Capítulo 9 - "Prelúdio"

191 4 0
                                    

Musica: Invoking Aphrodite

Composição: Harri Kakoulli

Intérprete: Layne Redmond


A tarde subiu rapidamente e com ela a euforia dos tambores. Ruas tomadas de foliões, sorrisos velados e um conjunto de cores e vibrações faziam daquele espaço um ambiente particular, diferente de qualquer outro ponto do planeta. O professor estava "extasiado" com aquele fluxo, com aquela vibração haurida dos corpos que se entrelaçavam numa aparente textura caótica. Os meninos pareciam plenos, vinculados à unicidade daquele espaço-tempo. As individualidades de todos ali, de certa forma, estavam dissolvidas e constituíam uma unicidade, uma simbiose, regada à liberdade, prazer, desprendimento e muita bebida. Iasmim, vinculada ao seu parceiro, mantinha-se inquieta, vertida em outra dimensão, um mundo mais profundo, que envolvia sua alma, um lugar poucas vezes visitado. Estava deslocada. Luna, por sua vez, observava um Dionísio diferente, comedido, tranquilo, mas com uma energia concentrada, blindada. Não conseguia ler aquele ser estranho, que a deixava instável com um simples toque, uma fagulha de olhar. Difícil para a "doutora" se deparar com essa aventura desmedida, com esse ser que a embaralhava, por estar paradoxalmente "tão perto e tão longe". Fisicamente palpável mas psicologicamente insondável. Estranho é que isso tudo a deixava mais interessada, mais envolvida e notoriamente vinculada a ele.

— Não sei qual o crime que cometi, mas garanto que a pena é cruel! — brincou ironicamente o professor, enquanto descia sorrateiramente os olhos para mirar as pernas de Luna.

— Como assim Dion?

— Sem vinho e  sem os seus pés em minha boca! Essa fantasia de enfermeira  me deixou salivando. Uma cinta-liga branca desconcertante, com esse laço vermelho que me remetem à sua calcinha - agora minha! Se, pelo menos, estivesse dominado pelo manto da embriaguez, talvez essa vontade insana de devorá-la  pudesse ser controlada diante do meu inebriante egoísmo! Vou buscar uma garrafa de vinho. Eu não aguento essa tortura! Já volto. — argumentou Dionísio, observando com afinco sua "lua".

— Se seu propósito é me deixar com vergonha, não conseguirás. — Luna deu de ombros, brincando de forma astuta.

— Na realidade, meu propósito é deixá-la nua. Sendo impossível nesse momento, temo que precise me embriagar...!

— E, mais uma vez, me deixa louca! Sabe exatamente como me tirar do eixo. Adoro esse jeito perverso, safado, porém carinhoso que ele me propõe. Estou muito fodida! — pensou altivamente, na medida em que o lobo se desprendia e caminhava para o interior da casa de carnaval. 

Estandartes, freviocas, fitas e fantasias faziam as vezes naquele antro festivo. Momentaneamente sozinha, Luna vez ou outra viajava na ideia de "ritual" proposta por Dionísio, no desafio "espiritual" que experimentaria com o cair da tarde. A doutora tentava racionalizar sobre os possíveis desdobramentos de sua tomada de decisão, mesmo sabendo que no mundo dele, a razão imbuída de moral — a qual ela estava habituada — não serviria.  

— Luna, tudo bem? — um folião falou, aproximando-se do grupo de amigos e em específico dela.

— Julio! Tudo bem? Quanto tempo! Perdido por aqui?

— Que prazer encontrá-la. Quem diria! Estou curtindo o carnaval também. 

— Pois é, estou com uma galera. Um grupo de amigos. Tirei umas férias. Precisava descansar! De médica, estava quase me tornando uma paciente, com problemas neurológicos. 

— Precisamos mesmo de um descanso! Estais bem? 

— Tudo caminhando, se encaixando. Profissionalmente estou bem. Estou atuando na área que gosto. Pessoalmente, estou alinhando a minha vida ou pelo menos tentando!  E você? Morando no sul ainda? Atuando em ortopedia, certo?

"DIONÍSIO" - Manipulador (Livro I)(COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora