Capítulo 25 - "Mimesis"

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Caminho suspenso por entre a multidão. Aquele universo até pouco tempo festivo e intenso em cores e sentidos agora se apresenta desbotado. Sinto os traços da embriaguez e necessito deles. Preciso de um toque de entorpecimento para dizer adeus. Nunca foi tão difícil pra mim. desço rapidamente a Rua do Bonfim e caminho pela Avenida Liberdade, passando pela Praça do Carmo, completamente tomada de pessoas e blocos agora irrelevantes. Preciso alcança-la. Subo a rua através da Praça João Alfredo e acesso o mais rápido que posso a Rua Sete de Setembro, local da casa de carnaval. Não tenho dificuldades em identificar "minha lua" em meio a multidão: apenas ela tem cor. Cada passo que dou em sua direção, uma pontada me destroça. Ela está linda, magnifica e acesa. Antes que eu possa dizer algo, sou logo identificado. Radamés grita por meu nome e levanta o copo para comemorar. Troco rapidamente de feição e emplaco um sorriso tímido a medida que me aproximo. Aqueles jeito de olhar me desmonta. Luna está estática, enquanto desperta sua retina. Nossos universos se encontram e somos sacudidos por uma onda de cumplicidade.  Me aproximo dela dissimulando tranquilidade. Iasmim me lança um sorriso lindo, desmedido e carinhoso. Retribuo com um leve toque de cinismo enquanto a observo. 

—Oi Dion! Iasmim acena.

— Meu jasmim! tudo bem?

—Tudo sim "professor"!

—Dion, estamos bêbados pra caralho. —Radamés fala de maneira descontraída.

—Alguém em coma? Alguém aqui vai se retirar? —todos se entreolham.

— Que nada! Começou a brincadeira agora!—Thor respondeu de forma jocosa.

—Senhores: o que não nos mata nos fortalece! Bebamos até a morte!

—Evoé....—todos gritaram.

—Pega aqui Dion.—Pedro trouxe vinho para que pudessem brindar, naquele calor sufocante, apesar das nuvens que encobriam parcialmente o céu azul.

—Professor...sentimos sua falta! — Pedro falou sorrindo. O que aconteceu cara. Já passa das três da tarde...

—Pedras no caminho! Tropecei numa delas e quase morro. Mas, como disse, o que não nos mata, tende a nos fortalecer!

—Nietzsche!— Pedro observou.

—Nietzsche! — confirmo amigavelmente.

O vinho foi servido e assim brindamos. Estou fazendo um esforço dantesco para conter a expressão de dor. Não sei o que fazer com Luna. Me aproximo devagar e ela me olha com manha e um toque de repreensão.

— Você demorou demais. Fiquei aqui sozinha. O que aconteceu. Senti a sua falta, meu "vício".

—Perdão, precisei resolver um problema pontual.

—Certamente um problema "gigante" Doutor. Pra me deixar sem você por tanto tempo.

— Sua sagacidade me impressiona, minha lua. Mas aqui estou! Antes tarde do que nunca. — falei, ensaiando um rosto tranquilo. Tenho a certeza que ela está me analisando e já começa a notar os traços de dor, apesar de todo o esforço cênico.

As palavras dela me sufocam. Difícil segurar a emoção. Justamente nesse momento de plenitude no qual me encontro, preciso me desfazer de tudo. É exatamente quando a encontro que preciso perdê-la. Não existe outra solução senão me afogar no vinho.

— Vai com calma Dion. Essa certamente não é sua primeira investida no vinho. 

—Você aprende rápido Doutora. Estou apaixonado! Perdão, impressionado eu quis dizer. —brinco, tentando disfarçar.

"DIONÍSIO" - Manipulador (Livro I)(COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora