XXX. Cambios

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Agosto

— Bom garoto!

Nigel o parabenizou, afagando os cabelos emaranhados de Lucca por um rápido momento, certo de que o garoto se afastaria caso se demorasse demais.

Era uma tradição de família que o velho Walker ensinasse os filhos a cortarem grama. Não queria deixar isto de lado, apesar de Lucca não querer chegar perto daquela máquina barulhenta. Por isto, Nigel decidiu que podia mudar um pouco a tradição para que a mantivesse, e o ensinou a aparar as ramificações e árvores que serpenteavam o jardim.

Para sua surpresa, apesar de desajeitado, Lucca pegou o jeito em pouco tempo. A tesoura para jardinagem era grande, mas depois de algumas tentativas, sua atividade surgiu efeito. Nigel sabia que as plantas não estariam muito bonitas nas mãos de Lucca, mas o importante é que o jardim não se transformasse em um matagal. E bom, que ele passasse por mais uma tradição de família.

Lucca se esforçou, tentando ao máximo deixar as folhagens simétricas, mas não obteve tanto sucesso. Nigel não parecia se importar, então ele não se importou também. Gostava de ficar lá fora, e o cheiro de terra e das folhas que caíam aos seus pés o traziam uma profunda sensação de conforto.

Sassenach dormia de barriga para cima no porche de entrada da casa

— Nigel! — chamou Abigail, saindo de dentro de casa para o pátio dianteiro. — Precisamos ir ao mercado antes do almoço.

Nigel levantou-se do tronco que servia de banco e caminhou até sua amada. — Quer levar o Lucca? — perguntou, desconfiado, relanceando o garoto ao longe.

Estavam apenas os três em casa, Gus e Nathan em Wingloush.

Os dois se encararam por um momento, pensativos. Já haviam arrastado Lucca pela cidade, é claro, passado alguns meses de convivência com ele. No mercado, no entanto, só haviam ido acompanhados de Lucca quando Nathaniel e Gus estavam juntos e ainda assim fora uma experiência ruim.

Mas o garoto tinha que aprender a viver em sociedade em algum momento. Se este não fosse o certo, então no próximo funcionaria. De qualquer forma, ele precisava de experiência.

— Lucca? — chamou a mulher, com um sorriso carinhoso ao observá-lo virar na direção dos dois. — Que tal uma aventura pela manhã?

*

Nathaniel recém saíra da cirurgia com um sorriso cansado no rosto, depois de haver salvado um homem quase impossível de salvar. Múltiplas lacerações, ossos quebrados e deslocados, perfurações e hemorragias internas, e o dito cujo, após um acidente de moto, estava vivo.

Antes que o médico pudesse tomar um respiro, alguém se materializou em sua frente. Piscou, confuso com a garota franzina de um metro e sessenta que parecia precisar desesperadamente de um pouco de comida. E de sono, devido às olheiras abaixo dos olhos.

— Dr. Walker?

— Pois não? — perguntou, percebendo que, pelo uniforme, ela também trabalhava ali.

— Eu... Estou ao seu serviço — esclareceu ela, com um sorriso de canto. — Meu nome é Olivia — disse, apontando para o jaleco. — Olivia Bell. Nós fomos apresentados alguns dias atrás? — tentou uma segunda vez, fazendo Nathan arquear as sobrancelhas. — Acabei de entrar no programa de residência médica.

— Ah, claro — apressou-se Nathan, já agoniado pela memória contrária à de elefante. — Claro. Você é uma das novas internas — murmurou, recordando-se, ao dar as costas e largar o prontuário no balcão antes de voltar-se à ela.

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