Agnes/ Oráculo

19 3 0
                                    

O barulho soava com a mesma intensidade de dor que as bombas que explodiam na guerra, como os poderes liberados ao máximo para lutar contra um deus. Um sádico que dizia ser a solução para o mundo, mas que na verdade era o próprio causador de uma desgraça sem escalas.

Agnes não tinha como fugir, precisava esperar e de fato esperava com calma. A caverna tremia, estava quase tudo no fim. Os seus heróis tinham sido treinados, dentre muitos futuros possíveis, ser salva era uma das suas maiores certezas.

Se sentia invadida quando Córtex leu os seus pensamentos. O garoto que poderia estar ao seu lado, e somente não estava por imperativos categóricos, ele era a única forma de localizar o caminho de volta ao lar. Agnes escondia um segredo que não poderia contar a ninguém, não por enquanto, já que toda verdade aparecia, uma hora ou outra.

Quando Córtex percebeu que não havia nada sobre a localização da ilha na mente da Oráculo, a não ser enigmas. Ariana o mandou para fora ordenando que ele vasculhace a mente de todos os jovens heróis.

O interior da caverna era escuro, frio e lembrava muitos outros lugares onde Ariana costumava usar pra se esconder. Não havia conforto nenhum, não havia nada além de pedras e corações desesperados, olhos cegos pela ganância do poder, pessoas que de tão violadas aprenderam a violentar também.

- Pra que todo esse circo? - disse Ariana.

- Cada segundo corresponde um pequeno infinito.

- Mais enigmas. O bom é que eu nunca tive um pingo de paciência e quebrava todos os jogos, todas as regras.

- De fato, você perdeu muito em não olhar os lírios do campo. - disse Agnes com uma serenidade absurda.

- A úncia coisa que você quer é tempo. A minha vida é uma ampulheta que está se esvaindo, eu não tenho mais tempo. - dentro da caverna as sombras eram donas de tudo. Pequenos feixes de luz tentavam entrar. Agnes podia ver o rosto de sua irmã, podia ver tudo o que tinha acontecido entre as duas, gêmeas ExtraOrdináriaS, mulheres além de seu tempo, duas escolhas e dois caminhos que quando colidiram explodiram com tudo a sua volta.

- Como se livrou de uma lembrança? - perguntou Ariana impaciente.

- Muitos E.O.S fizeram coisas necessárias com seus poderes. Pararam ditadores, condenaram perdedores e esconderam informações valiosas. - Ariana pensou por um tempo sobre as palavras de Agnes. As duas estavam lado a lado, quase grudadas uma na outra. Ariana estava fraca e Agnes a apoiava com os braços fortes que ainda possuía. A caverna continuava tremendo e terra caia em suas cabeças.

- Se morrermos já podemos ser enterradas.

- Não agora. - respondeu Agnes.

- Então tá. Até lá sabe exatamente o que vou fazer.

- Não necessariamente. O meu e o seu futuro são incertos. Os deles eu tenho certeza.

- E de Lucius, você nunca viu?

- Nunca. - permaneceram em silêncio com mais terra caindo sobre elas. Ariana riu baixo.

- Um Deus.

- Apenas um homem.

- ExtraOrdinário.

A terra caiu com mais força. A caverna tremia. Ariana estava muito fraca e Agnes passava a mão em seu rosto. A idosa que ela condenará a morte estava tão debilitado que por pequenos segundos morria um pouco. Estava tudo tão escuro que Agnes pensava que teria sido melhor que todo o conhecimento humano tivesse permanecido na caverna. Homens e mulheres vivendo com o que a natureza lhes dava, vivendo em cavernas. Agnes balançou a cabeça em negação. "Muitos mundos evoluídos souberam viver além das cavernas. A raça humana não peecisa estar condenada ao caos e sim saber lhe dar com ele em um ciclo de reinício constante". - refletia a Oráculo com terra lhe cobrindo parte do corpo sentado ao chão. "Não precisamos de apocalipses, nem de condenações, apenas de reinício".

