Os ilhéus costumavam fazer pronunciamentos sombrios sobre o que a Mãe Natureza tinha reservado para Cairnholm — afinal de contas, estavam todos à mercê do clima, e eram naturalmente pessimistas —, mas desta vez seus piores temores se confirmaram. O vento e a chuva que tinham fustigado a ilha durante toda a semana ficaram mais fortes naquela noite e se transformaram em um bando sinistro de nuvens de tempestade que se aproximavam, negras, no céu e transformavam em espuma as águas do mar. Em meio a rumores sobre Martin ter sido assassinado e sobre o clima, a cidade se fechou de modo mais ou menos semelhante à casa onde viviam as crianças. As pessoas ficaram confinadas em suas residências. As janelas foram fechadas e as portas, bem trancadas e bloqueadas. Os barcos batiam contra seus atracadouros com as ondas pesadas, mas nenhum deixou a baía; sair para o mar naquele clima seria suicídio. E, como a polícia do continente não podia recolher o corpo de Martin até que o mar se acalmasse, ele foi guardado no gelo, nos fundos da peixaria. Eu estava sob ordens estritas de meu pai para não deixar o Buraco do Padre, mas também tinha instruções de contar qualquer acontecimento estranho à srta. Peregrine, e, se uma morte suspeita não fosse um acontecimento estranho, nada mais seria.
Por isso naquela noite fingi que estava meio gripada e me tranquei no quarto com meu irmão, jake me ajudou com o plano, ele fingiu que ia ficar comigo se eu precisasse de alguma coisa e então saímos pela janela e descemos pela calha até o chão. Ninguém mais seria idiota o bastante para estar fora de casa, por isso saímos correndo pela trilha principal sem medo de sermos vistos, com o capuz da capa de chuva bem preso em torno do
rosto para me proteger da chuva de vento.
Quando chegamos à casa, a srta. Peregrine nos olhou e logo soube que havia algo errado.
— O que aconteceu? — perguntou, com os olhos injetados fixos em mim.
Contei tudo a ela, um resumo de todos os fatos e rumores que escutara, e seu rosto empalideceu. Ela apressou-se a me levar para a sala de estar, onde, em pânico, reuniu todas as crianças que pôde encontrar e, em seguida, saiu andando a passos largos para procurar as poucas que, aparentemente, ignoraram seus gritos. O restante foi deixado ali, sem saber o que estava acontecendo.
Emma e Enoch me deram uma prensa.
— Por que ela está tão nervosa assim? — perguntou Enoch.
Contei a eles sobre Martin em voz baixa e cautelosa. Enoch inspirou fundo e Emma cruzou os braços, preocupada.
— É mesmo tão ruim assim? — Jake perguntou. — Quero dizer, não podem ter sido etéreos; eles só caçam peculiares, certo?
— Você conta a eles ou quer que eu faça isso? — resmungou Emma.
— Os etéreos preferem peculiares a pessoas comuns — explicou Enoch —, mas eles comem praticamente qualquer coisa para se sustentar, desde que seja fresco e tenha carne.
— É uma das maneiras de saber se há etéreos por perto — disse Emma. — Os corpos vão se amontoando. É por isso que eles são essencialmente nômades. Se eles não mudassem sempre de lugar, seria simples rastreá-los.
— Com que frequência — perguntei, com um frio subindo pela espinha — eles precisam comer?
— Com muita frequência — disse Enoch. — Arranjar as refeições dos etéreos toma a maior parte do tempo dos acólitos. Eles procuram peculiares quando podem, mas uma enorme porção de sua energia e trabalho é gasta em busca de vítimas comuns para os etéreos, tanto animais quanto humanos, e depois para esconder a sujeira. — O tom de Enoch era macabro, como se contasse uma história de terror em uma roda de amigos.
— Mas os acólitos nunca são pegos? — Jake perguntou. — Quero dizer, se eles ajudam a assassinar pessoas, é de esperar que...
— Às vezes são — disse Emma. — Aposto que você já ouviu falar de alguns deles, se acompanha o noticiário. Um sujeito foi encontrado com cabeças humanas guardadas na geladeira e pedaços de tripas e entranhas em uma panela sobre fogo baixo, como se estivesse preparando uma ceia de Natal. Na sua época, não deve ter sido há muito tempo.
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Peculiar history
FanfictionUma historia sobre os livros do Orfanato da sta. Peregrine para crianças peculiares mas na visão da irmã mais velha de Jacob Portman, porém, mais focada em um romance um tanto quanto peculiar. Emoção, drama, romance, são algumas das sensações que vo...