"Toda mentira tem perna curta" — diz o ditado popular. Acontece que pra sustentar uma mentira, mais mentiras precisam ser criadas. Logo a própria verdade se torna uma mentira. Toda verdade merece ser revelada?
Em 2000 ataques terroristas assustaram o mundo. Eram E.O.S querendo chamar a atenção. E conseguiram. Agnes juntamento com a equipe do Complexo prenderam e também mataram todos os envolvidos. O mundo ainda não estava pronto para descobrir a verdade. Algo que mudou ao longo de quatorze anos, mudou com a reeleição de Marcos Silveira, com a ascensão de Agnes na sociedade. O mundo precisava mudar muito ainda. Mas pelo menos alguns passos já foram dados.
Nós últimos meses Agnes se escondeu da mídia acusadora, dos fanáticos e mal intencionados. A missão dela era treinar um grupo de heróis e impedir a destruição do mundo. Jovens violentados e marginalizados pela sociedade que os abomina. Jovens que se tornaram a única esperança de um amanhã.
Marcos Silveira conseguia se manter no poder com promessas e projetos para resolver os problemas da sociedade. Inimigos queriam lhe aplicar golpes, mas o presidente tinha uma carta na manga. Uma esposa clarividente para guiar os seus passos. Pra não deixar ele cair.
Estava tudo bem. Tudo no seu devido lugar. Faltava uma na mesa da jantar, mas havia outra em seu lugar.
— Está gostando? — Kendra disse sorridente a menina que comia timidamente.
— Sim. Muito obrigada. — respondeu a pequena.
— Yoco é bem vinda, Agnes? — perguntou Kenji. Ele ainda sofria o luto pela perda a avó. Estava concentrando todas as suas energias na jovem garota. Yoco era o seu porto seguro.
— Todos os E.O.S são bem vindos. — respondeu Agnes.
— Eu quero procurar a minha irmã. — disse Samuel. O jovem estava abatido desde que sua irmã tinha fugido. Alice não suportava viver na realidade.
— Ela vai voltar.
— Mas quando?
— No tempo dela. — toda calma de Agnes deixava os jovens ansiosos mais ansiosos ainda.
Yoco comia e as vezes lançava um olhar curioso em Agnes. A jovem não falava com ninguém, exceto Kenji. Agnes a acolhera e já tinha incluído ela no treinamento. Yoco tinha muita força de vontade. Era habilidosa com armas brancas e lutava bem. O seu poder extraordinário lhe permitia crise ilusões fazendo o inimigo ser motor sem aí menos perceber quem o matara. Era uma garota perigosa. Agnes lançou um olhar sobre ela. O garfo da menina caiu. Kenji prontamente pegou e lhe entregou outro. Agnes deu um sorriso. "Crianças" — pensou.
Naquela noite Agnes precisou tirar um tempo para ir até o Complexo. O lugar era imenso, preparado para suportar milhares de E.O.S poderosos e mortais. Os mais perigosos eram submetidos a catatonia, ficavam em uma espécie de coma, os menos perigosos e os que quase não representavam perigo podiam dormir em seus quartos, que também eram celas, mesmo que não tivessem cometido nenhum crime. Agnes sabia disso. Que inocentes estavam presos. O que os inocentes não sabiam é que estavam sendo protegidos. Até o dia da libertação. Um dia que a clarividente anciava com todas as suas forças. ExtraOrdinárioS estavam sendo caçados e mortos todos os dias por grupos de exterminadores sedentos de ódio, cegos pela ignorância. Agnes já tinha lutado muitas batalhas. Primeiro perseguiu os fugitivos da ilha onde foram criados, perseguiu porque eram perigosos e queriam libertar Lucius, não aceitavam a derrota do Primeiro, daquele que queria dominar o mundo. Guerra, sangue e morte. Agnes não poupou ninguém, para poder poupar o amanhã. Abriu mão de seu lar na ilha para perseguir aqueles que causariam inúmeros problemas a sociedade. Não foi suficiente. Teve que construir o Complexo ao lado de Carlos Silveira, o grande amor de sua vida. O Complexo de início servia apenas para conter E.O.S violentos, mas o grupo que Agnes precisou recrutar para ajuda-la decidiu que os E.O.S precisavam também ser estudados.