Uma luz brilhante apareceu. Estava se aproximando e era quente. O calor revigorando Agnes, era o seu herói. Ricardo, menino de bom coração, ele estendeu a mão pegando Agnes no colo. Ricardo estava tão quente que o vestido de Agnes ficou chamuscado. Mas o seu coração renovado. O bondoso Samuel pegou Ariana, tanta pureza, inocência, um meninão que Agnes amava. O tremor na caverna aumentou até que ela cedeu. Um gemido alto marcou a presença de Alice, ela estava projetando um campo de força que os protegia. A passos lentos saíram da caverna em direção a luz do mundo. Agnes viu Kenji sorrindo e sentiu um temor por ele, tão menino, Agnes não gostava de pensar no homem em que ele iria a se tornar. Seus olhos foram de encontro com Sofia, ela estava confusa, tinham entrado em sua cabeça vasculhando os seus pensamentos.

Quando Alice saiu da caverna o campo de força se desfez e o barulho de desabamento ecoou fazendo às poucas aves voarem em busca de abrigo. Uma poeira marrom e espessa subiu, mal davam para se ver. Mas Agnes precisava apenas sentir, os discípulos de Lucius pegaram Ariana no colo. "Cuidem de dela". - pensou.

Agnes viu Vórtex abrindo um portal. A poeira baixava aos poucos, mas duas ficaram para trás, Yoco estava desorientada, olhava de um jeito diferente para Kenji. Ele a rejeitava com raiva, ela correu e o abraçou com força. A menina estava chorando, Kenji retribuiu o seu abraço. Agnes ouvia um pedido de perdão.

A outra ficou no meio. Não sabia pra qual lado seguir, em cima do muro Manda permaneceu e por um momento pensou se as coisas que Alice disse poderiam realmente acontecer, mas por outro lado queria uma vida sem o medo de ver as pessoas que amava queimando em uma fogueira. Uma família foi a última coisa que a Quimera pensou, quando sua cabeça explodiu. O som da arma disparada parecia fazer tudo ficar em câmera lenta. O portal de Vórtex se fechou. A poeira baixou revelando vários exterminadores. Todos de preto, usando luto por seus entes queridos mortos e atacados pelo E.O.S. Eram uma organização movida a ódio e a vingança. Um corpo jazia movendo os seus últimos reflexos com dedos lentamente. Morta. Todos seriam mortos. Mas não agora.

Escudo criou um campo de força envolvendo todos os heróis. Os exterminadores dispararam tudo o que eles tinham, armas pesadas e bombas. Escudo segurava bem.

Entre os exterminadores Agnes viu o seu menino, César. Abatido com a violência, com a depressão, com o luto. César nunca esqueceu daquele que matou a sua mãe e o perseguiu durante anos até conseguir matá-lo. Mas não era suficiente matar apenas um, toda a raça precisava ser exterminada e depois da raça ExtraOrdinária seria a vez da raça humana que também comete os seus crimes diários. "O que vai sobrar?" - se lembrou Agnes das inúmeras conversas que tinha com César tentando mudar o seu futuro. "Como se livrar da dor?". - lembrou-se da pergunta do menino.

César ao lado dos exterminadores correu em direção ao campo de força de Escudo. Agnes olhou para Alice e ela deixou que o Militar passasse. De dentro ele apertou um botão.

"Perdão" - pensou Agnes. "Só se livra da dor com o perdão". - ela encontrou com o olhar de César. Um olhar de família e de afeto, de uma mãe para um filho que aceitou o perdão e também pediu e foi perdoado. Pois nada resta as mães ao não ser perdoar os filhos. César abriu a mão revelando um dispositivo disparador de bombas. O círculo que envolvia os exterminadores explodiu os tragando para fogo e destruição. Alice tremia, mas o seu campo de força permanecia intacto. A jovem usava toda a energia vital dos homens e mulheres que morriam na explosão.

- Vamos pra casa, vamos pro nosso lar. - disse Agnes olhando nos olhos de cada um de seus heróis. - Amanheceu meus filhos, amanheceu e vamos voltar pra casa. - com todos os seus sentimentos a flor da pele Agnes sorriu, se desfez da máscara usada para se proteger de seu poder. A armadura que construirá durante um século parecia impenetrável até que um grupo de jovens machucados, doloridos e quebrados a fez se desfazer de seus medos e anseios para poder lhes abraçar e os amar com todas as força que tinha. Pois não á nada, se não o amor para salvar o mundo.

Vol. 1 Heróis do Amanhã - NOVA ERA   Onde histórias criam vida. Descubra agora