, assim como eu — falou ele, colocando a mão no peito como se estivesse ofendido com as dúvidas de Hemming acerca de si.

No entanto, foi a vez de Hemming de deixar aparecer um sorriso de canto.

— Ele afirmou isto antes de eu sequer mencionar o garoto — contou, cruzando os braços, com a sobrancelha arqueada. — O que é um tanto surpreendente, já que eu não sabia que cientistas eram psíquicos também.

A postura do Dr. Robert Miller cedeu minimamente antes que ele desse de ombros.

— Kress é um idiota, agente — comentou, estalando a língua —, mas não é burro. O Ph.D do rapaz é bastante prova disto. O país inteiro sabe que vocês estão investigando as origens do garoto, é muito óbvio que as investigações inconvenientes — falou, enfatizando a última palavra —, em meu laboratório, têm a ver com este caso.

— Deixe-me ver se eu entendi, doutor — disse Hemming com ironia. — Você está me dizendo que, apesar de viver praticamente vinte e quatro horas por dia em seu precioso laboratório, não viu garoto algum. Nem você e nem sua equipe — acrescentou, vendo-o assentir com a cabeça de forma pacífica. No entanto, Hemming não parou. — Apesar do laboratório ficar na divisa entre Cherub Field e Amoran e afastado de ambas as cidades, perigosamente próximo da floresta — falou, vendo o pequeno sorriso de Miller tornar-se em lábios pressionados com seriedade e irritação. — Muito, mas muito próximo de onde ocorreu o incidente de sete anos atrás. Ou seja, próximo de onde Lucca passou boa parte dos últimos anos. — Luke escorou-se em sua cadeira, o cenho franzido. — É isto que está me dizendo?

O cientista deixou um sorriso espalhar-se por seu rosto à medida que balançava a cabeça negativamente, divertido com a situação. Hemming teve de apertar os punhos por debaixo da mesa com o intuito de não pular em Miller e apertar o seu pescoço.

— O empenho de vocês, agentes federais, me impressiona de verdade — disse ele, cruzando os braços em cima da mesa. — Sim, é exatamente isto que estou dizendo. Somos cientistas empenhados, agente, e sequer temos tempo de sair porta afora e observar a linda paisagem destas florestas imensamente magníficas. Vamos mudar o futuro da nação com nossa pesquisa, e isso não requer tempo livre. Pelo contrário, Hemming — contou, o sorriso irritante ainda flutuando em seu rosto. — Fico aliviado, no entanto, que o garotinho tenha agentes tão determinados atuando na resolução de seu caso. Ele tem sorte, o que traz uma imensa paz ao meu coração.

Hemming, sem sequer esperar a última palavra proferida por Miller, levantou-se e chocou seu punho contra a mesa com uma irritação absurda. O semblante sombrio, tomado de impaciência, não fez com que o sorriso do cientista sumisse. No entanto, fez com que o mesmo recuasse para trás o suficiente para encostar as costas na cadeira.

— Ele não é um simples garotinho! — esbravejou, o rosto tomado pela cor avermelhada.

— Luke? — A voz de Grace tomou conta do pequeno interrogatório, a partir do sistema de som, chamando a atenção do irritado agente. — Pode vir aqui um instante?

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