Agnes/ Oráculo

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Casa cheia. Tão cheia, como jamais fora antes. Não estava tão frio, nem se ouvia tantos ecos. Agora, eram diferentes timbres que percorriam os cômodos da mansão. Havia calor humano em todo canto e isso era a melhor coisa do mundo.

Já fazia uma semana desde a chegada dos jovens heróis. Agnes estava plena com seus planos. Estava dando tudo certo, como ela havia previsto aqueles cinco jovens iriam salvar o mundo, mas ainda havia um longo caminho a ser percorrido, caminhos de disciplina, treinamento, aprendizado. Coisas ainda precisavam ser construídas como, confiança, respeito e unidade. Verdadeiros heróis precisam ser corajosos e ter um bom coração. O que Agnes tinha em mãos era uma geração violentada pelo estado e pela sociedade intolerante, jovens órfãos de pais, de amor e de carinho, eles tinham fome de vida. De tudo o que lhes foi negado e Agnes estava pronta para alimenta-los.

Com a colheita de informações Agnes agora sabia o que os jovens sentiam, suas vidas a Oráculo já havia previsto, o pequeno japonês que sonha em salvar as pessoas, os gêmeos que tiveram que fugir, a menina que teve que parar de sonhar e o menino que foi ensinado a roubar. "Cinco crianças" — pensou, mesmo sabendo que já eram adolescentes. Mas eles ainda tinham traços da infância que não tiveram. Agnes entendia bem o que era isso, pois a sua infância foi em um campo de concentração onde estudos eram feitos em armas, feitos nela. Não havia ser humano. Não havia sentimentos! Até que a pequena Agnes se deu conta do que era "ser" e inciou uma rebelião contra os doutores, os treinadores e os cientistas. Agora Agnes tinha a chance de fazer a rebelião na vida desses jovens e isso era o seu único motivo de existência.

Sentada em seu escritório ela terminava de scanear as últimas fichas e enviava para Marcos todo o projeto "Heróis do Amanhã" O presidente tinha presa e não entendia a profundidade e complexidade de todo o projeto, que se resumia em tornar jovens marginalizados em super heróis. Marcos tinha uma gatilho em sua mão, a lei de extermínio de E.O.S que estavam aprisionados no Complexo para estudos e contenção. O tempo estava voando e algo tinha que ser feito. "Tempo" — era a única coisa que Agnes queria que Marcos entendesse.

Como combinado César estava começando o treinamento militar com os jovens. Todos de preto, concentrados ouviam as instruções do militar e Agnes observava da janela o trabalho feito na quadra esportiva no incio da manhã.

— Prestem muita atenção! — gritou César. — Em um campo de batalha o inimigo não vai ter pena de vocês e qualquer vacilo irá significar a perda da missão e de suas vidas. Estamos em uma guerra e vocês são a arma usada! O que vamos fazer agora é mudar isso e mostrar que vocês também são seres humanos e não precisam ser o inimigo. Sentido! — César bradava as palavras e os jovens escutavam atentos e ansiosos. 

— Como você, que não tem nenhum poder, pode com a gente. Pode ensinar a gente? — disse Alice de forma petulante.
— Agora sou o seu general! Soldado peça permissão pra falar comigo e saiba usar as palavras. — dizia César encarando Alice.
— ExtraOrdinárioS não precisa pagar flexões. Tem um outro jeito especial para serem disciplinados. — do bolso da calça César tirou uma arma e atirou no rosto de Alice que caiu com o maxilar quebrado. — Nunca! Abaixe a sua guarda. — Samuel gritou e correu contra o militar. César rapidamente lançou uma bomba de gás de pimenta no rosto do Gigante o fazendo cair de joelhos atordoado. — Até vocês tem fraquezas. — Ricardo estava com as mãos em chamas. César com agilidade lhe deu uma rasteira fazendo o jovem cair de cabeça no chão. — Quando atacar  e esteja pronto para  o se defender. — Kenji estava assustado. Começou a tremer ao se lembrar dos valentões que lhe batiam na escola. Se sentiu um covarde, um bundão. Quando começou a ficar intangível um dispositivo foi arremessado nele, disparando ondas de choque que o impediam de se movimentar. — Todos vocês tem fraquezas! Eu sou a pessoa capacitada para treinar vocês até que se tornem melhores que eu. Essa é a minha missão. — César lançou um olhar para Sofia que assistia tudo, os olhos dela eram de medo. Como a jovem ainda estava sem os seus poderes e passando por uma fase de luto, foi determinado que ela apenas iria observar. — Aprenda a controlar os seus sentimentos para que eles não te destruam. — disse César, lançando um olhar de reprovação a Sofia.

— Estão dispensados. Até segunda ordem. — César estendeu a mão para Ricardo se levantar do chão. Alice estava terminando de se recuperar do seu ferimento, ela se contorcia de dor, mas não soltava um gemido sequer. Absorvia a energia vital do irmão em silêncio. Samuel estava de olhos fechados esperando para poder lavar o rosto. O dispositivo que imobilizou Kenji parou de dar descargas elétricas e ele caiu de joelhos exausto.
— Descansem, crianças. — disse César imaginando o tanto de trabalho que ainda tinha pela frente.

Agnes observava tudo de forma gloriosa. Ninguém sabia o quanto aquele treinamento seria crucial para a sobrevivência do mundo. Agnes sorriu ao ver o trabalho sendo executado. "Não a nada que determina o seu fracasso se você souber o quanto pode ser forte" — pensou se lembrando do treinamento que ela mesma tivera na ilha em que foi criada.

Cem anos de um passado presente. Estava viva com todas as lembranças daquela época. Com todas as esperanças de mudar o mundo. Usando um vestido simples de cor creme, e um salto curto a mulher elegante se direcionou para cozinha. Queria cozinhar para os seus heróis, ela não era tão boa quanto seu amigo, Miguel. Mas ele a ensinará bem como fazer um delicioso bife com batata frita. Agnes tratava os jovens em sua casa da mesma forma que ela gostaria de ter sido tratada quando tinha a idade deles, mas há cem anos os tempo eram outros, haviam rebeliões, guerras e lutas internas a serem travadas. Teve que aprender sozinha com o apoio daqueles que estavam ao seu lado para aprender também. Foi um longo processo para recuperar a humanidade.  

Vol. 1 Heróis do Amanhã - NOVA ERA   Onde histórias criam vida. Descubra agora