Luiz/ Vórtex

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— Ouçam bem. Há uma esperança para nós. Não se esqueçam. Quando estiverem cansados e com medo se lembrem dele. Somente ele pode nos salvar, não temam nada que tente destruir vocês. Somos superiores. Filhos das estrelas. Existe uma nova era onde nós seremos deuses e mandaremos nesse mundo. Os humanos serão escravos e exterminados quando não tiverem mais utilidade. Seremos grandes e poderosos e poderemos esmaga-los como eles vêem fazendo isso conosco. Eu mostrei a vocês às minhas lembranças. Mostrei o que fizeram conosco em uma sala de laboratório. Nós trataram como ratos e continuam fazendo isso até hoje. Naquele lugar, nojento. Construído para nós conter. Estamos em busca de liberdade. Marchem até Lucius. Liberem Lucius. Libertem! — Ariana usava de um esforço tremendo para discursar. Quase não fazia isso para se poupar. Mostrava as suas memórias e convencia facilmente com os horrores feitos pelos cientistas. Quando conseguia pregava a única forma de salvação que via. Mastigava as palavras e as vomitava com objetivo de aprodecer aqueles que não viam a verdade. — Liberdade! Liberdade! Liberdade! — repetiu o coro de discípulos. Recém libertos da prisão do Complexo. Estavam ansiosos pela verdadeira libertação que seria concedida por Lucius.

Os discípulos eram poucos, mas suficiente. Ariana não queria chamar a atenção. Precisava se esconder. Agir nas sombras. Menos era mais. O objetivo do grupo era sequestrar a criadora do Complexo, Agnes Agnel e encontrar o caminho até a origem de tudo. O caminho de volta para casa.

Todos sabiam que a mulher, Agnes, era uma traidora, que apunhalou Lucius impedindo a nova era dos ExtraOrdináriaS. Luiz se perguntava como alguém poderia ter feito algo que prejudicou tantas vidas, que prejudicou a sua própria vida. Alguém  que era como ele. Que ao menos deveria ser como ele. Mas definitivamente não era.

Luiz estava certo que Ariana o guiaria até Lucius e a verdadeira libertação seria eminente. Os dias ainda eram difíceis e precários. Tinham que se esconder na velha galeria, tinham que comer o que roubavam e tomar todos os cuidados para não serem encontrados. Todo cuidado era pouco.

Ariana estava deitada recebendo água da pequena japonesa. A menina parecia ser mais nova do que a idade que tinha. Treze anos. Nunca tinha visto o mundo do lado de fora.
— Obrigada pequena. — disse a velha.
A menina assentiu.

Pra conseguir recursos Luiz e Lucas estavam indo até a cidade próxima e usando os seus poderes para roubar tudo o que precisavam. Lucas estava cada vez melhor em brincar com as mentes das pessoas. Ele lia os seus pensamentos, colocava novos, faziam as pessoas verem o que ele queria. O nada se tornava dinheiro e ninguém suspeitava. Luiz cuidava do transporte. Rápido e sigiloso com o seu poderoso vórtex.

As quimeras treinavam todos os dias. A mulher vespa alcança voos altos e cortantes e o homem crocodilo parecia cada vez maior conforme se alimentava de pequenos animais que cruzavam o seu caminho como cachorros e capivaras. Luiz demorou um tempo para se acostumar. Mas já não se assustava com os parceiros. Afinal eram todos irmãos. Criados a partir de Lucius. Filhos da ciência. Donos das galáxias e dos mundos.

Luiz fazia a patrulha da noite quando viu a menina sentada. Olhando para lua. Ela tinha o rosto redondo, olhos pequenos, quase negros. Os cabelos pretos eram longos e caiam cobrindo as suas costas. Os primeiros traços de moça começavam a aflorar. Estava crescendo rápido. Todos eles foram obrigados a se tornarem adultos antes do tempo, com a maior responsabilidade de todas. Se manterem vivos. 

— Está sem sono? — disse Luiz.
— Não costumo dormir muito. — a menina resondeu de forma tímida.
— Quando te encontrei, você estava dopada. Te apagaram legal. — houve um pequeno silêncio. Suficiente para ser insuportável na ansiedade de Luiz.
— Então você nasceu lá. Viveu lá a vida toda. — a menina não respondia.
— Eu não. Nasci e fui criado em Fortaleza com o meu irmão. Até que tínhamos uma vida boa. Até...
— Para. O que você quer? Acha que podemos ser amigos? Eu não sei o que é isso.
— Tudo bem. Tudo suave. Aqui não é igual lá. Que você é programada para fazer as coisas como uma máquina. — de repente Luiz se viu sozinho. A menina não estava mais lá. Havia desaparecido. — Eu sei como funciona os seus poderes! Pode enganar as mentes, pode mexer com os sentimentos alheios. Olha garota isso não é nada legal. — continuava dizendo. Mesmo que a menina não estivesse mais lá.
— Iludo. Aparece vai.
— Do que você me chamou? — a menina apareceu exatamente no mesmo lugar em que estava.
— Te dei um nome. Ninguém merece ser um número.
— Eu gosto.
— Pode me chamar de Vórtex, e meu irmão de Córtex. Nós mesmos que inventamos. Nossos novos nomes.
— Vórtex. Obrigada. — a menina o olhou pela primeira vez diretamente em seus olhos. Não parecia mais um bichinho se escondendo com medo.
— De nada. Temos muito trabalho a fazer. Mas não precisa ser ruim. Não temos que sofrer. Seremos livres. Isso não é incrível?
— Eu ainda não sei o que é isso.
— Isso o que?
— Liberdade. — quando Iludo disse isso Luiz sentiu um nó na garganta. Ele ficou alguns anos o Complexo. Iludo ficou a vida toda. Era apenas um número. Fazendo um leve movimento um vórtice negro se abriu.
— Vem aqui. Vai ser rápido. — chamou Luiz.
— Como?
— Vou te mostrar uma coisa. — Luiz estendeu a mão. Por um momento achou que a menina não o atenderia. Mas ela apertou a sua mão com força e entraram no vórtice.

As luzes da cidade brilhavam na noite. Prédios imensos e um horizonte que parecia ser infinito. Estavam no alto de um arranha céu. Viam toda cidade. Iludo estava sem reação. Apenas olhava tendo como reflexo um brilho de esperança.
— Liberdade é ter tudo isso. Ir e vir. Ter e ser. Sem medos.
— Tudo isso?
— Tudo e muito mais. — Luiz apontou para o céu negro com pequenos brilhos. Estrelas distantes. Talvez mortas e a lua irradiante.
— Muito...É muita coisa. — dizia a menina.
— Sim. Seremos deuses. E tudo isso vai ser nosso.

Quando voltaram para galeria a menina deu um sorriso para Luiz. E sem dizer mais nada foi cuidar de Ariana. Manter ela viva era a úncia esperança que os discípulos tinham. Não havia outra saída. Ou morriam ou matavam. Ou eram caça ou caçador. Não existia definição de bem ou mal. A única coisa que importava era a sobrevivência e o caminho para ela já estava sendo preparado. "Liberdade para Lucius". — pensou Luiz sozinho com o mundo todo em sua cabeça.

Vol. 1 Heróis do Amanhã - NOVA ERA   Onde histórias criam vida. Descubra agora