Capítulo 22 - "Eros"

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Recostada num banco, Luna passou a meditar sobre tudo que lhe havia acontecido desde o início do carnaval. Um filme surreal passava por sua cabeça. Estava sentada defronte à pequena lagoa que compõe aquele espaço místico, o Sítio de Seu Reis. Esperava por Dionísio, que precisou de um banheiro para aliviar o excesso de vinho. Alguns minutos mergulhada naquela semi-escuridão lírica, entre casais e foliões esparsos, ela se levantou e deu um giro de trezentos e sessenta graus, tentando identificá-lo em meio às sombras das árvores que se decompunham sob a iluminação rústica da praça. Diante do insucesso, sentou-se  e voltou a contemplar a beleza daquele espaço impar, enquanto o vazio começava a tomar forma no seu peito. Recostado numa arvore, num ângulo imperceptível, Dionísio a admirava. Contemplava-a com um sorriso ligeiro diante das sensações que aquele ser causava. 

— Procurando algo, Doutora? — Dionísio falou ao se aproximar de maneira sorrateira.

— Puta merda! Dion...! Quer me matar? Que susto! Onde estavas? Agora entendi a razão da tua amiga te chamar de "fantasma". 

— Sentiu falta? — Dionísio indagou, com um ar de cinismo. Guardava no rosto uma boca levemente arqueada e olhos inquisitivos semicerrados.

— Nem um pouco, pra ser honesta!      

— Dissimulação não é a sua arte. A mentira tem que combinar com uma expressão convincente. Treine um pouco mais, "minha lua"! — o "lobo" argumentou sorrindo, segurando-a na ponta do queixo.

—Talvez seja a sua arte! — ela rebateu, com uma malícia no olhar. A propósito, estava pensando em outros adjetivos pra te enquadrar. Manipulador, malvado, mentiroso.....hum..

— Mentiroso? É isso mesmo? —Dionísio rebateu com uma audácia bem típica, mudando a cadência da voz e a intensidade do olhar, como um inquisidor. Aproximou-se perigosamente dela e  a envolveu.

—Bem! Retiro o último termo! posso trocar?— falou enquanto o segurava, como os olhos firmes na retina da fera.

—Não costumo ser tão benevolente! — ele afirmou com ironia. 

— "Meu" e mais nada! — Luna completou, buscando a boca da fera.

Estavam imersos no Sítio de Seu Reis, um parque lírico, de textura romântica, fruto do processo de paisagismo do início do século XX. Situado por trás da Igreja do Carmo, o parque é composto de um pequeno lago cortado por uma ponte rústica de madeira, rodeado de arvores densas e bancos solitários. a iluminação suave, ao cair da noite, transforma aquele espaço num reduto de ilusões e mística que entorpece qualquer indivíduo com facilidade. Palavras, juras e prazeres, entrecortados por beijos intensos e toques audaciosos. Estavam sublimados naquela atmosfera. Os sons do carnaval, vindos de todos os lados, serviram de pano de fundo para aquele amor desmedido. Uma hora foi derretida em segundos, no mundo deles. A teoria da relatividade mais uma vez se fez presente. Diante do prazer, o tempo parece passar mais rápido.           

—Esse lugar é mágico! — Luna acrescentou, por fim, em voz baixa, quase imperceptível.

— Faz parte do meu DNA. Cresci nesses espaços. Tenho uma admiração profunda por essas preciosidade.

— Uma infância feliz! — Luna acrescentou.

— Talvez! — ele rebateu, sem exitar.  — Vem, são sete e meia. Vamos andando. Tenho uma surpresa pra ti! está quase na hora..

—Como? Dion, preciso voltar pra casa. Me arrumar! Passamos o dia por ai...estou um trapo.

— Perfeita pra mim!

— Dion! Pra onde iremos?

— Vou sequestrá-la. Deixa-la presa no meu porão. Te avisei para tomar cuidado comigo.— Dionísio falou em tom firme, ensaiando um rosto sério e frio, segurando-a firme pela mão.

"DIONÍSIO" - Manipulador (Livro I)(COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora