Capítulo 17 - "Cronos"

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— Perversa! —Dionísio falou rente aos ouvidos de Luna, enquanto ela dedilhava sua cintura e ameaçava descer a mão sem piedade.

— Eu?— ela rebateu, com uma voz sensual e tranquila, desmontando a "fera".—Não estou fazendo nada, "manipulador"!

— Sobretudo cínica! — Dionísio a contestou com um tom debochado e alegre.

— Você faz isso comigo. Isso é fato!

— Não acredito nesse discurso inocente— falou enquanto expressava um sorriso cínico.  — Talvez eu seja a caça, o inocente, o bobo nessa parada.

—Definitivamente você pode ser qualquer coisa nesse mundo, menos inocente. Basta abrir a boca para sua vibração me tirar o fôlego. Certamente és o começo da minha insanidade. Não saberia distinguir nesse exato momento o limite entre amor e loucura. — Luna pensou altivamente, enquanto encarava o "lobo" com os olhos vibrantes e maliciosos.

—Acredite! — falou por fim, enquanto beijava-o de modo contemplativo.

Mal terminara de argumentar e Dionísio passou a beijá-la no ombro, subindo vagarosamente para o pescoço, enquanto a envolvia com suas mãos audaciosas. A vibração de sua "lua" deixou o lobo ainda mais intrépido, com uma libido inexplicável. Dionísio não precisou se esforçar para perceber a palpitação e o reflexo de seus toques. Precisou se concentrar pra não passar dos "limites", diante daquela euforia de sons, pessoas e cores.

— "Lotus" — falou por fim, olhando para ela.

— "Sou eu".—Luna completou, acesa.

—Manha, doutora?

—Reivindicando um pseudônimo conferido, apenas. —ela contestou, enquanto um filete de sorriso de menina ecoava em sua face.

Dionísio fazia referência à bela tatuagem de uma flor-de-lótus, com tonalidades azuis, que descia por toda a extensão do braço dela  e se encontrava com outros traços psicodélicos em cores delicadas e bem aplicadas.  

— A Lotus-azul tem um belo significado! — Dionísio observou pausadamente, admirando aquela tonalidade imiscuída numa pele branca como papel.

— Conheces a simbologia?

—Para a cultura Oriental a Flor-de-Lótus é sagrada, por representar pureza, beleza, espiritualidade, integridade. É uma flor que floresce sobre a água, por mais poluída que a última seja. Para o budismo representa elevação espiritual, pois floresce acima da água lodosa, impura que significa desejos e prazeres banais. Dizem que por onde passou o menino Buda, as flores-de-Lótus desabrocharam. O tom azul tem um significado ainda mais especial, ligado ao triunfo do espírito sobre a matéria. Essa flor "nunca revela seu interior, porque está quase sempre totalmente fechada". —comentou como quem professava uma aula de filosofia.

—Paremos por ai! — advertiu, impressionada com a precisão do lobo em toca-la no substrato da alma.

—Tudo bem! Quanto às pétalas e os traços ligados à flor? O desenho é lindo. Quem criou? 

—São traços que desenhei. Eu gosto de arte. Acho que farei um lobo atacando essa flor. O que achas?

—Interessante. Da minha parte, farei uma bela flor para adornar o crânio em preto e branco que tenho nas costas.

— Eu vi. Tem um significado específico?—Luna indagou, tentando desanuviar aquele enigma.

— Nem me lembro qual a razão de tê-la feito...— rebateu Dionísio, tentando dissimular o incômodo.

"DIONÍSIO" - Manipulador (Livro I)(COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora