Capítulo 8 - "O Ritual"

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Música: Deo's Erotas

Composição: Daemonia Nymphe

Intérprete: Daemonia Nymphe


Já na cozinha, Dionísio esperou por Dona Silene para ajustarem as coisas naquele dia ímpar, o domingo de carnaval. Diferentemente do dia anterior, Dionísio estava mais fechado, introspectivo. Não por acaso, tentava a todo momento depurar a mente e se concentrar na "reunião" que teria início com a chegada da noite.

- Dona Silene eu a incomodarei com dois pedidos inadiáveis.

-Não se preocupe meu filho. Pode dizer..

-Gostaria que a senhora realizasse aquela entrega dos vinhos na casa de carnaval dos meninos enquanto me arrumo para sair, tal como se deu ontem. Os vinhos de hoje já estão separados na adega.

-O segundo pedido diz respeito a algo que a senhora já conhece bem. É uma questão de reavivar a memória. Queria que a senhora deixasse a sala bem arrumada para recebê-las. Sairei logo mais e precisamente as cinco horas da tarde esterei de volta. Por favor, receba-as e atenda qualquer necessidade eventual. Eu fico agradecido desde agora.

- Pare com isso Dion. Eu estou bem velha mas meu juízo ainda está no lugar. Fique sossegado Dion. Tudo estará no lugar. mandarei entregar os vinhos imediatamente e fareia a recepção das meninas. Eu sairei daqui assim que você chegar. Não bagunce a casa, por favor...(risos).

- Tudo bem! Sempre atendo a senhora (risos).

-Não é bem assim...mas tudo bem! Dionísio: aquela moça que acabou de sair... Cuide dela! É uma flor! Luna! tem algo de especial e você sabe...

- só sei que nada sei, Dona Silene! Bem, preciso me trocar.

Dionísio, enquanto conversava, saboreou umas frutas e bebeu um café forte. Em seguida pediu licença e caminhou para o quarto. Dirigiu-se de imediato para o banho. Introspectivo, tomou uma ducha fria, ciente do calor que enfrentaria no correr do dia. Divagou rapidamente, enquanto a água o tomava da cabeça aos pés. Após algum tempo, afastou-se do chuveiro e agarrou uma toalha. Atravessou o quarto e foi pegar uma roupa decente para a ocasião. Separou uma bermuda num tom mostarda. Vestiu uma camiseta com estampas coloridas num fundo branco e calçou um tênis branco. Apossou-se de um óculos escuro, de algum documento e se deteve por alguns segundos para se perfumar. Fitou-se no espelho, despertando o seu lado narcisista que mal acabara de acordar e fora enterrado. Não estava com paciência para observar a si mesmo, pelo contrário. Concentrara-se a manhã toda na ideia de explicar a Luna o evento que estava prestes a acontecer, inadiável e intransponível, diga-se de passagem. E, apesar de muito se dedicar, sabia que no campo subjetivo, não existe fórmula matemática. seria necessária uma boa dose de perícia argumentativa. A sensação de eventualmente não ser compreendido, naquele caso particular, atormentava a cabeça do professor, notadamente diante do sentimento que Luna despertara em seu peito. Nem de longe queria perdê-la e sabia, exatamente nessa medida, que a o caminho mais lúcido seria a "verdade".

- "Prudens in loquendo est tardus"- (Bom saber é o calar, até ser tempo de falar). - balbuciava para si mesmo, na medida em que se arrumava para sair. No rosto, a frieza no olhar denunciava o impasse do momento. Raramente isso ocorria. Nunca teve medo de muita coisa, além de si mesmo.

- Dion, já resolvi a questão dos vinhos. Mandei levar todas as garrafas que estavam separadas na adega. Quanto às meninas, não se preocupe. Cuidarei delas enquanto te espero. Ao acompanhar as meninas até o portão pude observar o desenrolar do carnaval. Dion, as ruas estão repletas, tomadas de pessoas. Está uma loucura, uma euforia. Meu filho tome cuidado! - Dona Silene, mostrando preocupação, falou em tom afetuoso diante da porta do quarto de Dionísio.

"DIONÍSIO" - Manipulador (Livro I)(COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora