Sofia/ Aprendiz

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A vida é o bem mais precioso que temos. O ciclo perfeito se inicia com o amor e termina com a dor. Ninguém está livre das emoções da vida e sentir é um poder apenas dos vivos.

Estava quente, os últimos dias pegavam fogo. Sofia encaixava as pernas no quadril de Ricardo, seu corpo o desejava, sua boca ia de encontro a boca dele. Ele soltava uma baforada quente no cangote dela a fazendo gemer de prazer, eram um só. Ricardo era o seu primeiro amor, o seu namorado, o porto seguro para onde ela corria nas noites de pesadelo. Ela não via mais ninguém além dele, estava perdidamente apaixonada.

— Promete que vai ser pra sempre? — disse Sofia com os lábios no orelha de Ricardo.

— Prometo. — o grave de sua voz fazia Sofia se arrepiar toda.

— Eu te amo. — beijava-lhe a testa, bochechas, lábios. E Ricardo ria.

— Faz cócegas. — gargalhava.

— Você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Obrigada.

Silêncio. Ricardo permaneceu em silêncio. Respondeu com um beijo na boca de Sofia, longo e pausado. Seus corpos esquentavam novamente. Se amavam a tarde inteira.

Depois de tomar banho Sofia se arrumou para o seu treinamento. Lutava todos os dias com o grandão Samuel. A jovem ExtraOrdinária tinha aprendido a copiar o poder de super força. César passava as orientações. A luta ficava cada vez mais difícil para os dois. Sofia atacava com força. Samuel atacava com medo. Esse era o problema do meninão. Ele também sofria com a falta da irmã. Nunca tinha ficado tanto tempo longe de Alice. Um soco forte de Sofia fez Samuel cair no chão.

— Vocês tem que aprender a separar os seus problemas pessoais da vida heróica. Por isso possuem e codnomes. Eu quero uma luta entre Aprendiz e Gigante! Agora! — César tinha uma voz de comando inquestionável. A sua dedicação era imensa. Agnes liderava, Kendra preparava simulações e Miguel ensinava tudo que podia sobre ciência e conhecimentos humanos. Mas César ia além de tudo isso. Ele preparava os jovens para vencer uma guerra.

Aprendiz se posicionou. O Gigante se lavantou de punhos cerrados. Atacou. Aprendiz se defendeu, mas o Gigante a pegou pela costela e a socou com força. A garota sentiu falta de ar. Revidou com um forte tapa na cara do grandão. Como a mão esquerda o Gigante agarrou o pescoço de Aprendiz, a ergueu no ar. Começou a enforca-la. Os olhos dele tinham apenas fúria. Sentia tanta falta da irmã. Não ouviu os gritos dos colegas para que ele parasse. Não viu os olhos da Aprendiz ficarem vermelhos. Ela ergueu a mão apontando pra ele é uma chama fervente foi em direção o rosto do Gigante que a soltou para proteger seu rosto das chamas e tentar respirar.

— Está passando tempo suficiente com o Ricardo pra poder copiar os poderes dele também.  — alertou César.

Ao terminar a luta Sofia e Samuel se cumprimentaram. Os outros batiam palmas animados com o show.

— Me desculpe. — disse Samuel

— Foi uma boa luta. — respondeu Sofia com a voz rouca. Ricardo lhe trouxe um copo de água. Ela bebeu sentindo a garganta queimar.

Yoco se preparava para a próxima luta. A menina usava a roupa de treinamento preta. Nas mãos segurava duas espada Sai. Kenji se posicionou para lutar com ela. César fez sinal para começarem. Os dois se movimentavam lentamente.

— Lutem!— gritou César.   

O Vulto ficou intangível e partiu em direção a Iludo. Algo pareceu errado quando ele passou direto por ela atingindo uma parede. Iludo apareceu do outro lado. A menina enganava as mentes com o seu poder. Vulto voava a sua procura. Mas apareceram dezenas de Iludos atacando. Vulto não conseguiu ficar por muito tempo na forma intangível. Ela o estava cansado. Quando voltou a forma tangível sentiu o Sai gelado em seu pescoço. Tinha perdido.

Depois dos treinamentos todos riam na sala. Agnes olhava com orgulho os sues heróis. Sofia gostava de ficar perto dela. Sentia uma confiança muito grande ao lado da mulher que mudará a sua vida.

— Em breve serão apresentados como super heróis para sociedade. Em breve faremos nossas primeira missão. — disse Agnes.

