Nós nos viramos para voltar, humilhados. Em vez de andar abaixada, abandonei o que restava da minha dignidade e fui engatinhando, na direção da luz que vinha da entrada do túnel. Nós saímos do túnel apertado do cairn e fomos para o exterior só para sermos cegados pela luz. Protegi os olhos e vi por uma fresta entre os dedos um mundo que eu mal reconheci: a mesma trilha, tudo era o mesmo de antes, mas pela primeira vez desde a nossa chegada estava tudo iluminado pela luz amarela e estimulante do sol, o céu azul glacê, sem qualquer vestígio, em lugar nenhum, da neblina esquisita que passara a definir aquela parte da ilha. Também estava quente, mais para os dias de auge do verão do que para os de seu princípio, com sua brisa fresca. -- Como o tempo muda rápido por aqui! – disse, mas jake estava tão chateado que nem ligou.
Caminhamos com dificuldade até a trilha, tentando ignorar a sensação da lama da charneca se esfregando contra a pele dentro de minhas meias, e tomei o rumo da cidade. Estranhamente, a trilha em si não tinha nenhuma lama, como se houvesse secado em apenas alguns minutos, e também não havia o zumbido permanente dos geradores a diesel. Será que a cidade tinha ficado sem combustível nas poucas horas em que nós saimos?
Mais uma coisa: por que todos eles estavam nos olhando? Todo mundo com quem eu cruzava me encarava de olhos arregalados, parando o que quer que estivesse fazendo para me ver passar. Devo parecer tão louca quanto estou me sentindo, coberta de lama da cintura para baixo e de gesso da cintura para cima, por isso baixei a cabeça e andei o mais rápido que pude na direção do pub, onde ao menos eu podia me esconder até a chegada do meu pai para o almoço.
Dentro do Buraco havia o mesmo grupo de homens embriagados debruçados sobre copos grandes cheios de espuma, as mesmas mesas surradas e a decoração cafona que eu tinha começado a considerar minha casa-longe-de casa. Mas, quando nos íamos até às escadas, ouvi uma voz desconhecida gritar:
— Aonde vocês pensam que vão?
Eu me virei, já com um pé no primeiro degrau, para ver o balconista nos olhar de cima a baixo. Só que não era Kev. Era um sujeito mal-encarado e de cara redonda que eu não reconheci. Ele vestia um avental de balconista e tinha uma "monocelha" peluda e um bigode que pareciam taturanas e deixavam seu rosto listrado. Respondi — Para o meu quarto. — Isso falado de um jeito que mais parecia uma pergunta que a afirmação de um fato.
— É mesmo? — disse ele, pousando o copo que estava enchendo. — Isso aqui, por acaso, parece um hotel para você?
Madeiras rangeram quando os fregueses viraram de seus bancos para me olhar. Examinei rapidamente o rosto deles. Nenhum era familiar. Era como se o mundo inteiro tivesse enlouquecido. Disse ao barman que obviamente havia algum engano.
— Meu pai, eu e minha irmã estamos nos quartos do andar de cima — falou Jake. — Olhe, tenho a chave — e a pegou do bolso como prova.
— Deixa eu ver isso — disse ele, inclinando-se sobre o balcão para apanhá-la da mão. Ergueu-a contra a luz fraca, olhando como se fosse uma joia. — Essa chave não é nossa — resmungou, mas guardou-a no próprio bolso. — Agora me diga o que realmente querem lá em cima. E, desta vez, não minta!
Nunca havia sido chamado de mentiroso por um adulto que não fosse meu parente antes.
— Já disse para você. Alugamos esses quartos! Pergunte para Kev se não acredita em mim! –disse Jake envergonhado.
— Não conheço nenhum Kev e não gosto de historinhas — disse ele friamente. — Não há quartos para alugar por aqui e o único que vive lá em cima sou eu!
Olhei ao redor esperando que alguém abrisse um sorriso e me deixasse entrar na brincadeira. Mas o rosto dos homens parecia de pedra.
— Eles são americanos — observou um homem que ostentava uma barba prodigiosa. Talvez do exército.
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Peculiar history
FanfictionUma historia sobre os livros do Orfanato da sta. Peregrine para crianças peculiares mas na visão da irmã mais velha de Jacob Portman, porém, mais focada em um romance um tanto quanto peculiar. Emoção, drama, romance, são algumas das sensações que vo...