Capítulo 5

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Eu tentei convence-los de qualquer jeito, mas eles sempre vinham com uma desculpa, primeiro disseram que nós precisávamos ir passar o verão com o tio Bobby, para aprender sobe os negócios da família, e nenhum dos dois queriam ir pra lá também, e nós não podíamos ir sozinhos. Os únicos argumentos que pareciam saudáveis a favor da viagem foram coisas como "nós queremos conhecer melhor a história da família", o nunca convincente "Chad Kramer e Josh Bell vão para a Europa este verão, por que eu não posso ir?" e o "mas vocês não me deram presente de aniversário ano passado, e eu fiz 18 anos", mas basicamente parecia que não ia rolar.

Quando eu já estava desistindo tudo começou a acontecer á nosso favor, primeiro tio Bobby disse que estava com medo que Jake tivesse algum surto psicótico e eu disse que não iria pra lá sem ele, depois papai descobriu que Cairnholm era um santuário de aves superimportante e que metade da população de certo pássaro que o deixa com tesão ornitológico (pessoas que estudam pássaros) total vive lá. Ele começou a falar muito desse hipotético livro novo sobre aves, e sempre que o assunto surgia nós fazíamos o máximo para encorajá-lo e demonstrar interesse. Mas o principal fator que nos ajudou foi dr. Golan, que disse que essa viajem ia fazer bem pro Jake, pois segundo ele, -- Isso pode ser importante — disse ele para minha mãe, certa tarde após uma sessão. — É um lugar que foi tão mitificado pelo avô que uma visita só pode servir para desmitificá-lo. Ele vai ver que é apenas uma ilha normal e sem magia como qualquer outro lugar, e as fantasias de seu avô, por consequência, vão perder força. Pode ser um modo bastante eficaz de combater fantasia com realidade. – Muito obrigada Dr.

Depois daquilo, as peças se encaixaram com velocidade impressionante. As passagens de avião foram compradas, os horários marcados e todos os preparativos feitos. Meu pai, eu e Jake iríamos passar três semanas na ilha em junho. Provavelmente seria tempo demais, mas meu pai alegou que precisava de pelo menos esse período para fazer um estudo das colônias de aves do lugar. Achei que mamãe fosse fazer objeções, mas, quanto mais nossa viagem se aproximava, mais animada ela parecia.

Achei esse entusiasmo um tanto tocante, na verdade — até a tarde em que a escutei conversando pelo telefone com uma amiga, confessando o quanto estava aliviada por "ter sua vida de volta" por três semanas e não ter "duas crianças necessitadas com quem se preocupar".

Durante a janela de três semanas entre o fim das aulas do meu irmão e o início de nossa viagem, ele fez o possível para descobrir se a srta. Alma LeFay Peregrine ainda residia no mundo dos vivos, mas as buscas na internet não deram em nada. Porque, bom, não existia internet na fenda, e a ilha tinha apenas um telefone, que era de um bar. Jake uma vez ligou para lá, mas só se decepcionou, pois, a ligação era péssima e ele não conseguiu descobrir nada.

...

Finalmente o dia chegou e quando menos percebi já estava na balsa chegando na ilha, a neblina se fechou em torno de nós quando o capitão anunciou que estávamos quase chegando, no início achei que ele estivesse de brincadeira. Tudo o que eu conseguia ver do convés, que não parava de se mexer, era uma infinita cortina cinzenta. Jake estava quase vomitando na agua e papai estava tremendo de frio ao meu lado.

Estava mais frio e úmido do que jamais imaginei que junho pudesse ser. Eu esperava, pelo meu bem e pelo dele, que as 36 horas de sofrimento enfrentadas bravamente por nós para chegar até ali — três aviões, duas conexões, cochilos em estações de trem imundas e agora essa viagem de balsa — valessem a pena. Então meu pai exclamou:

— Veja! — E eu vi uma enorme montanha rochosa emergir da tela em branco à nossa frente. Finalmente consegui chegar na ilha, estava muito animada com isso. Agigantando-se cinzenta, envolta pela névoa, guardada por um milhão de pássaros que não paravam de piar, ela parecia uma fortaleza antiga construída por gigantes. Enquanto eu erguia os olhos para seus penhascos escarpados, cujos cumes desapareciam em um recife de nuvens fantasmagóricas, a ideia de que esse era um lugar mágico não parecia tão ridícula. Agora, só falta achar a fenda!

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