Assim que seu carro foi liberado Agnes dirigiu por entre as ruas até chegar no estacionamento da entrada principal. Ela não queria falar com ninguém. Não veio para isso. Caminhou a passos apressados por entre as instalações até ter acesso ao quarto de Ariana. Precisava de um momento a sós com as sombras.
Adentrou o quarto vazio. Se sentou na cama que ainda tinha os mesmos cobertores. Era possível sentir o cheiro de Ariana ainda presente em cada parte do quarto. Tinha ficado presa por muitos anos. Estava condenada a morte por velhice. Mas Ariana sempre fora impulsiva e não desistia de algo que queria. Jamais ia desistir de Lucius, o seu marido, líder e criador. Todos os ExtraOrdinárioS foram criados a partir do DNA de Lucius, o clone. Ninguém falava sobre a origem dos "Ossos" As vezes Agnes olhava para o céu escuro e pensava que lá era o lugar mais óbvio. A clarividência não lhe mostrava nada. Isso era algo aliviador para Agnes. Ela nunca quis saber de tudo. Nada que tivesse relação com Lucius aparecia para ela. Ele sempre fora um mistério. Sua origem nunca foi revelada.
Depois de um tempo na escuridão sentido o cheiro da irmã. Agnes percebeu as sombras se mexerem. A presença de Ariana era apenas mental. Mas ela estava lá. As duas estavam lado a lado.
"Você é sádica" — a voz de Ariana era clara na cabeça de Agnes.
"Nunca fui" — Agnes respondeu quase movendo sem necessidade os lábios.
"Por que aqui?" — questionou Ariana.
"Por que sei que aqui você nunca mais vai entrar" — Agnes se sentiu fora ao dizer isso. Ariana começou a gargalhar.
"Sádica maldita!" — gargalhava. Meltalmente Ariana ainda tinha forças. "Aqui foi a minha primeira prisão, aqui eu fui maculada, mexeram em minhas estruturas".
"Sim. Essa foi a sua condenação".
"Ah! Claro, sim. Condenada! Eu gostaria de te condenar também".
"Você não ganhou a guerra". — um pequeno silêncio cresceu entre as duas. Agnes não estava ali para recordar o passado. Mas isso era impossível quando falava com Ariana.
"Haverá outra!"
"É isso que queira impedir"
"E pode?"
"Não" — Agnes respondeu serena. Não havia outra resposta. "Mas ainda posso ganha-la".
"Me mostrar o caminho para casa".
"Não. Não vou te dar isso".
"Então eu pego". — as sombras trêmulas ficaram estagnadas.
"Espere! Por favor". — o silêncio sepulcral fez Agnes se levantar.
"Eu preciso que entenda uma coisa. Não precisava ser assim. Não precisamos de uma guerra, nem de dois grupos opostos. O mundo é muito grande. Podemos criar nossa pátria, nossa nação. Ainda existe uma esperança". — Agnes sentia que estava falando sozinha. A presença de Ariana era nula. Depois de um tempo caminhou. Abriu a porta. Um feixe da luz do corredor entrou.
"Tá aí. Uma coisa que eu não gosto. Esperança!". — Agnes ouviu a voz de sua irmã na sua cabeça. Fechou a porta e se pôs de volta para seus heróis. Para algo inevitável. A guerra.
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Vol. 1 Heróis do Amanhã - NOVA ERA
ActionO mundo mudou. Cientistas em laboratório alteram o código genético fazendo nascer pessoas ExtraOrdináriaS. A humanidade tem medo do desconhecido e aquilo que temem quererem destruir. A Oráculo, Agnes Agnel prevê um futuro desastroso, mas também vê...