O capuz preto cobrindo o rosto incomodava, era difícil respirar e Ricardo sentia vontade de espirrar. Havia outros cinco homens, todos da favela. Eles pareciam não se importar com o capuz cobrindo o rosto, aquilo já era natural para eles. O tio de Ricardo estacionava a perua velha na frente do banco. A cidade escolhida para o roubo era muito pequena e com uma segurança duvidosa. Ricardo chegou a ouvir que o prefeito da cidade fazia parte do esquema. Foi aí que Ricardo entendeu que o crime não vinha da favela. O crime vinha dos palácios e a favela era só a massa usada para o trabalho. Eram os homens naquele veículo que enfrentariam o confronto e o stress de uma vida de crime, quem gozaria disso tudo estava bem instalado na vida.
Foi aos sete anos que Ricardo roubou pela primeira vez. Ele se lembrava tão claramente como o nascer de um dia turvo. Seu tio o levou para uma praça onde alguns bacanas se distraiam com coisas que ele jamais sonhou, crianças tomavam sorvete e outras brincavam em um pula pula, iam tão alto. Ricardo voltou de seu devaneio com um tapa na cabeça. "Trabalha muleque" - dizia o tio apontando para uma senhora gorda sentada no banco da praça, distraída enquanto tomava sorvete, a bolsa dela, marrom de couro estava ao lado. O menino magrelo mesmo com medo se aproximou por trás do banco, e tão rápido quanto pode pegou algo que não era seu. Correu para longe da mulher que gritava sem entender o que tinha acontecido. Ricardo ficou cansado e com a garganta seca, se escondeu atrás de uma árvore e pela primeira vez tomou sorvete, era de flocos, ele se lambuzou todo. O seu tio lhe deu uma surra, mas para Ricardo valeu a pena. Dias depois ele voltou para casa com uma bolsa cheia de dinheiro e dois celulares. O seu tio ficou orgulhoso e comprou um pote de sorvete de flocos para ele tomar sozinho.
Ver através das órbitas do capuz cobrindo o rosto era como ser sufocado por uma pressão insuportável. Ricardo não era mais um garoto, era um homem e não queria mais fazer nada de errado, ele prometeu que fugiria enquanto os bandidos estivessem contando o dinheiro, essa seria a sua única chance, se não fugissem agora viveria para sempre essa vida de crimes e violência. O jovem não queria ser como o seu tio ou os outros homens que iam praticar o roubo. Se a vida era feita de escolhas, Ricardo estava pronto para fazer a sua.
- Tira essa merda moleque - disse o tio de Ricardo. Ele obedeceu.
- O plano é o seguinte. O moleque vai entrar no banco e conter os seguranças. - instruía o tio.
- Taca fogo nos cara se precisar. - Ricardo tremeu com o que teria que fazer.
- Vai obrigar eles a liberar a nossa entrada. Entendeu?
- Sim. - Ricardo respondeu com a garganta seca.O dia estava meio cinza por causa da chuva que passará, a cidade do interior tinha muitas árvores e o frescor trazia uma sensação de paz. Estava muito cedo e havia poucas pessoas no banco, como ordenado Ricardo entrou o detector de metais não destaca poderes. Ricardo olhou para o segurança que o encarou de volta.
- Algum problema garoto?
- Isso é um assalto. - disse com a voz trêmula. Os o segurança riu.
- Isso é alguma brincadeira? - disse o segurança indicando a saída do banco. Ricardo levantou sua mão direita como se fosse pegar algo no ar, o seu corpo estava quente, mas a sua mão estava fervendo quando uma pequena bola de fogo se formou, reluzente parecia dançar na mão do jovem. O segurança se assustou, mas não se mexeu ele sabia que se tentasse pegar sua arma na cintura seria em vão.
- Libera a entrada dos caras, agora. - disse ainda trêmula, como quem pedisse ajuda ao mesmo tempo em que era o algoz. O segurança obedeceu e liberou a entrada dos outros cinco que logo lhe renderam e tomaram a sua arma. Foi então que Ricardo percebeu que havia algumas pessoas assustadas, em uma pequena fila três homens e duas mulheres se ajoelharam com medo. Os bandidos renderam outros dois seguranças. A agência era pequena e o plano era infalível. O gerente um homem gordo de meia idade, bem vestido não tirava os olhos de Ricardo.
- Vamos lá patrão leva eu e o garoto até o cofre. - disse o tio de Ricardo.
- Está fechado é impossível abrir. - disse o gerente.
