Uma pequena mancha negra tomava um formato circular, qualquer olhar para dentro dela não revelaria nada, nem objeto, nem cor, apenas o nada. De súbito uma maçã foi arremessada dentro da mancha e como se fosse sugada pelo negrume a fruta desapareceu. Uma outra mancha se formou, está um pouco mais alta, mas nenhuma outra diferença que a outra e de dentro da mancha saiu aquela maçã. Caiu sobre as mãos de Luiz ele sorriu e a comeu prosaicamente.
O jovem branco de classe média não pode desfrutar por muito tempo a vida boa que os seus pais lhe dariam. A família de sua mãe era de comerciantes, já a família do pai possuía um trabalho um pouco duvidoso, seu pai era pastor de uma igreja em uma pequena comunidade carente.
Luiz e seu irmão três anos mais novo, Lucas, cresceram ganhando tudo do e do melhor na bela cidade de Belém do Pará. A casa da família era grande, tinha psicina e um jardim cuidado com amor pela dona de casa que vivia aos berros com o marido, brigavam por tudo e somente o jardim acalmava a mulher. O marido estava bebendo demais ultimamente, para o desespero da família que apanhava como se fossem culpados de alguma coisa. A mulher chorava e as crianças se escondiam, mas sempre eram encontradas.
Luíz sempre foi um jovem calmo, parecia o pai com cabelos lisos e negros e seu irmão, que era mais calmo ainda, tinha a cor negra da mãe e o enorme sorriso branco que desaparecia cada dia mais. A mulher estava sendo espancada mais uma vez, seria morta pelo marido, se tornaria estatística, só mais uma. O marido, que aparentava ser uma ótima pessoa para os vizinhos estava possesso de raiva ao descobrir que a mulher queria se separar, se libertar daquela miséria de vida. Quando a mulher se cansou e caiu no chão, uma caixa metálica de ferramentas de jardinagem caiu sobre a cabeça do homem abrindo um buraco e o libertando da ignorância que nele existia.
— Eu tenho saudades de casa. — disse Lucas, que observava Luiz brincando de arremessar objetos em seu Vortex.
— Posso ir pra qualquer lugar do mundo. — disse Luíz
— Menos pra casa.
— Poderia fazer você me levar. — ao ouvir as palavras do irmão Luiz cessou sua brincadeira e olhou nos olhos do menino assustado.
— Por que você quer ir a um cemitério? — saiu deixando o irmão sozinho.No salão de mármore Ariana estava deitada, exausta, parecia que a qualquer momento iria se tornar poeira. " A velhice é uma droga" — pensou Luiz. A menina japonesa cuidava da velha. A menina, chamada de Iludo, por seu poder paranormal de criar falsos sentimentos, e ilustrações parecia tão frágil. Ela era tão delicada, mesmo já sendo uma moça de quatorze anos, algo em seus traços orientais a faziam parecer uma criança. Do outro lado do salão, Brutus o homem crocodilo comia um animal, aquilo embrulhou o estômago de Luiz. Quimeras tinham um extinto selvagem preservado. Outra que comia coisas estranhas era Exu, a mulher vespa. Antes que vomitasse saiu para o lado de fora usando seu Vortex. O ar puro não era nada comparado a sensação de claustrofobia que Luiz sentia. Mesmo assim espasmos o fizeram colocar pra fora tudo o que tinha comigo no almoço, uma comida ruim, mas nada comparado a gororoba servida no Complexo. Negam comida a quem tem fome, mas para não serem acusados de desumanos servem ração no lugar, o que também é comida, mas não deveria ser servida para gente. "Se é que somos gente" — pensou Luíz enquanto se levantava e buscava água em uma nascente. Lavou a boca e o gosto amargo. Inspirou profundamente.
Fugir do Complexo foi mais fácil do que ele tinha pensado. Ariana tinha tudo planejado e agora os fugitivos estavam escondidos em um buraco velho, temporário. Ariana prometia palácios aos discípulos de Lucius, o Primeiro.
O esconderijo era uma galeria abandonada ao lado de um cemitério. Estavam renascendo em uma cova, esse era o recomeço de uma nova era que se aproximava. Ninguém os encontraria onde estavam, o lugar abandonado caia aos pedaços. A água da nascente invadia o parte de baixo, parecendo um pântano, um lugar perfeito para Brutus. Na parte seca era improvisado quartos e um salão onde Ariana pregava aos seus novos discípulos a única forma de sobreviver nesse mundo. Libertar Lucius de sua prisão. Pra isso teriam que descobrir como chegar na ilha onde foram criados os E.O.S.
Ariana acordou de um cochilo e olhou diretamente para Luíz. Ele não conseguia encarar ela por muito tempo, não por causa da velhice dela, mas por causa do seu olhar tão imerso em ódio. De fato Luíz sentia ódio também, os humanos eram desprezíveis e os E.O.S que não apoiavam Lucius eram piores ainda. Como alguém poderia impedir Lucius de criar um mundo onde a dor de quem nasceu ExtraOrdinário cesária.
— Eu não tenho muito tempo. — disse Ariana.
— Farei o que for preciso para que dê tempo.
— Isso é muito relativo. O que importa é que você saiba de tudo e que faça! Caso eu não consiga. — Luíz concordou. Ariana estendeu a mão, seus olhos se tornaram negros e os de Luiz também. Então ele viu.Em uma mesa de cirurgia uma criança agonizava de dor. Tiravam dela partes de seu corpo. "Assim que nós fomos criados. A partir dele" — dizia Ariana na cabeça de Luíz. Aquele procedimento de retirada de sangue não se comparava a dor de retirarem líquido da coluna do menino que gritava de dor em vão. Era tão frágil, tão pequeno. "Como podem fazer isso!" — pensou Luíz chorando. Se lembrando de tudo que sofreu nas mãos do seu pai. "São os verdadeiros monstros" — respondeu Ariana. Uma outra visão se formou. Luíz sentia o ar como se estivesse lá. Na ilha. De um prédio saia várias crianças em fileira, marchavam como soldados. Aquele lugar parecia o Complexo. Luíz estremeceu. "Se acalme, de onde eu venho era muito pior do que esse Complexo que nos aprisionou". — disse Ariana. "Como pode ser pior? Meu Deus! Vocês parecem robôs" — Luiz não conseguia acreditar. "Armas" — completou Ariana.
Durante o resto do dia Luiz só conseguia pensar em "Armas" criaram armas, para guerra, para conquista e destruição. A cada nova visão de Ariana, Luiz sentia mais ódio dos humanos. Como podiam machucar em nome do "progresso" que monstruosidades seriam feitas para se alcançar o ego humano. Alguém precisava por um fim em tudo isso. "Chega de dor" — pensou.
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Vol. 1 Heróis do Amanhã - NOVA ERA
AksiyonO mundo mudou. Cientistas em laboratório alteram o código genético fazendo nascer pessoas ExtraOrdináriaS. A humanidade tem medo do desconhecido e aquilo que temem quererem destruir. A Oráculo, Agnes Agnel prevê um futuro desastroso, mas também vê...