O som de hélices girando não parava em nenhum momento, era perturbador. Nuvens fatiadas, pensamentos em cubos e uma vida dentro de um liquidificador. Os helicópteros rondando abaixo da mansão queriam pousar e filmar o olhar, a voz, a pessoa que agora tinha se revelado. Agnes estava sozinha e definitivamente não queria que ninguém conhecesse o seu pior lado.
Já faziam duas semanas desde a conferência, mas mesmo assim a mídia não se cansava, eles faziam acampamento nos portões da mansão, sobrevoavam o tempo todo de um lado para o outro e o telefone não podia ser ligado, porquê a linha era imediatamente congestionada. Às emissoras de TV e rádio queriam uma entrevista a todo custo a extraordinária, mas não obtinham nenhuma resposta. Agnes se fechou dentro das paredes gélidas do seu lar.
Tão de repente quanto uma tempestade a primeira dama tão bem vista pela sociedade se tornou um monstro para os intolerantes. Acusações e processos eram movidos todos os dias e algumas pessoas tentaram invadir a mansão, se não fossem os militares de guarda, Agnes tinha plena certeza de que seria crucificada em seu jardim.
Marcos Silveira, precisou continuar em Brasília para poder contornar a situação por lá, o medo dele era perder seus aliados políticos, mas isso não aconteceu. Agnes era realmente fantástica em suas previsões e tudo estava acontecendo como deveria.
Sentada em seu divã a extraordinária tomava os últimos raios de sol que se punham com um gosto suave de solidão, de fato ela não precisava de toda aquela gente que a rodeava com convites para festas e eventos sociais, ela nunca gostou daquilo, agora tinha apenas a mídia sangue suga lhe perseguindo. Tantos segredos gerados em um século. A sociedade tinha apenas um pequeno pedaço de um todo quase incompreensível para mentes tradicionais que não conseguiam se quer lidar com os diferentes gêneros sexuais, etnias, ou a própria questão homem e mulher. O ser humano era medíocre em toda sua existência e saber disso, era como se Agnes fosse apunhalada no peito diversas vezes. Ela em sua perfeição genética poderia se unir aos seus semelhantes e dizimar a humanidade de uma vez por todas, mas algo dentro dentro de si lhe impedia de cometer tal ato. A compaixão.
Ver o futuro não mostrava sinais de esperança. O ser humano nunca mudaria, mas Agnes se mantinha firme em seu objetivo de não condenar aqueles que não sabiam o que estavam fazendo. O ciclo do caos jamais poderia ser desfeito. É inevitável.
Chegando junto com a noite um carro estacionava e aparecendo como as estrelas, chegavam as melhores pessoas que podiam estar com Agnes nesse momento de mudanças. Kendra Máximos e seu pai. Agnes os esperava na porta com um sorriso longo e largo.
- Joseph Nicéphore Niépce, não acredito que veio? - Agnes abraçou o homem idoso e frágil.
- Não consigo acreditar que deixei o sol de minha Bahia para pisar nesta terra de garoa.
- O tempo ainda não fechou meu amigo. Mas vai - o sorriso de Agnes desapareceu tão rápido quanto havia aparecido.
A jovem mulher, Kendra, não tinha uma expressão definida na face. Ambas mulheres trocaram um afeto e quando não pareciam encontrar palavras se abraçaram por um longamente.
Kendra e seu pai se instalaram rapidamente, já faziam parte daquele lar há muitos anos. Os grandes quartos da mansão estavam meio abandonados já que os funcionários haviam ido embora da mansão do " demônio". Sem tempo para os visitantes descansarem da viajem seguiriam rapidamente para o escritório.
Kendra parecia uma modelo, alta e magra, com sua pele negra e cabelo raspado, usava grandes brincos de argola dourados e um vestido chita longo de cores vivas e quentes. Joseph tinha uma feição preocupada, parecendo mais frágil ainda em sua velhice. Kendra já tinha tomado duas taças de vinho, quando finalmente Agnes começou a falar:
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Vol. 1 Heróis do Amanhã - NOVA ERA
ActionO mundo mudou. Cientistas em laboratório alteram o código genético fazendo nascer pessoas ExtraOrdináriaS. A humanidade tem medo do desconhecido e aquilo que temem quererem destruir. A Oráculo, Agnes Agnel prevê um futuro desastroso, mas também vê...