- Se acha que eu não sei como funciona o esquema? Aqui é o Chicão eu manjo dos negócio e por isso trouxe o moleque. Agora anda! - o gerente foi até uma sala com a arma de Chicão em sua cabeça. Ao chegar na frente do cofre Ricardo colocou suas mãos na estrutura metálica, ele começou a esquentar e logo o cinza se tornou vermelho e o rígido se tornou frágil até derreter. - Viu só bacana o moleque manda bem! - disse Chicão gargalhando. Com o cofre aberto, dois bandido se aproximaram com uma mala e começaram a pegar toda o dinheiro. Eles estavam em êxtase.
- Nunca foi tão fácil, Chicão. - disse um que era bem conhecido, o Boca, era um pai de três filhos. Isso deixou Ricardo indignado. Os filhos dele moravam com a mãe em outro lugar e até estudavam em uma escola particular. O Boca disse uma vez que Ricardo devia sempre estudar, isso até descobrir que o que o jovem podia fazer. Foi como se Ricardo perdesse a sua inocência por aquilo que podia fazer.
- Agora vai ser sempre assim. - disse Chicão.
- Não é moleque? - Ricardo encarou o tio que o olhava através da máscara preta, somente os olhos castanhos a mostra, olhos de um criminoso. - E aeh moleque vai me negar voz! - gritou Chicão. Furioso Ricardo lhe deu um soco com toda a sua força, a máscara de Chicão começou a pegar fogo. Ricardo apontou para o cofre e lançou uma bola de fogo contra todo aquele dinheiro. Os outros bandidos começaram a tentar apagar o fogo, a salvar o dinheiro, mas acabaram se queimando. Ricardo correu, os outros dois criminosos apontaram armas pra ele, o tio gritava de dor. Havia fumaça subindo.
- Ninguém atira. Eu mesmo vou matar esse filho da puta como fiz com os pais dele. Essa aberração vai direto pro inferno! - Chicão fedia a carne queimada, sua mascara queimou completamente, assim como seus cabelos e parte de seu rosto. O coração de Ricardo estava em disparada. A arma metálica do seu tio estava pronta para disparar, ferro e fogo. Ricardo encarou a arma e uma onda de calor a atingiu, Chicão largou a arma com a mão queimando. Um tiro explodiu no ar. Um grunhido veio de um homem que estava agachado tentando se proteger. Um inocente. Ricardo inflamou as mãos e lançou fogo contra aquele que roubou a sua infância e o lançou em uma vida miserável. Os outros dois bandidos tentaram fugir, mas o fogo os alcançou, agora eles gritavam de dor e medo e a morte penetrava suas carnes até os ossos. Um barulho de sirene. A polícia havia chegada, era o fim. Ricardo seria levado para o Complexo, seria condenado por ser um assassino e ladrão e também por aquilo que era. Uma aberração como disse o tio nas últimas palavras. Ricardo caiu de joelhos exausto, ele arfava, queria morrer. Gritou de ódio.
- Ei garoto. - disse o homem baleado. - sangue jorrava de sua boca e do ferimento na barriga.
- Me perdoa. - implorou Ricardo.
- Vocês precisam se unir contra aqueles que querem usar vocês.
- Nos unir? - disse confuso.
- Sim, se unir com aqueles que são iguais a vocês, precisam se proteger, prometa?
- Eu não entendo, senhor. Me perdoa.
- Não foi culpa sua, não foi culpa dela. Vocês são só crianças, precisam se unir. Prometa. - disse o homem usando suas últimas forças.
- Tudo bem. Eu prometo. - disse Ricardo, que já estava apertando a mão do homem desconhecido. Morto. Ricardo fechou os olhos, por um momento pensou em uma sequência, fogo, ferro e morte. O jovem não ouviu o barulho das sirenes, nem sentiu o cheiro de carne carbonizada, não sentiu calor nem medo. Não via as pessoas saindo desesperadas da agência, o gerente que o olhou uma última vez, mas não sentiu pena ou gratidão, apenas sentia medo daquilo que era o jovem. A polícia recebia os reféns, o dia ganhou outros cheiros, o dia calmo se tornou barulhento. Ricardo abriu os olhos, mas logo em seguida tudo escureceu.
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Vol. 1 Heróis do Amanhã - NOVA ERA
ActionO mundo mudou. Cientistas em laboratório alteram o código genético fazendo nascer pessoas ExtraOrdináriaS. A humanidade tem medo do desconhecido e aquilo que temem quererem destruir. A Oráculo, Agnes Agnel prevê um futuro desastroso, mas também vê...