Alice/ Escudo

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Certamente aquelas paredes velhas fedem a mofo, o que não é tão ruim quando se está fugindo e conforto é só uma futilidade. O hotel barato era apenas mais um no caminho dos fugitivos, aquelas paredes eram um troféu, na verdade até mesmo a rua era um troféu por que estar na rua significava liberdade.

Naquele meio dia chuvoso quando o único som deveria ser da chuva fina caindo o barulho de asas batendo chamou a atenção de Alice até a janela quebrada do quarto andar. O céu cinza ganhou outras tonalidades, um bando de pássaros estavam voando, como se fugissem de alguma coisa, ao prestar atenção Alice percebeu os latidos dos cães desesperados e também as buzinas dos carros em disparada. Derrepente na pequena cidade se instaurou o caos.

— Vamos dar o fora daqui. — disse a jovem enquanto vestia um casaquinho jeans, por cima da blusa listrada preto e branco, estava com um shortinho jeans surrado e calçava tênis, e usava luvas de couro com os dedos cortados, o cabelo como sempre estava amarrado de rabo de cavalo, seu irmão a seguia sentido a garagem para pegar a moto, roubada, ele vestia uma camiseta regata preta e uma calça moleton azul escura, calçava um tênis velho, o maior número que tinha encontrado.
— Está acontecendo alguma coisa. — disse Samuel.
— Se está? Não é da nossa conta. — retrucou a irmã.
— Eu piloto. — Samuel subiu na moto vermelha e acelerou quando Alice se sentou. Arrancou com força sentido a saída daquela cidade que os escondia a alguns dias, mas Samuel não conseguia tirar da cabeça o pensamento de  que quando os problemas não os perseguem, nascem onde eles estão.

— Ei eu disse que vamos embora! —  gritou Alice quando viu que Samuel ia em direção ao centro da cidade de onde subia uma fumaça espessa e asizentada.
— Estão precisando de ajuda.
— Nós precisamos de ajuda!
— Chega. — Samuel estacionou a moto na frente do que era antes uma agência bancária, mas que agora se resumia a um monte de escombros.
— Estou cansado de fugir, de deixar as pessoas pra trás morrerem, sendo que nós podemos fazer alguma coisa. — era nítida a frustração em sua voz embargada. — Sinto muito, mas agora não é hora de fugir. — Alice ficou estática com as palavras do seu irmão. Sim ele estava certo e ela sabia disso, ela sentia orgulho da coragem dele, mas sabia que se não tinham sido pegos ainda pelo Complexo era por causa dela. Por causa da fuga.

— Um acordo. — disse a garota enfezada. — Ajudamos e depois caímos fora.
— Tudo bem. Consegue sentir algo?
— disse Samuel indo em direção ao concreto. 
— Sim. — Alice já estava usando o seu poder de uma maneira automática. Funcionava como um sensor de vitalidade.
— Ali. — apontou para o que parecia ser uma enorme parede. Samuel pegou o enorme bloco de concreto e arremessou para longe.
— Continua aí mesmo. — guiou Alice.

Depois que Samuel tirou uma enorme quantidade de escombros pode perceber que uma caverna havia se formado e protegido um jovem. Este estava desmaiado em posição fetal. Alice se aproximou e ajudou o irmão a tirar o rapaz dali. Era um homem jovem, corpo atlético, quase sem ferimentos aparentes.
— Isso é um milagre. — disse Samuel.
— Não. Isso é ExtraOrdinário. — afirmou Alice. — Ele é um de nós. E agora...— Alice foi interrompida quando Samuel se aproximou do jovem que começou a tossir.
— E aí cara. Acorda. — o jovem abriu os olhos, verdes e assustados.
— O que aconteceu?
— Esse lugar está uma bagunça. — respondeu Samuel.
— Cuidado! — gritou Alice quando um carro vinha voando em suas direções. Samuel consegui pegar o automóvel com firmeza  e o lançou para longe, mas ao invés de cair sobre o concreto o carro flutuou como se não tivesse gravidade a sua volta.
— O que está acontecendo. — disse Samuel. Todos os veículos estavam flutuando, inclusive a moto que pilotava, o metal como bolha de sabão.
— Eu disse para irmos embora.
— Não. É aqui a gente deve estar.
— Esse cara deve ter feito isso. — a tenção aumentou entre os irmãos. Eles nunca brigavam, tentavam se entender fazendo acordos e refazendo quando eram quebrados.
— Eu me chamo Ricardo e eu não fiz isso. 

Vol. 1 Heróis do Amanhã - NOVA ERA   Onde histórias criam vida. Descubra agora