Ela sabia que não iria conseguir enganar ninguém. Colocar um sorriso na cara não mudaria o fato de como estava por dentro. Precisava renascer como uma Fênix renasce das cinzas. Mas não sabia como.
Sofia gostava do seu quarto, apesar dele ter outras camas. "Existem outros" tinha dito Agnes. O banheiro também grande tinha até banheira. O dia estava bonito lá em cima. Mas não podiam subir. O treinamento era intenso no subsolo. Sofia queria ir até o túmulo do seu pai. As flores velhas já estavam muchas. "Alguém precisava cuidar dele". — pensou com uma ponta de desespero que logo se revelou um imenso iceberg. As lágrimas se desprenderam como uma cachoeira. Chorou. Gritou. Queria estar morta ao lado de seu pai. Deveria estar morta. Tinha que estar morta. Mas não tinha forças nem pra se levantar da cama, tomar uma banho ou se alimentar. Estava muito destruída para fazer essas coisas.
Seus poderes ainda não tinha voltado. Tinha algumas sensações, mas nada que a ajudasse muito. Agnes disse que ela deveria treinar todos os dias como uma fisioterapia e tudo voltaria ao normal. Que o poder muitas das vezes está ligado ao emocional e essas coisas podem acabar acontencendo.
Ricardo continuava prestativo e muito preocupado. Sofia se sentia tão feliz ao lado dele. Mas ninguém abriria aquela porta. Ninguém ao não ser ela mesma. Nem mesmo aqueles lábios. O beijo. Aquele tinha sido o seu primeiro beijo e ela ficou com borboletas no estômago durante dias. Um beijo quente. O coração de Sofia disparava só de pensar em beijar Ricardo, mas pra isso tinha que abrir a porta.
Revirou de um lado para o outro. O quarto estava escuro, mas já era tarde. Não tinha mais sono, mas queria dormir mesmo assim. Era a quarta fase do luto. A depressão.
Sofia nunca tivera uma vida que permitisse que ela protegesse a sua mente dos problemas causados socialmente, ou de ordem emocional. Quando pequena saia muito pouco com o pai, uma ida rápida ao parque, mas ele logo se preocupava com a movimentação de políciais ou guardas do Complexo e tratava de ir embora. Esconder a filha ExtraOrdinária. Não havia possibilidade de Sofia ir a escola, era perigoso demais. Então Carlos a ensinava e ela aprendia rapidamente. "Uma garota inteligente" — ele dizia. Os poderes de clarividência se desenvolviam por si só. As vezes ela sabia o que o pai iria dizer ou fazer, as vezes podia ver ele lecionando em escolas em tempo presente. Pouquíssimas vezes conseguia ver o passado. Tinha medo de descobrir algo sobre a mãe. Sofia reprimia qualquer sentimento materno. Não era raiva da mãe. Era medo de ter feito algo que a prejudicou. Não sabia lidar com isso. Na medida em que crescia Sofia começou a ficar rebelde, chegou a brigar com o pai para poder sair de casa, mas as notícias nos jornais, a repressão contra E.O.S só aumentavam a cada dia. Era impossível viver como uma pessoa normal. Não dava pra ser ela mesma.
Quando não aguentava mais o suor do próprio corpo e as lágrimas Sofia se levantou a passos lentos e preparou um banho de banheira. Água morna. Pensamentos mornos. Sua pele arrepiou ao primeiro toque. Estava imersa na água. Queria sentir todo o seu corpo envolto daquele elemento que poderia mata-lá caso quissesse. "Seria tão fraca assim?" — pensou. A jovem nunca havia pensado em suicídio. Mas o quanto seria forte para aguentar a dor? Como renasceria das cinzas como a Fênix? Não podia se mais ela mesma.
Respirou. Seu pai gostava de jogar cartas e ela aprendeu ser uma excelente jogadora. O ar não dançava mais em seus pulmões. O beijo de Ricardo era quente e gostoso. Ele era bonito e a deixava excitada. O coração acelerava buscando uma forma de se manter vivo. A mansão era vazia, mas o subsolo era preenchido de planos, metas, objetivos. Sonhos. Seu corpo não queria morrer. Sua mente não queria morrer. Seu pai jamais aprovaria que ela se matasse. Queria beijar Ricardo de novo. Tinha que treinar com os outros. Um dia iria ser igual Agnes, forte, decidida, pronta para qualquer coisa. Um dia seria exatamente igual Agnes. Podia ver a sua silhueta de mulher, seus cabelos soltos, seu rosto longo e fino, mais velho. Seus poderes. Lutando ferozmente as batalhas, como Agnes. Uma super heroína. Arfou. Engoliu um pouco de água. Mas respirava com ânsia. Tinha previsto o futuro. Seu poder ainda estava dentro dela. Tinha um futuro pela frente e essa não era a hora da sua morte. Se levantou, se secou e colocou uma roupa de treinamento. Transou seus cabelos ondulados e abriu a porta do seu quarto. Agnes estava esperando do lado de fora com os olhos cheios. Abraçou Sofia.
— Está pronta? — perguntou.
— Sim, estou pronta.Na sala de treinamento todos já estavam suados. Ricardo estava deitado no chão e levantou prontamente quando viu Sofia. Os outros não tiravam os olhos dela.
— Prever os movimentos do seu adversário é crucial para que vença a luta. — disse César se aproximando. Ele lhe daria um soco. Sem dó nem piedade. Sofia já tinha aprendido a segurar o golpe usando as duas mãos. Fez exatamente isso quando ele avançou.
— Muito bem. Sabe que não do moleza. Se concentra. — com Sofia atrás segurando suas mãos, César tentaria uma rasteira. Sofia o largou dando dois passos para trás.
— Não quero lutar com você. — disse Sofia. — Quero ele. — apontou para Samuel. O Gigante ficou surpreso.
— Vai lá — liberou César.Sofia sentia o seu corpo mais ativo do que nunca. A adrenalina pulsava em suas veias. Samuel estava inseguro, com medo de machuca-lá. Fizeram posição de luta. Ele iria brincar com ela, tinha muito medo da fazer algo errado. Samuel avançou com um soco leve. Sofia desviou facilmente. Ele deu outro golpe e ela meteu um soco na sua cara sentido seus dedos doerem como se tivesse socado uma parede.
— Luta igual homem. — desafiou. Ele lhe daria um soco tão forte que a derrubaria no chão, mas o que acontecia depois era incrível.Todos soltaram um grunhido quando Sofia caiu no chão. Aquele soco apagaria qualquer um. Mas ela era ExtraOrdinária. Sofia se levantou, encarou Samuel, o Gigante. Assentiu para que ele a golpease novamente, mesmo sentindo gosto de sangue. Samuel de punhos fechados deu um soco de direita. Sofia desviou. Deu um de esquerda a garota o segurou. Alice soltou um gritinho. Kenji ficou de boca aberta. Sofia estava segurando o golpe do membro mais forte da equipe. Samuel não entendia nada. E antes que conguise pensar um soco de uma pequena mão o acertou como se fosse chumbo. Pela primeira vez Samuel sentiu o gosto do seu próprio sangue. Sofia deu outro golpe. Ele começou a se defender. Estavam lutando de igual para igual. A garota havia aprendido os seus poderes. Quando já estavam cansados. Uma salva de palmas veio dos que assistam.
— Seja bem vinda, Aprendiz. — disse César orgulhoso.
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Vol. 1 Heróis do Amanhã - NOVA ERA
AçãoO mundo mudou. Cientistas em laboratório alteram o código genético fazendo nascer pessoas ExtraOrdináriaS. A humanidade tem medo do desconhecido e aquilo que temem quererem destruir. A Oráculo, Agnes Agnel prevê um futuro desastroso, mas também vê...