Passamos por uma porta pendurada nas dobradiças e entramos em um mar de podridão escura e fedorenta. Quando pisamos no chão, nossos pés afundaram naquela imundície nojenta, e aí me dei conta de onde estávamos.
— O que é isso? — murmurou Enoch, e foi quando o som da respiração de um animal nos deu um grande susto. O lugar estava cheio de ovelhas, que, como nós, buscavam abrigo naquela noite pouco amistosa. Conforme nossa vista se acostumou com a escuridão, vimos o brilho nos olhos delas, que nos miravam. Dúzias e dúzias delas.
— Isto é o que acho que é? — perguntou ele, levantando um pé cuidadosamente.
— Não pense nisso — retruquei. — Vamos, precisamos nos afastar da porta.
Tomei-o pela mão e entramos na casa, serpenteando em meio a um labirinto de animais nervosos que se esquivavam ao nosso toque. Seguimos por um corredor estreito e chegamos a uma sala com uma janela alta e uma porta ainda presa ao batente e fechada contra a noite, que era melhor do que todos os outros aposentos. Fomos até o canto mais distante e nos agachamos para esperar e escutar, escondidos atrás de um muro de ovelhas inquietas.
Tentamos não afundar demais na sujeira do chão, mas na verdade não havia como evitá-la. Após um minuto sem conseguir ver nada, comecei a distinguir algumas formas ali dentro. Havia caixas e caixotes empilhados num canto e ferramentas enferrujadas apoiadas contra a parede às nossas costas. Procurei algo afiado o bastante para servir de arma. Vi algo parecido com uma tesoura gigante e me levantei para apanhá-lo.
— Está pensando em tosquiar alguma ovelha? — disse Enoch, sarcástico.
— É melhor que nada.
Quando Enoch pegava a tesoura da parede, ouvi um barulho do outro lado da janela. As ovelhas recuaram assustadas e, nervosas. Então uma língua negra e comprida penetrou pela moldura sem vidro. Agachei-me no maior silêncio possível. Coloquei a mão na boca para silenciar a respiração. A língua examinou o aposento como se fosse um periscópio. As ovelhas se encolhiam para longe dela. A língua parecia provar o ar à nossa procura. Por sorte, tínhamos nos escondido no aposento mais fedorento da ilha. Todo o odor das ovelhas deve ter mascarado o nosso cheiro, porque, após um minuto, a língua pareceu desistir, enrolou-se para fora da janela outra vez, e ouvimos os passos da criatura se afastando. Nós dois soltamos a respiração ao mesmo tempo.
— Quero que saiba uma coisa — disse eu. — Se escaparmos desta, vou ficar aqui.
Ele colocou a mão no meu rosto.
— Está falando sério?
— Não posso voltar para casa, não depois do que aconteceu. E depois, eu devo a vocês toda a ajuda possível e muito mais. Vocês estavam perfeitamente seguros até nós chegarmos aqui.
— Se passarmos por isso — disse ele, inclinando-se para mim —, eu não me arrependerei de nada.
Então algum ímã estranho fez com que nossos rostos se atraíssem e começamos a nos beijar, mesmo nessa situação meio nojenta. Por um momento tudo pareceu parar e me esqueci de onde estávamos agachados e da criatura que estava em nossa caça. Podíamos
estar em qualquer lugar, ele e eu, duas pessoas já não distantes, com os lábios grudados, até que nosso momento foi estilhaçado por balidos agudos e aterrorizados vindos do outro aposento. Nós nos afastamos no momento em que o barulho apavorante agitou as ovelhas ao nosso redor, fazendo-as se chocar umas contra as outras e nos imprensar contra a parede.
Com certeza a fera não era tão burra quanto eu esperava. Podíamos ouvi-la atravessando a casa em nossa direção. Se havia tempo para correr, esse momento tinha passado. Nós nos enfiamos na lama fétida para nos esconder e torcemos para que a sombra da morte não nos percebesse.
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Peculiar history
FanficUma historia sobre os livros do Orfanato da sta. Peregrine para crianças peculiares mas na visão da irmã mais velha de Jacob Portman, porém, mais focada em um romance um tanto quanto peculiar. Emoção, drama, romance, são algumas das sensações que vo...