Agnes/ Oráculo

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Já fazia um mês desde a revelação e nada tinha mudado. A mídia continuava em busca de uma entrevista com a primeira dama. Queriam ouvi-lá, que se defendesse, que falasse qualquer coisa. Agnes Agnel continuava sendo acusada de traição, farsa e mentiras. Para alguns fanáticos religiosos ela era uma abominação, filha do demônio e facilmente a queimaram em uma fogueira, ou seria crusificada em seu quintal. Tudo isso por que ela era "diferente".

Agnes não podia chamar mais a atenção social, precisava ser esquecida, pois não era o foco alimentar tablóides de alienação. A sociedade precisava ver o que realmente importava, gente sendo massacrada por apenas existir. Isso sim era abominável e demoníaco.

A mulher permanecia firme, com sua complacência, seus ideais. Então ela apenas esperava. Tinha que esperar. Em breve iriam procurar outras notícias, logo algo maior chamaria toda a atenção para si e isso a deixava angustiada, como quando se entra em um quarto escuro, o seu quarto, mesmo familiar é preciso tomar cuidado por onde se pisa para não tropeçar e muito menos cair. Isso era ver o futuro para a paranormal. Sem sombra de dúvidas Agnes preferia aguentar o peso sozinha do que compartilhar com outras pessoas, mas ela jamais suportaria o peso do mundo nas costas, precisava de ajuda e ela estava a caminho. Haveria uma reunião de família.

O dia amanheceu diferente na mansão presidencial. Agnes combinou tudo com Kendra, o cardápio, quais bebidas e Miguel fez questão de preparar tudo, ele era um chefe cinco estrelas. Agnes queria tudo perfeito. Fazer felizes as pessoas que amava era primordial para ela. Mesmo com o sol dentro de si, o dia não colaborava, amanheceu chuvoso, os dias ficariam cinza por algumas semanas e as noites mais escura para muitas pessoas. Agnes odiava cinza. E não havia outra cor nos próximos horizontes. O poder da extraordinária era uma grande responsabilidade. Nada podia surpreende-lá e ela tinha que saber lidar com tudo que iria acontecer. Seu psicológico se moldava a cada pancada, a mulher se tornava forte para poder suportar a deusa dentro de si.

Ao meio dia, mesa cheia, copos, pratos e garfos, jarras, tigelas e xícaras. Os gostos eram variados, mas Agnes queria agradar a todos. A família almoçava, uma coisa que não faziam a um bom tempo. Além de Miguel e Kendra que sempre estavam por perto, estavam também Marcos que conseguiu manter a ordem em Brasília após a conferência e já podia tentar respirar tranquilo. O povo o amava.

Um rosto se destacava na mesa roendo uma coxa de pato assado ao molho de laranjas. César, o filho de Marcos. Agnes olhava para ele e pensava o quanto ele crescerá rápido demais. Se tornou homem do dia pra noite. Ele sorriu ao perceber o olhar dela sobre si.

- Não gosto dessas frescuras. Uma galinhada tava ótimo. - disse César tirando gargalhadas de todos.

- Tu não muda menino! O bichinho. - exclamou Kendra.

- Mas tá gostoso. Não tô reclamando. - mais risadas se manifestaram.

- Fico feliz que tinha gostado. - disse Agnes. A comida já não tinha gosto para ela. Saber os prazeres que podia proporcionar era o que lhe dava prazer.

- Pato é a especialidade do papai. Mas a galinhada. Humnn... Oh! Delícia.

A mesa estava farta com arroz, saladas e molhos. Agnes estava feliz com suas companhias. Ela estava em família, não completa, ainda. Mas para aquele momento era suficiente.

- Vai ficar quanto tempo? - César perguntou para Marcos.

Era incrível a semelhança entre o pai e o filho. Os dois homens negros tinham pequenos olhos indígenas, cabelos raspados e cavanhaque, olhos castanhos claros e o sorriso grande e resplandecente. A semelhança física era a única coisa que eles tinham em comum, Marcos costumava dizer que César tinha o coração da mãe. Havia muitas outras coisas que os separavam, principalmente a morte. Elisabeth Silveira, a esposa de Marcos e mãe de César que foi brutalmente assassinada nos ataques. Quando César mais precisou de Marcos ele não estava, o luto, uma grande depressão e um vício o separaram de seu único filho ao longo dos anos.

Vol. 1 Heróis do Amanhã - NOVA ERA   Onde histórias criam vida. Descubra agora