Capítulo 10 - "Frenesi"

122 3 1
                                    

Música: Hino órfico a Dionísio

Composição: Daemonia Nymphe

Intérprete: Daemonia Nymphe


— Permitam-me uma apresentação deveras breve. Chegaram até aqui. Presumo então que buscam algo a mais. Quero acreditar que buscam em mim a expressão de seus delírios inconscientes guardados nos recônditos de suas almas. Sou por acaso espelho? Temo que sim. Também gosto de me perceber em todas minhas nuances, gosto do espelho. Somos e seremos eternamente incompletos. Um ponto de luz em expansão. Falo com vocês leitores! Quero isto nesse momento! Nada mais propício; pelo menos até me cansar, até me enfadar. Bem, Começo aqui mais um ritual e não há momento mais pleno em minha exígua existência. Sou algo entre o caos e o nada. Nunca fui e jamais desejei ser muita coisa além de um aprendiz; Um assíduo aprendiz. Nunca pisei com propriedade e demora no mundo dito "real". Jamais seria tão estúpido. Fazendo uma pacata diagnose da minha vida até este ponto - à beira dos trinta anos - posso dizer com propriedade que me resumo a dor, razão e prazer. É despiciendo dizer que jamais saberei algo sobre a razão de minha existência. Enquanto busquei essa resposta, sucumbi como uma caça fresca e mortalmente ferida. Caminhei por incansáveis mundos e não encontrei um só travesseiro para descansar a cabeça. Por sorte, descobri o caos. Descobri algo decente em meio à lama. Passei grande parte de minha vida tentando fugir de meus dragões, das feras que me atormentam. Em dado momento decidi enfrentá-los. Não garanto que estou melhor, mas, por hora, consegui acorrentá-los. Nasci póstumo. Nascimento e morte para mim tem um significado aproximado. Sou o escárnio dessa lógica, a prova material...sem mais. Bem, como disse, nunca estive plenamente nesse mundo. A sexualidade foi a minha "quimera". Não estaria aqui, pelo menos até agora, entre elas - meus amores - se não fosse por esse portal. Nas horas mais insólitas esse é meu reduto, minha luz: a sexualidade que me eleva a um estado de potência. Não por acaso, neste momento estou pleno, a ponto de quebrar o gelo do meu silêncio e tagarelar algumas palavras que me arrependerei tão logo elas esfriem ao saírem de minha boca.  Aqui em meu subsolo, no meu "mundo", darei início a mais um triunfante ritual. Especial por derradeiro, pois completei um desejo encoberto sob uma lógica mística. A lógica do divino. Reuni sete deusas. Sete, um número mágico, o número do infinito, da completude. Sete são os dias, as cores do arco-íris, as notas musicais. É o número mágico. completei, depois de muito andar, um desejo bem guardado em meu íntimo. basta dizer que diante delas estou completo, como nunca estive. Sou absolutamente delas. Estamos ligados. Sinto a força do círculo mágico que se fecha. A energia que pulsa em meu peito é diferente. Estou pronto para viver e para desencarnar. Aqui faço uma última análise bem relevante. Não me importo com o que pensam muito menos com o conjunto de valores que adotam. Sim, falo de vocês, leitores. Respeito é a palavra de ordem. Saibam apenas que todo aquele manancial de respeito e reverência que despejam sobre um deus, na mesma proporção, ou quem sabe numa ontologia mais profunda, eu projeto no feminino. Elas são minhas deusas. As personagens principais do meu teatro existencial. Entendo-as como "deusas" encarnadas. Trazem em si a energia do universo, me completam numa dimensão que não se pode traduzir em palavras. São uma refração do macrocosmos. Sou delas, completamente. Sirvo-as com toda força da minha psique. Aceito que me sufoquem ou que me projetem em seus corações. Pensarei assim até o limite da minha consciência. As idolatro incondicionalmente, sem ressalvas. Nada preciso acrescentar a tal relato. Bem, espero mais compreensão que julgamento, muito embora, não me importe com qualquer valor que não seja meu. Esse ritual que agora dou início serve para demonstrar, para reverenciar o que há de mas sagrado para mim: elas, as mulheres. Talvez seja uma expressão do meu inconsciente, uma tentativa de resgatar através delas a imagem maternal, que não tive acesso. Uma lógica freudiana. Talvez. Não importa mais! Sinto-me pleno assim e isso é o que interessa.  Agora preciso voltar, me concentrar nos meus amores. Estão fabulosas, perfeitas! Eu morreria feliz agora. Aqui me despeço...quero senti-las, explora-las!

"DIONÍSIO" - Manipulador (Livro I)(COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora