Capítulo 25

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— Não tente fazer com que eu me sinta melhor! — disse ela. — Isso está acontecendo por sua culpa!

— Há dez minutos você estava me agradecendo! — exclamei.

— Há dez minutos a senhorita Peregrine não tinha sido raptada! — respondeu ela aos berros.

— Emma para de gritar com ela! — interveio Enoch. — O que importa agora é que a Ave sumiu e precisamos trazê-la de volta.

— Isso mesmo — disse eu. — Então vamos pensar. Se vocês fossem acólitos, para onde levariam duas ymbrynes raptadas?

— Depende do que eu quisesse fazer com elas — respondeu Enoch —, e isso nós não sabemos.

— Antes de tudo, seria preciso tirá-las da ilha — disse Emma. — Nesse caso, eu precisaria de um barco.

— Mas que ilha? — perguntou Jake. — Dentro ou fora da fenda?

— Lá fora a ilha está embaixo de uma tempestade — falei. — Ninguém consegue ir longe de barco por lá.

— Então ele deve estar deste lado — disse Emma, começando a parecer esperançosa. — O que estamos fazendo aqui parados? Vamos até as docas!

— Talvez ele esteja nas docas — resmungou Enoch —, se é que ainda não foi embora. E, mesmo que não tenha ido e a gente consiga encontrá-lo no meio dessa escuridão toda, sem sermos esburacados por estilhaços de bombas no caminho, ainda temos de nos preocupar com a arma dele. Vocês enlouqueceram? Preferem que a Ave seja sequestrada ou morta a tiros na nossa frente?

— Está bem! — exclamou Hugh. — Vamos desistir e voltar para casa, combinado? Quem quer uma xícara quentinha de chá antes de dormir? Droga, já que a Ave não está em casa, podemos preparar um drinque! — Ele chorava, e enxugou os olhos num gesto enfurecido. — Como vocês podem deixar de sequer tentar, depois de tudo o que ela fez por nós?

Antes que Enoch pudesse responder, ouvimos alguém na trilha gritando por nós. Hugh se adiantou, tentando ver o que era, e depois de um instante sua expressão ficou estranha.

— É Fiona — disse ele.

Até aquele momento, eu não tinha ouvido Fiona dar nem um pio. Era, porém, impossível entender o que ela dizia em meio ao barulho de aviões e explosões distantes, por isso fomos correndo pelo lamaçal até ela. Quando chegamos à trilha, estávamos ofegantes, e Fiona, rouca de tanto gritar, seus olhos tão estranhos quanto seu cabelo. Ela imediatamente começou a nos puxar, a nos arrastar na direção da trilha para a cidade, gritando em tamanho frenesi com seu sotaque irlandês que nenhum de nós conseguia entender o que dizia. Hugh a segurou pelos ombros e lhe disse para ir mais devagar. Ela respirou fundo, tremendo como vara verde, e apontou para trás.

— Millard o seguiu! — disse ela. — Ele estava escondido quando o homem trancou todos nós no porão, e, quando foi embora, Millard foi atrás dele.

— Para onde? — perguntei.

— Ele pegou um barco.

— Viram?! As docas! — exclamou Emma.

— Não — disse Fiona. — Era o seu barco, Emma, que você achava ser um segredo, o que você esconde naquela sua prainha.

— Oh — disse ela baixinho.

— Ele partiu no barco com a gaiola, mas começou a remar em círculos. E, quando a correnteza ficou forte demais, ele desembarcou na rocha do farol, e é lá que ainda está.

Corremos o mais rápido possível até o farol. Quando chegamos aos penhascos de onde podíamos vê-lo, descobrimos o resto das crianças perto da beirada, atrás de um capinzal.

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