— Isso é incrível! — disse Ricardo. — Meu Deus! Quem diria que um merdinha como eu se tornaria um herói. — dizia gargalhando.

"Um merdinha" — pensou Sofia. Ouvia uma voz na sua cabeça. Algo latejava forte. Viu homens mascarados dentro do banco. As vítimas do roubo estava com medo. Mulheres choravam. Um homem implorava pela vida. Um homem. Seu pai. O tiro. "Um merdinha" — a voz ficou mais forte. O sangue no peito aberto do seu pai vazava pra fora. Cheiro de ferro, sangue e morte. "Um merdinha" — Um dos bandidos tirou a máscara. Ricardo. Era Ricardo.

— Filho da puta! — Sofia gritou para Ricardo. Todos ficaram em silêncio assustados.

— Me diz porque? — Ninguém entendia nada.

— Me diz Ricardo por que você matou o meu pai! — Sofia gritava enquanto chorava. Todos ficaram de boca aberta. Agnes era a única que estava apenas de cabeça baixa. Ninguém percebeu quando Alice se aproximou saindo de trás da porta.

— Me diz! Por que! — Sofia avançou. Segurou Ricardo pelo pescoço e começou a socar a cara dele.

— Calma! — Samuel tentou intervir. Sofia o jogou pra longe. Ele caiu em uma estante de madeira a quebrando por inteiro.

— Matou o meu pai! Seu merdinha! — Socou Ricardo novamente dessa vez lhe tirando sangue.

— Por que!

— Porque eu não passo disso. De um merdinha. Eu não sou nada. Nunca passei de um bandidinho. Um muleque de favela. É isso que eu sou. Um merda! A porra de un assassino! Matei meus pais! Matei o teu pai! Sou merda!

— Eu te mato! Ricardo eu te mato! — Sofia segurava o pescoço dele com força. Com ódio. Com muita dor na alma.

— Solta ele vadia! — Alice lançou um escudo separando Sofia de Ricardo.

— É isso que eu sou Agnes. Um merda! Como você achou que eu a ser um herói?! Como?! Me responde?! Eu sou merda. Deixa ela me matar Alice! Eu matei o pai dela! Eu matei!

— Eu também matei o filho da puta que me estrupou! Eu matei! Senti a porra do cérebro dele se desfazer com as minhas próprias mãos! Eu matei! Sou uma merda igual você! — Alice falava olhando com raiva pra Agnes. Kenji permanecia ao lado de Yoco, Kendra e seu pai assistiam tudo impotentes. Não havia nada que podiam fazer. César percebeu o descontrole. Os E.O.S eram bombas e ele tinha que desarma-los com cuidado.

— Responde Agnes! Nos de respostas! Fala pra todo mundo que você também matou! Matou mulheres como você! Na guerra! E que vai ter outra guerra e nós somos os soldados! Fala pra todo mundo que o Complexo é uma criação sua! Vadia psicopata! Responde Agnes! Reponde! Eu destruir tudo aqui! Mato todo mundo!

— Até eu irmã? Você vai me matar também? — Samuel disse chorando. Alice desfez seu escudo e caiu nos braços dele chorando desesperadamente.

— Eu só quero ir pra casa! — berrava Alice entre soluços.

— Já estamos em casa. Essa é a nossa família. A única que temos.

Sofia caiu de joelhos. "Minha família" — pensou. Se lembrando dos momentos de alegria com o pai, se lembrou dos momentos intensos ao lado da equipe. Sua família. Sua única família. Olhou para Ricardo e sentiu pena. Pena do menino que sofreu nas mãos do tio criminoso. Pena do homem arrependido de estar no lugar errado e causar a morte de um pai de família. Um homem de bem.

— Ricardo eu vou te perdoar no dia da tua morte. Somente nesse dia meu coração vai conseguir te perdoar. Quando o teu coração parar de bater o meu encontrará compaixão. Somente nesse dia e não em outro. — Sofia dizia prevendo o único futuro possível entre ela e aquele que acho que seria o único amor da sua vida. Mas a via tem dessas. Prega peças, quebra cabeças, armadilhas. Tudo não passa de uma brincadeira. Sofia olhou pra Agnes esperando que ela começasse a falar toda a verdade que escondia, omitia em um jogo desonesto. O jogo da vida.

Vol. 1 Heróis do Amanhã - NOVA ERA   Onde histórias criam vida. Descubra agora