Chegamos de volta à cidade pouco antes do amanhecer. A chuva tinha finalmente diminuído e o início de um dia de céu azul anunciava-se no horizonte. A trilha principal parecia um braço com as veias arrancadas, com valas compridas onde a enxurrada lavara o cascalho.
Atravessamos o bar vazio e subimos até nossos quartos. As persianas estavam abaixadas e a porta de nosso pai, fechada, o que era um alívio, porque eu ainda não tinha ideia de como contar o que precisava contar para ele em voz alta. Em vez disso, sentei-me com bloco e caneta e lhe escrevi uma carta.
Tentei explicar tudo. Escrevi sobre as crianças peculiares e os etéreos, e como todas as histórias do vovô Portman eram verdadeiras verdadeiras. Contei a ele o que tinha acontecido com a srta. Peregrine e a srta. Avocet e tentei fazê-lo entender por que nós tínhamos de ir. Implorei que não se preocupasse. Expliquei que Jake ia junto e que eu ia cuidar dele. Também contei que era peculiar, e que vovô sabia.
Então parei, reli o que tinha escrito, amassei o papel e o joguei no lixo. Ele nunca acreditaria. Ia achar que eu tinha enlouquecido de vez como o vovô, ou
que eu tinha fugido e sequestrado Jake, ou pulado de algum penhasco. De qualquer jeito, eu estava a prestes a acabar com a vida dele.
— Jacob, Luana?
Eu me virei na cadeira. Meu pai estava apoiado no batente da porta de seu quarto, com olhos baços, os cabelos despenteados após o sono, vestido com jeans e uma camisa suja de lama.
— Oi, pai. — eu disse.
— Vou fazer a você uma pergunta simples e direta, e gostaria de uma resposta simples e direta. Onde vocês estiveram a noite passada?
Eu podia ver que ele estava se esforçando para manter a compostura.
— Com meus amigos — Jake respondeu.
Foi como se eu tivesse puxado o pino de uma granada.
— SEUS AMIGOS SÃO IMAGINÁRIOS! — gritou ele. Veio em nossa direção, o rosto se encolerizado. — Queria que sua mãe e eu nunca tivéssemos nos deixado convencer por aquele terapeuta maluco a trazer vocês aqui, porque isso tem sido um completo desastre! Você mentiu para mim pela última vez! Agora vá para o seu quarto e comece a fazer as malas. Vamos embora na primeira barca!
— Pai? — eu intervi.
— E quando chegarmos você só vai sair de casa quando acharmos um
psiquiatra que não seja um imbecil completo! E Luana, eu esperava que fosse responsável e não alimentasse essas ilusões do seu irmão!
— Pai!
Por um instante pensei que talvez tivesse de fugir dele correndo. Visualizei meu pai me segurando no chão e gritando por ajuda, e, em seguida, me enfiando na barca preso numa camisa de força.
— Nós não vamos com você.
Ele apertou os olhos e inclinou a cabeça, como se não tivesse ouvido direito. Eu ia começar a repetir quando alguém bateu à porta.
— Vá embora! — gritou meu pai.
Ouvimos outra batida, dessa vez mais insistente. Ele correu até lá e a abriu, e ali, no alto das escadas, estava Emma, com uma pequena bola de chama azul dançando acima da mão, Enoch e Olive.
— Olá — disse Olive. — Viemos aqui falar com Jacob e Luana.
Ele ficou atônito, olhando fixamente para os três.
— O que é isso...
Eles passaram por ele e entraram.
— O que vocês estão fazendo aqui? — chiei com eles.
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Peculiar history
FanfictionUma historia sobre os livros do Orfanato da sta. Peregrine para crianças peculiares mas na visão da irmã mais velha de Jacob Portman, porém, mais focada em um romance um tanto quanto peculiar. Emoção, drama, romance, são algumas das sensações que vo...