XXXIII. Questionamentos

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Notas: 
Eu vou pôr uma alerta de gatilho aqui no início, apesar de eu não considerar o capítulo pesado pela falta de detalhes, mas eu imagino que se alguém já passou por isto pode se sentir mal, ok?
ALERTA DE GATILHO: homofobia, negligência familiar, e espancamento.
*Isto não está inserido na primeira parte do capítulo, quando Lucca aparece, apenas depois, nas cenas do hospital, então a primeira metade tá liberada.


Novembro

— Você pode esquecer de mim?

Nathaniel havia retornado à casa para visitar, apenas por um dia, antes de retornar para o hospital, para os seus pacientes. Havia chegado pela madrugada, se ajeitado de fininho no quarto de Lucca, e dormido por poucas horas antes do sol despertá-lo.

Lucca estava sentado como um índio, na beirada de sua cama, enquanto Nathan se recusava a levantar sequer o tronco do colchão, esparramado no mesmo.

— Como assim? — questionou, fisgado.

Lucca mexeu nos cabelos que, cada vez mais compridos, mais desordem pareciam causar, e deu de ombros. Nathan sorriu para aquilo, percebendo que havia se tornado uma mania dele.

— Esquecer meu nome, ou quem eu sou, ou... — Pensou por um instante, ao passo que Nathan franzia o cenho. — Eu.

Nathan permaneceu encarando os olhos negros do garoto e o contraste que os mesmos faziam com os cabelos castanhos em torno do rosto. A expressão, para variar, não podia decifrar, mas aquela ruga entre as sobrancelhas parecia indicar preocupação.

— Hum, eu tenho uma boa memória — apontou, sorrindo com preguiça. — Eu sou médico, eu preciso ter uma boa memória. Por que a pergunta? — questionou, curioso por de onde surgira aquilo.

Lucca ajeitou-se na cama, deixando os pés encostarem no colchão ao lado dela.

— A avó do Tyler tem Alzheimer — contou, lembrando-se do nome porque o traumatizou um pouco quando pensou a respeito. — Ela esquece quem ele é.

Nathan sorriu, um tanto aliviado.

— Alzheimer é uma condição mental, Lucca, não são todos que têm — explicou, encarando-o de baixo.

— Mas e se você tiver?

Nathan pensou por um instante, achando justa a pergunta, e então pôs-se sentado também em seu colchão.

— Não se sabe tudo sobre Alzheimer ainda, Lucca, mas sabemos que pode haver uma predisposição genética. Sabe o que isto significa? — questionou, e Lucca tinha certeza de haver ouvido aquilo antes, mas não recordou-se do significado. Negou. — Quer dizer que há um gene no nosso sangue que pode causar esta doença, e podemos descobrir se temos este gene ou não.

Lucca tentou acompanhar, e demorou alguns minutos antes de assentir, compreendendo por cima. Nathan sorriu.

— Eu fiz meu mapeamento genético há algum tempo — contou, despreocupado. — Não tenho predisposição alguma para Alzheimer, aliás, ninguém aqui têm.

Nathan ficara tão paranoico no início da residência que fez todo mundo fazer o mapeamento para poder já evitar algumas doenças como as cardíacas no caso dos pais, já que a idade já os alcançava.

Lucca assentiu, aliviado.

— Podemos fazer o seu mapeamento algum dia — sugeriu, subitamente fisgado pela possibilidade.

Era bastante comum fazerem este teste em sistemas adotivos, sem custo algum, para que os futuros pais soubessem o passado genético das crianças e adolescentes.

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